É curioso como as pessoas buscam o que não conhecem.

Santo de Casa não faz milagre.

Quem nasce no interior se encanta e quer morar na cidade grande.

Quem nasce nos grandes centros acaba se retirando para algum lugar com cara de interior.

Meu pai percorreu o Brasil como caminhoneiro por cerca de um ano e passou o resto da vida sem qualquer vontade de conhecer novos lugares, enquanto que, quem se cria enraizado num buraco de cidade qualquer, passa o tempo todo querendo viajar, viajar, viajar…

Meu pai se criou no interior, vida dura e difícil, domava bois pelo chifre. Acabou vindo para a “cidade”, de onde nunca mais saiu. E quando via alguém se encantar com um passeio qualquer em algum hotel-fazenda, não entendia o que viam de tão bom lá, já que quem se cria nesse meio, quer sair o quanto antes em busca das facilidades da cidade.

Me criei e morei por 20 anos na Praia Brava de Itajaí, praia adorada por muitos. Em 1991 era uma linda praia, com ares paradisíacos, porém isolada, sem estrutura e sem ninguém. Ao longo desses anos, o mar para mim se tornou sinônimo de solidão, desolação e tédio. Hoje moro em Itapema, a 1km da praia e muito raramente vou até lá ver o mar. E quando vou já quero voltar. O sol envelhece a pele, irrita os olhos, a areia gruda na pele, o vento espalha meu resto de cabelo.

Me chama pra ir no Shopping, mas não me chama pra ir na Praia.

Meu sonho é ainda conseguir morar no centro de alguma cidade pra poder fazer tudo a pé. E quem sabe passar meus fins de ano numa cabana no alto da Serra, enquanto o povo da Serra vem virar bife a milanesa na praia.

O que não temos, o que não somos, o que nos falta, eis os objetos do desejo e do amor.
Platão – Filósofo grego