Sei que de um ponto de vista realista (e portanto, pessimista) em relação aos governos, em especial ao governo brasileiro, o texto abaixo soa completamente fora da realidade. Porém, mesmo assim, esta tem sido a visão que tenho procurado manter a respeito do assunto impostos, governo e economia.

Sim, eu sei…

Sei que muito do dinheiro que o governo arrecada, acaba caindo em bolsos particulares. Isso é de fato uma lástima e deve ser combatido.

Porém nem todo o dinheiro vai para esses bolsos privados. Muito dele retorna para a sociedade e para o povo.

Nós costumamos reclamar MUITO sempre que pagamos impostos. Mas talvez percamos um pouco desse impulso para reclamar se pensarmos que esse dinheiro que agora se vai para os cofres públicos acaba voltando para nós de um jeito ou de outro.

– O dinheiro dos nossos impostos paga o salário de milhares de funcionários públicos. São administradores, médicos, professores. Gente que oferece serviços básicos e essenciais para a população. Muito provavelmente você já usufruiu de seus serviços e nem perguntou quanto foi. E o dinheiro que recebem de salário acaba retornando para a economia, isto é, para o seu comércio, para a sua empresa, gerando empregos e lucros. Afinal, o funcionalismo público, em sua maioria, não pode se dar ao luxo de ficar guardando o próprio salário em cofres.

– Esse dinheiro também paga a construção de toda uma infra-estrutura urbana, que não custa pouco. Vai andar por esse Brasil, vai! E estranhará ao se deparar com estradas pavimentadas ligando os mais longínquos rincões e as mais isoladas populações aos seus municípios vizinhos. Há uma enorme malha asfáltica percorrendo esse país, cujo custo de implantação e manutenção não foi e não é cobrado diretamente de nós (a não ser onde há cobranças de pedágio).

– Vi outro dia no JN que por ano são efetuadas no Brasil milhares de cirurgias de transplantes, de rins, córneas, coração, e outros órgãos. E quantos outros tantos procedimentos o SUS cobre? Devem ser muitos, não? E quanto custa tudo isso? Não sai barato, médicos são caros, cirurgias são caríssimas, mas quem paga é o SUS, com o dinheiro que a sociedade paga através de impostos.

Bolsa-família. Ah, o bolsa-família, esse sustentáculo de vagabundos. Você pensa assim? Então sinta vergonha. Você não acredita mesmo que uma família vá se sustentar com apenas 100 reais, que é a média do que o programa paga às famílias, acredita? O programa é apenas um auxílio e, sim, sei que muita gente o recebe de forma indevida, porém prefiro enxergar a imensa maioria de pessoas que realmente tiveram suas vidas melhoradas com essa quantia ínfima. De fato, ninguém que receba o bolsa-família guarda o dinheiro para si. Certamente ele é utilizado para comprar itens básicos, na mercearia da esquina, ajudando a girar, mais uma vez, a roda da economia. Vários textos sobre o tema.

– Cerca de metade do orçamento governamental é destinado para o pagamento da previdência social, isto é, das aposentadorias. Milhões de brasileiros, idosos ou inválidos, se sustentam através desse dinheiro. Todos nós temos alguma parente que se beneficia desse recurso fundamental. E mais uma vez, vale lembrar que esse dinheiro pago em sua grande maioria através de salários mínimos muito provavelmente não é guardado, e sim, redirecionado para a economia que o gerou.

Enfim, o que quero dizer é que pagar impostos, além de exercer a cidadania, é também uma forma de se exercer um tipo de caridade, um tipo de colaboração com a manutenção do mundo no qual vivemos. Ao pagar, talvez não seja muito razoável se apegar ao dinheiro, nem xingar o governo de ladrão. É verdade que muitos desviam, mas acredito, aqui comigo, que eles responderão por isso, cedo ou tarde. Por outro lado, o nosso dinheiro acaba colaborando e proporcionando todo um giro na sociedade, cujo motor é o Governo. E, acredito, a maioria dos beneficiados nesse giro são os mais pobres.

No fim tudo se torna uma questão de reconhecimento, gratidão e desprendimento. É intrínseco à natureza do dinheiro que parte dele não seja nosso. Mas você escolhe: Ou se desfaz dele à força, reclamando e xingando, ou se desfaz por bem, pagando seus impostos com naturalidade, desejando que seu dinheiro seja bem direcionado na construção e manutenção dessa grande família da qual fazemos parte, a família brasileira.