O inferno são os outros

A frase acima é atribuída ao filósofo Sartre.

Desconheço o contexto sob o qual foi enunciada, porém isolada, se adequa perfeitamente a este longo tema. A figura do outro em nossa vida tanto pode soar angelical como muito mais provavelmente… infernal.

Este texto trata da figura do outro na nossa vida, figura esta importantíssima, para o bem e para o mal. Como convivemos a vida inteira rodeados de outras pessoas, é fundamental que saibamos como lidar com elas adequadamente. Para tanto, este texto foi amplamente baseado no ponto de vista incisivo de Luiz Gasparetto apreendido em suas palestras, vídeos, livros e outros trabalhos.

Dessa forma os parágrafos que seguem mais abaixo foram amplamente constituídos de uma série de recortes de suas frases e pensamentos. Num primeiro momento, aparenta ser uma mensagem profundamente egoísta, bastante politicamente incorreta.

Talvez seja mesmo.

Porém acredito que num mundo onde a maioria das pessoas é oprimida diariamente pelos mais diversos meios como, mídia, religiões, governos, sistema de trabalho, etc, é justamente de uma mensagem de auto-defesa assim que precisam. Os mais fracos precisam aprender a se defender. E os mais fortes precisam ensiná-los a se defender em vez de carregarem a culpa que a mensagem cristã lhes impõe fazendo-os acreditar que devem renunciar às coisas para fazerem os mais fracos felizes.

Ninguém consegue fazer o outro VERDADEIRAMENTE feliz.

Todos precisamos ser mais guerreiros, mais briguentos e aprendermos a lutar por nosso espaço e nossa felicidade. Não podemos esperar que os outros se lembrem de nós. Isso pode demorar a acontecer. É notório que as pessoas mais bem sucedidas que conhecemos são aquelas que defendem antes de tudo suas próprias visões e posições e ainda acabam sendo tachadas justamente de… egoístas! O que você prefere? Ser um egoísta materialista bem posicionado aqui neste planeta, o qual todos sabemos que existe, ou um espiritualista abnegado – e capacho dos outros – com um lugar garantido no… céu?

Quem são os outros?

Lidamos com os outros em nossa vida sob duas posturas: Alguns vivem a ânsia de controlar os outros, e estes outros, vivem a angústia de serem controlados, ou oprimidos, pelos primeiros, os controladores. Vamos comentar brevemente os primeiros, os controladores, no parágrafo seguinte, e extensamente os controlados, nos parágrafos subsequentes.

Os outros fazem tudo errado

É fácil compreender o que move os neuróticos que prestam mais atenção na vida alheia do que na própria. É muito mais FÁCIL cuidar e resolver a vida dos outros do que a própria vida, não é? Mas é um caminho de igual sofrimento. Quanto mais nos apegamos aos outros, mais podamos nossa própria liberdade. Experimente largar a necessidade de se estar o tempo todo cuidando dos outros e experimentará uma leve e estranha liberdade.

Ora, na dificuldade de cuidar da  sua própria vida, você pode ter se ocupado com a vida dos outros, sejam cônjuges, filhos, pais, amigos, etc. Mas e se eu lhe contar que talvez você não seja tão necessário assim na vida deles? Sim, eles PODEM andar com as próprias pernas, sem você como muleta, e SIM, muito certamente eles não precisam de você tanto quanto você supõe. E então, o que vai fazer consigo mesmo(a) a partir de então?

Sugere-se aqui uma postura mais generosa de sua parte. Ser generoso é soltar as pessoas, libertá-las, deixar ser o que são, pensarem o que quiserem, caírem e levantarem, aprenderem por conta, não ligar… tem a ver com tolerância. Não tem jeito, cedo ou tarde, você vai ter que deixar que eles sigam a vida por conta própria e vai ter que olhar para si mesmo, e cuidar de si mesmo.

E tão aprisionador quanto tentar controlar os outros, é deixar-se controlar por eles:

Ai meu Deus, o que os outros vão pensar?

