A Roda do Dharma

A Roda do Dharma

Estou no momento bastante interessado num conceito espiritual que é conhecido popularmente por CARMA.
(leia mais a respeito aquiaqui e aqui).

Adquiri alguns livros a respeito e acertei em cheio já nas primeiras leituras. Estou lendo simultaneamente O Carma, ou a Causalidade Projetiva, de Thierry Guinot, e Carma e Reencarnação, de Elizabeth Clare Prophet.

A primeira lição que aprendi é a seguinte. O carma é muito mais complexo do que nossa formação judaico-cristã nos permite entender. Resumindo: Se duas pessoas passam por um mesmo problema, as chances de as causas desses problemas, e também as consequências deles serem completamente diversas são ENORMES. A sabedoria, a inteligência e a mecânica espiritual são muito mais sutis e complexas do que nossa pequena mente é capaz de conceber.

A segunda lição: O carma explica muita coisa na vida, mas sozinho, sua explicação é incompleta. Você só começa a visualizar melhor as coisas (e apenas sob uma overdose de abstração) quando entende melhor o conceito de DHARMA. E percebo que muita gente já metida no meio místico se confunde a respeito desse conceito, porque a palavra indiana dharma possui muitos significados.

Popularmente, dharma é entendido como nossa vocação, isto é, estarmos fazendo exatamente aquilo que nascemos para fazer. Mas a coisa, pra variar, é mais profunda. Segundo meu entendimento, dharma é o caminho e o direcionamento na vida, que todos tomaremos cedo ou tarde, na direção do criador, ou da verdade superior, segundo as tradições orientais.

Se aquela misteriosa inteligência que Einstein reconhecia no universo pode fazer a matéria evoluir para níveis de complexidade que acabam revelando a consciência, é porque o propósito da criação passa precisamente por esse estado que É a consciência. Se a alma individual (âtman) impele sempre o homem a essa deriva para o espiritual, é porque, como parte da alma universal (brahman), este segmento individual é literalmente “programado” para isto. Se a alma individual, portadora e guardiã do plano criador no homem, incita-o à realização de atos, é porque a alma, como entidade universal, tem necessidade de consciência e porque ação e consciência são coisas recíprocas.

Por essa razão, devemos qualificar o ato não segundo critérios morais de bem e mal, mas segundo um critério geral de adequação à direção indicada pela seta da criação. É essa seta ou essa direção que constitui o fundamento da Lei, o imperativo cósmico que a Índia chama de dharma.

Trecho de O Carma ou a Causalidade Projetiva de Thierry Guinot, pág. 41.

Segundo esta visão de Guinot, viemos de Deus e voltaremos para Ele, e o dharma é esse caminho de volta, a lei natural, e, claro, todos temos uma vocação que nos coloca nessa direção. Segundo a tradição oriental, os que vivem em harmonia com o dharma alcançam mais rapidamente a libertação da roda de samsâra, ou ciclo de reencarnações, juntando-se ao criador. E o problema aqui é justamente estar afastado do dharma, pois o universo não costuma ser muito gentil  quando quer que entremos novamente nos trilhos do dharma.

Guardemo-nos de violar o dharma, por temor de que o dharma violado nos faça perecer. Leis de Manu

Então aqui está um ponto fundamental: nem tudo de ruim que nos acontece é carma. Muitas vezes aquela tragédia que nos coloca de joelhos diante da vida nada mais é do que a vida nos alinhando ao dharma, que é o caminho que nos leva à evolução e à verdade superior, e nos coloca a caminho da divindade. Aceitar nosso dharma pode nos exigir até mais confiança de que a inteligência espiritual sabe o que está fazendo com nossas vidas, do que o próprio carma exige. Porque a lei do carma é algo bem humano. É uma transação na qual eu recebo o que eu dou. O dharma não, pois parece uma lei invencível que nos arrasta para ela à força, restando-nos confiar. Neste sentido, parece algo menos justo do que o carma.

O Dharma na Bíblia

Acho muito interessante quando encontro conceitos orientais na Bíblia. Isso mostra claramente a qualidade universal desses conceitos espirituais. Embora já conhecesse a passagem a seguir, só agora, sob a luz do conceito de dharma, é que a compreendi verdadeiramente.

