Essas considerações, aqui e aqui, sobre um local no Equador onde um grupo esbanja longevidade, noticiadas na Folha recentemente me provocam um grande questionamento. Para quê viver tanto?

Os cientistas ainda correm loucos atrás do gene da longevidade tais quais os pioneiros da corrida do ouro ocorrida no oeste americano no século XIX. Mal sabem eles que muita gente já descobriu a formula da longevidade sem se esforçar muito. Nos dois sentidos. Descobriram porque me parece que a fórmula da longevidade é de fato, não se esforçar muito. Levar as coisas na boa, devagar e sempre, slow life, não esperar muito da vida e das pessoas, etc.

Já tive a oportunidade de assistir a um documentário tratando da longevidade, o qual mostrava vários lugares ao redor do planeta onde seus habitantes já estão por volta dos 80,90, 100 ou mais anos. Constatava-se que há diferenças berrantes nos hábitos das pessoas de longa vida em todos os lugares onde é notada essa característica na população. Em alguns lugares a dieta é natural e saudável, em OUTROS NÃO, com dietas relativamente “picantes”. Em alguns lugares, os habitantes fumam (e no caso da reportagem aqui citada, até usam drogas), em outros não. Em alguns lugares os habitantes longevos procuram exercitar-se regularmente, principalmente nas cidades orientais, mas em outros lugares como nas cidades do mediterrâneo, não. Ou seja, não é possível distinguir nada necessariamente de ordem FÍSICA que indique a causa da longevidade.

Mas o que há nitidamente em comum entre todos esses lugares de gente “duradoura” de inquebrantável saúde, e que os cientistas parecem não dar muita importância é o ritmo de vida – não lento – mas natural. Praticamente nascem e morrem no mesmo lugar, trabalham quando tem de trabalhar, descansam e reúnem-se quando o tem de fazer, e nada mais além disso. Não há grandes ambições nem grandes sonhos. Nenhuma cidade com habitantes longevos tem quaisquer traços daquilo que é inerente a qualquer metrópole. Pressa? Trânsito? Stress? Acho que os habitantes das cidades relatadas pelo documentário nem sabem o que são essas grandes pragas da modernidade.

Entretanto, para mim fica a questão: Para quê viver tanto, se tão pouco deixam para o mundo em termos de contribuição? Lobão não estaria certo ao concluir que “É melhor viver 10 anos à 1000, que 1000 anos à 10“? Talvez o único mérito do modo de vida tartaruga é mesmo o EXEMPLO. O qual serve para contra-balançar o modo de vida ocidental, frenético e estressante. Seria uma indicação “empírica” para seguirmos nosso ritmo natural. Reconhecer as ambições que podemos assumir e aquelas que – queiramos ou não – estão na cara que pouco tem a ver com a natureza de nossa alma.

É como se fosse uma mensagem para nós, do lado de cá, não necessariamente pararmos, mas reduzirmos a marcha; e olharmos para o lado; para os céus; para o horizonte, enfim, olharmos para dentro. E encontrarmos nossas riquezas perto de nós, e não num padrão de vida sempre mais elevado, tanto que não raras vezes nos parece inalcançável. É também uma mensagem para talvez questionarmos se o padrão de vida pelo qual tanto lutamos faz parte mesmo de uma decisão consciente, ou se é um padrão de vida imposto pela publicidade e pela sociedade, mas vazio e longe de preencher e agradar a nossa alma, pra valer.