Quem nunca se pegou pronunciando ou pensando assim? Que lástima, hein? Quantas coisas já deixamos de fazer por causa do que o outro está pensando? Ou para não incomodar? Sim, muitas. Mas eu tenho uma triste informação para você: Tanto medo, tanto receio, tanta prudência foi, é e será em vão. Você nunca será recompensado por se moldar aos outros. Não dá para levar o outro a sério, eles dizem uma coisa e fazem outra.

Ninguém é confiável, todos somos assim. Isso se chama hipocrisia e é uma das posturas mais presentes no comportamento das pessoas em sociedade. E aposto que a maioria nem age assim por mal. Estão apenas se defendendo. Só não podemos levar a sério quem mal sabe o que está dizendo, ou diz porque ouviu alguém dizendo. De certa forma é até natural que a opinião do outro, principalmente daquele do qual dependemos emocional ou financeiramente, tenha muita importância para nós.

Mas devemos selecionar melhor o que ouvimos. “Se palpite fosse bom, ninguém dava, vendia.” Você não precisa seguir TUDO o que dizem, também não precisa nem do dinheiro, nem do amor deles. Você pode, e mais cedo ou mais tarde, você VAI ter os seus. Você só tem um caminho à sua frente: o caminho da sua evolução e progresso pessoal, da sua própria independência, da sua própria autonomia. Por isso você precisa somente do seu apoio, você precisa TORCER por você. Não fique suplicando pelo apoio dos outros nem tentando convencê-los exaustivamente. Quanto sacrifício para ganhar a aprovação dos outros? Por que você mesmo não pode se aprovar?

Ser amado pelas pessoas exige muito trabalho e esforço pessoal. Você precisa ser legal com todo mundo o tempo todo. Ou seja, precisa fingir, enganar, mentir para todo mundo, o tempo todo. Ricardo Chicuta

Enquanto você teme o que o outro vai pensar, está dando força para o outro. Dar importância, dar força, dar poder ao outro significa levar em conta e deixar a opinião dele(a) influenciar suas decisões. Você morre de medo de que os outros vão pensar mal de Você, então se torna o PRIMEIRO a pensar mal de si mesmo(a). Isso é auto-sabotagem. Você aprendeu a se diminuir, mas não há ninguém maior que você. Você que se ajoelhou. O outro lhe trata como você se trata, por isso não adianta se queixar do outro, se você próprio se sacaneia a cada desafio.

Nada é perfeito: acreditar em si implica duvidar dos outros, acreditar nos outros implica duvidar de si. Fabrício Carpinejar

O tímido é um orgulhoso que tem vergonha de fazer o que mais quer fazer. Morre de vontade, MAS NÃO FAZ. Quando você não quer seguir os outros mas também não quer enfrentar, você tenta se esconder, tenta camuflar e todo mundo lhe persegue. E você fica morrendo de medo que alguém perceba alguma coisa; você tenta bancar o que você não é, se torna um personagem que não tem nada a ver com você. O orgulho domina e lhe faz acreditar que vai controlar a impressão do outro, e até consegue, mas é por fingimento. Não há nenhuma vantagem nisso. Não proteja a sua fraqueza, pois assim o seu mundinho vai ficando pequeno, apertado, angustiante e insuportável. Você não deixa as pessoas se aproximarem muito para que elas não percebam o nada que você acha que é. Transforme-se por dentro, que a mesma pessoa que o rejeita hoje vai simpatizar com você amanhã, pois você melhorou o seu tratamento com você. É a nossa energia que puxa a energia do outro.

Você não pode se incomodar com o incômodo alheio. Luiz Gasparetto

Ser bom – bonzinho – com os outros também não fará de você importante, tampouco o livrará do medo e da insegurança. O lindo dosotro nunca é feliz e está sempre levando na cara. Todo bonzinho é um desgraçado e nunca chega longe na vida. Porque ele se molda demais aos outros, se sacrifica demais pelo bem estar alheio, e começa a remoer aquilo com que não concorda. Ele nega o seu lado ruim, o lado da auto-defesa. O que a (parte) ruim (em você) quer fazer? Quando você é ruim, está defendendo a si mesmo. A nossa ruindade é uma força fundamental para fazer as coisas andarem. Se você assumir as forças da ruindade, seus caminhos se abrirão agora. JÁ! O que é meu é meu, o que é meu direito é meu direito. Quando assume a sua força e NÃO SE ACANHA, você CONSEGUE as coisas. Assuma seu lado guerreiro. Você não tem noção do bem que isso vai fazer para a sua alma.

