O ano de 2014 foi um ano muito ruim, para mim. Talvez o pior ano da minha vida. Foi quando descobri que tudo que havia sofrido até então não tinha passado de arranhões.

Na minha vida – e quem sabe, na sua também – as coisas ruins costumam acontecer juntas. Não sei porque raios isso acontece. Mas quando acontece, o mundo vem abaixo.

Eu me considerava um sujeito centrado, de relativa sorte e consideravelmente espiritualizado, até então.

Quando tudo veio abaixo, senti que essa tal espiritualidade de pouco adianta. Claro que é uma visão demasiadamente pragmática, minha, meio como uma negociação com Deus – eu lembro de Você, e Você lembra de mim. Mas senti que esse deus que tanto falamos não é tão pessoal assim, está pouco ligando para nós e não nos ama tanto quanto se diz por aí.

Se é isso que você busca com sua espiritualidade, esqueça.

No final de tudo lembrei de uma fala de um pastor quando fui a um culto evangélico há muitos anos. Dizia ele:

Vir à igreja não te livra dos problemas. Vir à igreja te deixa mais forte para enfrentá-los.

Certíssimo, ele.

Nunca mais fui a um culto evangélico desde então.

😉

Você não é aquilo tudo

Quando tudo vem abaixo, o que vem abaixo na verdade não são as coisas, são as ilusões que nós mantínhamos a respeito delas, e de nós mesmos.

Com exceção de acidentes e problemas de saúde, normalmente ficamos intactos após a maioria das perdas. Ficamos apenas sem nossas muletas existenciais.

E caímos… claro!

No meu caso, além das desilusões com sonhos e projeções futuras, tive outra desilusão, como comentado a pouco:

Com tudo que formava minha visão e prática espirituais. Afirmações positivas, otimismo, esperança, bênçãos…

Tudo balela.

O fato é que não há positividade, ou misericórdia divina, que vença um carma pesado demais, ou se você possui um padrão interno de auto-imagem, isto é, crença sobre si mesmo(a), muito debilitado, que faz você se meter onde não devia.

No fim, descobrimos que a responsabilidade foi toda nossa, continuará nossa, e pior, que não temos a força necessária pra virar a mesa e fazer o que precisa ser feito.

Porque talvez a situação tenha lá suas vantagens, não é?

E depois, no desespero você corre para a igreja, faz promessas e orações, acende velas e incensos.

Então o tempo passa, percebe que está sendo idiota, que Deus não está nem aí para os seus dramas, e no meu caso, fosse outras épocas, tenderia a me revoltar.

Eu não me revoltei… tanto. Me toquei do ridículo, guardei livros, parei de acompanhar sites afins, de ver as coisas e a vida de modo forçadamente esperançoso, e venho trabalhando questões como aceitação e abrandamento do coração.

Se você não atingiu o que desejava, a impaciência fará mais longa a distância entre você e o objetivo a alcançar.

E sob esta nova visão, já com o pior da tempestade se desfazendo, com o ar desanuviando e uma visão da vida mais realista e menos esperançosa a respeito das perspectivas para mim, e mais objetiva e sóbria a respeito do que esperar da vida, me apercebi de algo óbvio e que quase ninguém enxerga:

O tempo é o ÚNICO remédio

As pessoas de modo geral têm muitos problemas, de ordem física, financeira e principalmente, sentimental.

Elas passam a vida inteira como garimpeiros tentando encontrar o ouro que lhes salvará da condição de miséria na qual se encontram – no caso, passam a vida inteira tentando encontrar a cura milagrosa e definitiva para sua condição de miséria espiritual.

Há profissionais óbvios para a solução dessas questões mais básicas: da área médica para os casos de saúde, da área educacional e financeira para os casos de insucesso profissional, e da área psicológica para os casos de problemas de relacionamento.

Mas nesta área, a dos problemas emocionais e sentimentais, há toda uma imensa área além da psicológica, que são os segmentos religiosos, espiritualistas, filosóficos e terapêuticos. Estes últimos abundando na internet sempre prometendo o impossível ou sugerindo ações consoladoras.

