Ao responder um comentário de uma leitora neste texto, me ocorreu que o amor tem um quê misterioso que prende nossa atenção. É verdade. Um sentimento assim tão misterioso, nos faz querer entendê-lo para podermos lidar com ele sem sofrer tanto.

O amor romântico, ou paixão, poderia talvez ser representado com certa precisão pela metáfora da gangorra. Um lado representa o ter, o outro, o querer. Quando um lado da gangorra está alto, por exemplo, o ter, o outro lado estará baixo, ou seja, o querer. De forma que quando não temos quem amamos (lado ter da gangorra baixo), o desejamos ardentemente (lado querer da gangorra alto), ao passo em que quando temos tal pessoa ao lado (lado ter da gangorra alto), a desejaremos menos (lado querer da gangorra baixo).

Esta metáfora se aplica a outros objetos de desejo que não o amor, ou a uma pessoa amada. Por exemplo, as crianças. Quando veem certo brinquedo, o desejam firmemente por semanas ou meses até que numa dessas datas especiais – aniversário, dia das crianças, natal – finalmente ganham o tal brinquedo, para já na semana seguinte perderem o interesse pelo mesmo.

Há ainda aquele conhecido ditado popular que confirma bem essa qualidade oscilante do sentimento amoroso:

Casamento, quem tá fora quer entrar, quem tá dentro quer sair.

Tanto para o amor como para os brinquedos infantis, há exceções. Mas aí o que pode estar em jogo já não é o desejo puro e simples por um objeto de desejo, seja o afeto de alguém ou o sonho lúdico e sim, sentimentos baseados em valores mais profundos, como a companhia valorosa de um ser que se mostrou especial ou ainda, no caso da criança, o objeto lúdico que representará seus sonhos encantados por anos e anos ainda.