É melhor pedir desculpas, do que pedir permissão. Ditado popular

Quando você assume e realiza o que sente que deve realizar, a coisa vem. A energia da coragem acha caminhos, espanta o mal. Esta é a postura íntima de quem assume que dentro de si o mal não pode morar, e lá fora não lhe interessa, não é da sua conta. Por mais difícil que seja, acredite, o que os outros pensam é problema deles. Você tem todo direito do mundo de fazer as coisas do seu jeito, DESDE que você se assuma, isto é, se sustente financeiramente e não dependa da atenção afetiva dos outros. Quanto mais você fizer isso, mais você estará fazendo pelo mundo, pois irá influenciar positivamente os outros através do seu EXEMPLO.

Sucesso e os outros

O sucesso está intimamente ligado à figura do outro em nossa vida. Talvez você também tenha muito medo de progredir; chega a um determinado patamar e empaca. O diálogo interno que corre dentro de você e provavelmente nem percebe é mais ou menos assim: “(Não tenho sucesso porque) tenho medo do sucesso, não quero estar em evidência.” É a mais nítida auto-sabotagem. Mas veja que sucesso sem destaque não existe. Se você não quer destaque não terá sucesso.

Entretanto sempre tem algo para o qual você se destaca. Você não arrisca porque tem medo de perder o que conquistou e fica com a neura: “O que que os outros vão dizer”. Então prefere ficar onde está para não correr o risco de cair. Só que lamento informar que tudo na vida implica arriscar-se, não existe vida sem riscos. O sucesso é um desafio. Quando você enfrenta, tudo dá certo. E se isso ou aquilo não der, você tem plena capacidade de correr atrás pra resolver. Responsabilidade é isso, confiar em sua habilidade para responder às demandas que os desafios vão lhe impondo. Para estabelecer um elo positivo com o ganho, comece olhando para o que você tem, para as pequenas coisas do dia que você tem. Poucas pessoas se dão o mérito. É você que se dá o mérito, não espere que os outros façam isso.

Ora, você praticamente  cultua seus defeitos, sua pequenez, você se coloca para baixo diante do desafio de viver. Você não se dá nota dez. Você acha que tem que ser muito melhor, e aí se espelha ou se compara com pessoas muitos diferentes, que não tem nada a ver com você. Aí, como não tem os talentos dos outros, pois seus dons são outros, se coloca para baixo, porque não consegue ser igual a essa pessoa. Em vez de ir buscar quais são seus dons, lamenta por não ter os dons dos outros e se desvaloriza e não desenvolve o seus potencial que não tem nada a ver com o do outro.

Se você fosse atrás de desenvolver seu potencial sem olhar e se comparar com o outro você conseguiria a realização de seu espírito. O mundo está cheio de exemplos de grandes talentos que seguiram o próprio coração e alcançaram o êxito, sem ficar se distraindo e perdendo tempo contabilizando os feitos dos outros. Não há outro caminho que não seja seguir e se dedicar ao que o seu coração diz.

O que é valorizar-se?

Valorizar-se é dar importância – e SEGUIR o que você sente, à intenção verdadeira lá dentro de você. Fazer valer o que se sente. Se impor e BRIGAR pelo que se sente, se for preciso. Você precisa confiar em sua habilidade de se virar na vida, e não mais pensar mal de si mesmo(a) preferindo acreditar que não dá conta das coisas.

Você pode ir muito mais longe. Você está proibido de ser humilde se colocando abaixo dos outros pra parecer bonitinho. Como já se lesou demais se colocando pra baixo, é capaz de até se achar uma aberração. Agora chega!

Repita: “Não aceito mais pensar mal de mim. EU NÃO POSSO pensar mal de mim. Quanto aos outros não quero nem saber o que acham. Problema deles. Eu tô apenas me defendendo e cuidando da minha vida.”

Repita: “Sou o melhor de mim, não melhor que os outros.”

Reconheça que você é excepcional.