Praticamente TUDO que se encontra na internet não funciona e não passa de chamariz para você contratar esses terapeutas para, com muita sorte, conseguir resolver seu problema.

Ontem assisti a um vídeo de um desses terapeutas, no qual ele fala sobre um caso clássico deste segmento: como curar os corações partidos. Dizia o terapeuta que para curar um coração partido a pessoa deve cuidar de si mesma, ter uma vida própria, projetar seus sonhos sobre si mesmo, e não sobre outra pessoa para que ela os realize por nós. Sonhos estes de eliminação dos medos, da solidão, da sensação de abandono; e sonhos de aceitação social, de auto-valorização.

Tarefa facílima, claro.

Pois bem. Este tipo de mensagem é de fato muito funcional e necessária. Quem tem a si mesmo, precisa menos dos outros. Mas ela não leva em conta a extrema dificuldade que temos de cuidar de nós mesmos e sobretudo, de encontrarmos motivação para isso, dada nossa autoestima sempre muito baixa, baseada em nossas limitações, em nossa falta de talento e sobre nossa preguiça em desenvolvê-los.

Além de que esta mensagem não cura corações partidos, conforme promete o autor. Ela, no máximo, pode evitar situações assim, futuramente, ou abrandá-las. Não evita que a pessoa caia, evita no máximo que ela caia de boca na lama. A pessoa pode ser uma super-humana, plenamente desenvolvida e bem resolvida em todas as áreas de sua vida, mas NADA a impede de viver uma frustração amorosa e NADA vai curar seu coração de forma rápida e efetiva uma vez que ele se parta com o abandono de alguém especial.

A não ser o tempo. E então já não será de forma rápida. Talvez nem de forma efetiva (caso contrário não precisaríamos de outras vidas para resolver nossas pendengas).

Casos de transformação e cura efetiva existem, claro. Mas acontecem muito menos do que precisaríamos. Porque dependem de uma transformação emocional muito íntima e fundamental, a qual raramente alcançamos, devido a muitos motivos:

  1. nem sempre sabemos que essa transformação é necessária
  2. quando sabemos, é algo muito difícil de perceber em si mesmo(a)
  3. raríssimos terapeutas conseguem nos ajudar a percebê-la
  4. quando percebemos, não sabemos como executá-la
  5. quando encontramos alguma orientação nesse sentido, não conseguimos executá-la a contento, por indisciplina
  6. pode levar tempo para essa transformação se fazer. E isso depende muito do que os religiosos costumam chamar de “nosso coração endurecido” ou o que o senso comum costuma se referir como “cabeça dura”. Neste caso, só o tempo e o muito apanhar da vida é que promove essa transformação e neste sentido, a própria perda que se repete ao longo da vida se constitui num evento terapêutico, que vem amansar nossos corações.

Por isso, de modo geral, toda e qualquer mensagem ou ação de cura, seja médica (veja anexo abaixo), terapêutica ou espiritual, nada mais é do que um tipo de entretenimento, normalmente fundamentados num tipo de auto-engano positivo e consolador.

Visam distrair-nos do problema, nos dizendo o que queremos ouvir e nos prometendo a cura até que o tempo diminua a importância do problema, e nos faça esquecê-lo, com a graça dos deuses.

O tempo não é o melhor remédio, é o ÚNICO remédio para os males da alma, e do coração.

Quem sabe, viver seja uma doença, e a morte sua cura derradeira e definitiva.

Ou, como diz a sabedoria facebookiana:

Morre que passa.

😉

 

Anexo

O texto abaixo foi publicado na revista Superinteressante em janeiro de 2003, me parece, sem autoria. É um pouco exagerado mas não é difícil compreender a realidade de sua mensagem básica.

Remédios são venenos

A humanidade vem sendo enganada há milhares de anos por feiticeiros, curandeiros e charlatões com suas poções, extratos, pílulas e outros métodos de “cura”. A idéia de que algo exterior ao organismo pode curar uma “doença” revela todo o desconhecimento sobre a natureza da saúde. Os remédios usados por curandeiros e pela medicina tradicional não passam de ilusões. A razão é simples: o princípio de que os remédios “curam” é falso. Remédios não curam ninguém, só adoecem. E as doenças não deveriam ser curadas porque são a própria cura – já que a recuperação da saúde é um processo fisiológico natural que não pode ser substituído por qualquer meio externo.

