Não sei se você sabe, mas existe internet além dos sombrios territórios da Vila Orkut, do Vale do MSN e país das maravilhas dos jogos online.

Se aprendi algo nesses últimos anos de intenso contato com este outro lado da vida internet, acompanhando muitos blogueiros e autores inacreditavelmente anônimos a despeito da incrível capacidade de expressão através da escrita, e tentando pequenamente ser um deles, é que:

Assim como ao músico não basta conhecer um instrumento musical e saber tocá-lo, e sim ter bons ouvidos para saber entender/sentir/captar a música, ao escritor não basta saber escrever de forma minimamente legível e compreensível ao leitor.

O que de mais surpreendente encontrei nesses autores anônimos da internet – e depois já com outros olhos também nos livros – foi a incrível sensibilidade através da qual enxergam o mundo. Junto a essa sensibilidade vi uma fantástica – e necessária – perspicácia com as palavras numa sobrenatural habilidade de dispô-las numa sequência tal que permitirá ao leitor recriar em seu mundo interno um traçado semelhante ao mundo interno do escritor.

Sempre sinto uma pontinha de uma reverente inveja ao ler observações de alguns deles a respeito de passagens quaisquer pelas quais EU TAMBÉM PASSEI e que, infelizmente, me passaram despercebidas. Passagens que tão arrogantemente considerei sem importância. Porque não tive a capacidade de visualizar como ficariam belas ao serem descritas num bloquinho de texto.

Se o cotidiano lhe parece pobre, não o acuse: acuse a si próprio de não ser muito bom poeta para extrair suas próprias riquezas. Rainer Maria Rilke