Do comunismo até a teocracia, passando pela liberdade

Este gráfico do espectro político foi inspirado durante a criação deste post – Breve dicionário de termos políticos – e foi publicado inicialmente em 9 de outubro de 2010.

Agora republico-o, e venho comentar um pouco sobre algo que tem se falado bastante nas duas últimas semanas: A Esquerda e a Direita política.

Você, brasileiro alienado e despolitizado pelas últimas décadas de uma educação desprovida de conteúdo político, tem uma certa obrigação moral de saber mais sobre o tema. Faça uma forcinha e leia!

O maior castigo para quem não gosta de política é ser governado pelos que gostam”. Arnold Toynbee (1889-1975)

Espectro político e ideológico

O espectro político abaixo foi baseado nos gráficos destas duas páginas – 1 e 2. Com ele não pretendo categorizar precisamente todo o modo como os movimentos e ideologias políticas se posicionam e se relacionam, mas quis sobretudo facilitar o entendimento desses conceitos de forma visual para os leigos (como eu mesmo 😉 ).

Se você for entendido do assunto e perceber alguma aberração, sinta-se livre para me corrigir 🙂

Espectro político

Espectro político

Mas afinal…

O que é Esquerda? O que é Direita?

Historicamente

A origem do termo “de direita” deriva, historicamente, do lado, em relação ao lugar do rei, em que ficava a nobreza, nas reuniões dos Estados-Gerais, antes da Revolução Francesa de 1789, e em que ficavam, depois, os conservadores nas assembleias de parlamentares.

O termo “de esquerda” deriva também da mesma época, quando em 28 de Agosto de 1789, se discutiu na Assembleia Nacional Constituinte francesa a questão do direito de veto do rei. Os deputados que se opunham à proposta sentaram-se à esquerda do assento do presidente, iniciando-se o costume dos deputados que apoiavam mudanças se identificarem com essa posição. Ao longo do século XIX, a principal linha divisória entre esquerda e direita na França era o apoio à República ou à Monarquia. A transição para uma república era o grande objetivo da esquerda francesa, enquanto que os conservadores pretendiam manter a monarquia, a qual manteria seus privilégios.

Atualmente

Esquerda – Atualmente, os partidários “da esquerda” são indivíduos que têm convicções políticas contrárias a regimes conservadores e simpáticas a ideias anticapitalistas, ou socialistas, ou comunistas. São, portanto, considerados progressistas, pois são a favor do progresso social. São partidários de reformas e avanços sociais de caráter igualitário. Tendem a apoiar a distribuição de renda (desde que não seja a própria renda e sim a dos ricos 🙂 ); a inclusão social; o acesso a serviços e produtos que normalmente só a elite – que eles chamavam originalmente de burguesia – tem acesso; a serviços públicos gratuitos como transporte, cultura, educação, saúde e segurança; e ao bem estar do povo e dos trabalhadores – que eles chamavam originalmente de proletariado – contra os privilégios dos ricos.

Direita – Já os partidários “da direita” tendem a apoiar o acúmulo de riquezas; a ideia de meritocracia; o livre comércio; a não-intervenção do governo na vida dos cidadãos e da economia; a exclusividade de serviços e produtos de acordo com as possibilidades que o êxito financeiro do indivíduo permita; e normalmente são contra o uso do dinheiro dos impostos para beneficiar a população. De modo geral, a direita detém poder financeiro e portanto, para não perdê-lo, torna-se adepta de conceitos e práticas políticas conservadoras. São indivíduos que defendem valores tradicionais e a manutenção da ordem estabelecida, sendo contrários a inovações radicais ou mudanças abruptas e apresentando tendências acentuadamente moralistas. Individualismo, machismo, racismo e homofobia são termos normalmente associados ao pessoal da direita, muito embora isso não seja uma regra. Devido a esse comportamento tipicamente moralista e arcaico, o indivíduo de direita é usualmente referido como reaça, termo que beira o xingamento e deriva to termo reacionário, isto é, aquele que reage a mudanças.

Essa divisão non ecziste!

Se você acha que essa coisa de direita x esquerda não existe, então você já é de direita, mesmo sem ter refletido muito sobre isso. A ampla maioria das pessoas é de direita, porque tem posicionamentos considerados de direita (listados acima), seja por reflexão, seja por absorção da opinião pública convencional. Acredito, de modo particular, que a direita é menos um agrupamento político, muito embora saiba muito bem defender seus interesses politicamente, já a esquerda é visivelmente um agrupamento que se alhea a maioria acomodada e luta explicitamente por mudanças sociais.

Essa distinção entre esquerda e direita política simboliza uma visão geral do panorama político, mas a verdade é que o espectro político está longe de oferecer posicionamentos fáceis, popularmente referidos por 8 ou 80. Como em tudo que é da natureza humana, também a política é permeada por infinitos matizes, graduações e…. CONTRADIÇÕES. Na minha cidade, por exemplo, muito católica, não é difícil encontrar sujeitos que se dizem de esquerda, mas que são contra o aborto e contra o divórcio, por exemplo, os quais são posicionamentos moralistas típicos da direita, isto é, conservadores. Por outro lado, eu me considero de direita, acredito muito no capitalismo e nas benesses que o progresso material trouxe para a sociedade, mas não acho a cobrança de impostos tão ruim assim (clique e leia), nem o programa bolsa-família, e entendo perfeitamente o caráter e a necessidade das lutas sociais, o que me colocaria talvez num posicionamento político de “centro-direita“, se é que isso é possível.

Do lado do Poder

Não é difícil perceber, observando a história, que normalmente quem está no poder, adota um posicionamento conservador, para não perder o poder conquistado, e portanto, estaria “de direita”. Já quem está fora do governo adota uma postura progressista, que visa mudanças sociais, e portanto, está “de esquerda”. Mas basta os papéis se inverterem para vermos os posicionamentos políticos também se inverterem. Quem antes queria mudanças, uma vez no poder, passa a adotar um posicionamento mais conservador, para manter o poder nas mãos, enquanto que quem estava no poder e agora é oposição, passa a lutar vigorosamente por mudanças.

Liberdades

Embora não pareça a uma primeira vista, toda essa conversa política gira em torno de um tema comum e fundamental para todos os humanos: A liberdade.

Nas políticas de esquerda, as liberdades individuais são maiores, porque os bens tendem a ser mais acessíveis a todos. Lembremos que a escassez é um fator extremamente aprisionante. Nas políticas de direita, essas liberdades dependem do poder aquisitivo do indivíduo, muito embora sua liberdade econômica, isto é, a livre iniciativa seja ampla.

Ainda dentro do tema liberdade, porém agora como liberdade coletiva, o gráfico acima apresenta também uma distinção pouco comentada: A oposição entre o libertarianismo e o totalitarismo. Observe que os itens Comunismo, Fascismo e Teocracia aparecem mais abaixo no gráfico, próximos ao Totalitarismo, que representa toda e qualquer forma de ditadura governamental.

Já os itens Liberalismo Conservador (econômico) e Liberalismo Social ficam acima do gráfico, representando ambos uma presença mínima do governo, ou do Estado, na vida da população.

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