Curar-se é tão natural quanto a reprodução, a digestão e o crescimento. O que se convencionou chamar de “doença”, tal como a febre, a dor, a inflamação e a infecção, é, na maioria das vezes, um processo de eliminação de toxinas e de reparação realizado pelo organismo para recuperar a saúde. O processo de cura é sempre desagradável. E isso é perfeito e natural. Não podemos ser recompensados pelos nossos erros. Quando alguém respira ar poluído, come alimento impróprio, ingere álcool, remédios, fica irritado, preocupado, ou seja, ataca sua saúde, certamente adoecerá. Após semanas, meses ou anos, os resultados serão reumatismos, infecções, câncer etc. Ninguém adoece sem motivo. Se há um efeito, há uma causa. E a causa é sempre um ambiente inadequado à vida e maus hábitos. Ora, quando se procura curar por meio de um remédio se está tentando eliminar o sintoma sem eliminar a causa. É uma tentativa charlatanesca de anular a “lei da causa e efeito”.

Se alguém ingeriu álcool e está bêbado, somente parando de ingerir álcool poderá curar-se. Os remédios apenas suprimem o sintoma, a reação orgânica benéfica de autocura. Os remédios contêm princípios ativos que, na verdade, são venenos ativos: provocam efeitos colaterais e reações adversas que são sinais de envenenamento.

Tudo o que não é alimento é veneno. Se queremos sobreviver e ter saúde, devemos somente ingerir alimentos – e não remédios. O que o organismo não pode digerir e assimilar precisa ser eliminado. Quando algumas dessas substâncias se combinam quimicamente com as células, essas terminam morrendo. Todos os remédios, sem exceção, são venenos. A grande maioria das doenças modernas são doenças iatrogênicas, isto é, frutos da ingestão de remédios que aparecem anos após o “tratamento” com essas substâncias.

Os remédios fazem tão mal às pessoas saudáveis quanto fazem aos doentes – já que as mesmas leis válidas para uma pessoa saudável também valem para os doentes. Eles não deixam de ser venenos simplesmente porque foram receitados e sempre fazem mal, não importa a quantidade. Quando alguém diz que o remédio atua sobre o organismo não entende que, na verdade, ele não está curando ninguém. Esses efeitos são decorrentes da reação do corpo a essas substâncias. Não é o remédio que é anti-inflamatório ou anticancerígeno. Quem inflama e desinflama, quem produz um tumor e reabsorve esse tumor é o organismo. O corpo não é suicida. Ele faz o melhor para manter a vida e a saúde. Tomar remédio para eliminar um sintoma é interromper um processo natural e saudável de cura que, mais tarde, o organismo precisará retomar.

As mortes com sofrimento decorrem da prática de drogar o doente.

A velha e confiável aspirina é um veneno mortal e está proibida na Inglaterra para quem tem até 16 anos – já destruiu a saúde de milhares de crianças em todo o mundo. O Interferon, que, na década de 80, era anunciado como a “cura do câncer”, foi mais um fracasso; a talidomida, testada por mais de três anos, aleijou milhares. Isso para não falar dos antibióticos, que acabam com nossa imunidade e, como diz o próprio nome, são “antivida”.

A maioria dos remédios que estavam em uso há 20 anos já não são usados porque são “ineficientes”. Não há esperança de que a cura de alguma doença apareça dos remédios. A saúde não é fruto de remédios, vacinas ou qualquer outra substância externa ao corpo. Ela é fruto de bons hábitos de vida e de um ambiente amigável. Os remédios geram muita riqueza para seus fabricantes, mas escravizam e matam seus usuários. Nada substitui o poder curativo exclusivo do organismo. Os remédios são a herança tardia dos caldeirões dos feiticeiros e curandeiros disfarçada de prática científica.