Desde há muito tempo, venho acompanhando alguns autores que defendem relacionamentos abertos. Relacionamentos cujo fundamento é o desapego. Aqueles onde se é plenamente livre, e portanto, a única obrigação é também libertar.

Tudo muito lindo e muito bonito esse desprendimento todo.

Mas não é para mim.

Relacionamentos livres e abertos são para poucos. Para gente que já domou o próprio ego e superou a necessidade psicológica de engrandecimento, de exclusividade e da segurança emocional que a atenção de alguém que consideramos especial proporciona. Manter relacionamentos livres significa aniquilar sua insegurança, assumir riscos e mergulhar e se deixar levar pela correnteza da vida.

Os relacionamentos convencionais, esses que praticamente todos nós mantemos, têm algo que os relacionamentos livres não têm: o compromisso de exclusividade. É como se, naquela correnteza da vida, com medo do desconhecido, procurássemos nos agarrar aos galhos firmes na beira do rio.

Quando esse compromisso é abalado, quando os galhos onde estávamos agarrados balança ou se solta da margem, surge o que conhecemos por ciúme.

Quem sente ciúme, o faz porque não se garante. Tem medo, ou de ficar sozinho, ou de não encontrar novamente outra pessoa que o faça se sentir amado como o parceiro atual o faz. O que, convenhamos, é bastante provável, já que é bem difícil encontrar nesse mundo cheio de gente alguém cuja presença consiga de fato nos completar e levar a uma inacreditável felicidade.

Quem defende relacionamentos livres tem o ciúme como uma baixeza moral. Mas não acho que seja tanto. Penso o ciúme como algo… normal.

Há várias formas de se demonstrar carinho e apreço. O ciúme é uma delas, e creio que em alguns relacionamentos, é a única.

A pessoa alvo do ciúme quase sempre gosta de ser alvo do sentimento de posse alheia. Porque sente esse apreço vindo de quem o ama e muitas vezes não demonstra.

A autoestima geral das pessoas é  tão baixa, e a carência de atenção é tanta, que elas chegam a se sentir bem quando sabem que alguém sente ciúme delas. É como se pensassem:

Pelo menos para ALGUÉM, nesse mundo indiferente e cheio de gente, também sou alguém, e não só mais um na multidão.

Era pra ser triste, mas para muitos, é tudo que têm.