1 – E passando Jesus, viu um homem cego de nascença.

2 – Perguntaram-lhe os seus discípulos: Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?

3 – Respondeu Jesus: Nem ele pecou nem seus pais; mas foi para que nele se manifestem as obras de Deus.

João 9: 1-3

Uma interpretação provável seria que o indivíduo cego assim nasceu para ser curado através da fé, para assim reforçar sua crença em Deus. E também para que este episódio permanecesse para a posteridade e viesse até nós e aos que virão depois de nós, como exemplo do que os orientais chamam de dharma. A cegueira do sujeito era o dharma dele, isto é, a doação de si mesmo, através do sacrifício próprio, para que a fé se expandisse pelo mundo. Eis “as obras de Deus” as quais Jesus se referiu.

Uma missão muito nobre, a do cego, sem dúvida.

Ou seja, nem todo problema grave pelo qual você passa é um castigo, ou uma reação por alguma maldade que você pudesse ter cometido no passado ou em uma vida passada. Um problema pode ser meramente a forma que o universo encontra de o(a) colocar frente a frente consigo mesmo e com o seu caminho verdadeiro.

A Reencarnação na Bíblia

Ainda em relação à citação bíblica acima, vale comentar que se os discípulos perguntaram se o homem “pecou” para que nascesse cego, ele só poderia ter pecado numa vida anterior.

Estudiosos apontam uma e outra passagem bíblica que indica a possibilidade de reencarnação. Mas nenhuma me soa mais contundente do que as seguintes:

5 – Eis que eu vos enviarei o profeta Elias, antes que venha o grande e terrível dia do Senhor;

Malaquias 4: 5

10 – Perguntaram-lhe os discípulos: Por que dizem então os escribas que é necessário que Elias venha primeiro?

11 – Respondeu ele: Na verdade Elias havia de vir e restaurar todas as coisas;

12 – digo-vos, porém, que Elias já veio, e não o reconheceram; mas fizeram-lhe tudo o que quiseram. Assim também o Filho do homem há de padecer às mãos deles.

13 – Então entenderam os discípulos que lhes falava a respeito de João, o Batista.

Mateus 17: 10-13

14 – E, se quereis dar crédito, é este o Elias que havia de vir.

Mateus 11: 14

Se os discípulos entenderam que Jesus falava de João Batista, é possível deduzir que a ideia de reencarnação fosse bastante natural para eles.

O Carma na Bíblia

lei da ação e reação é bastante comentada na Bíblia, muito embora nunca sob o nome de carma.

Segue abaixo, primeiramente, três citações que demonstram claramente a ação e reação, ainda no caso de João Batista e Elias. Elas falam da morte de vários profetas promovidas por Elias, ao decapitá-los na beira de um rio, e depois ter sido ele mesmo decapitado, como João Batista, também na condição de profeta:

40 Disse-lhes Elias: Lançai mão dos profetas de Baal, que nem um deles escape. Lançaram mão deles; e Elias os fez descer ao ribeiro de Quisom e ali os matou. 

I Reis 18: 40

1 – Acabe fez saber a Jezabel tudo quanto Elias havia feito e como matara todos os profetas à espada.

I Reis 19: 1

10  – e deu ordens e decapitou a João no cárcere.

Mateus 14: 10

Veja mais sobre o tema, aqui.

Além das contundentes passagens acima, Jesus também falava ao povo:

1 – Não julgueis, para que não sejais julgados.

2 – Porque com o juízo com que julgais, sereis julgados; e com a medida com que medis vos medirão a vós.

Mateus 7: 1-2

12 – Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós a eles; porque esta é a lei e os profetas.

Mateus 7: 12

37 – Não julgueis, e não sereis julgados; não condeneis, e não sereis condenados; perdoai, e sereis perdoados.

38 – Dai, e ser-vos-á dado; boa medida, recalcada, sacudida e transbordando vos deitarão no regaço; porque com a mesma medida com que medis, vos medirão a vós.

Lucas 6: 37-38

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Veja alguns textos sobre Carma:

Queimando Karma

O que é Carma?

Carma, Trauma, Querer