O carnavalesco Joãozinho 30 proferiu uma frase definitiva:
“Quem gosta de miséria é intelectual, pobre gosta é de luxo”.
Eu moro ao lado de uma das cidades mais atraentes do sul do Brasil, Balneário Camboriú.
Vou regularmente lá passear, comprar alguma coisa no camelô ou no shopping, fazer um lanche, tomar uma sopa na Avenida Brasil, ou andar no calçadão com uma caipirinha na mão vendo gente bonita e feliz, que também tá lá vivendo a vida.
Mas eventualmente me deparo com o juízo de que Balneário Camboriú é uma cidade brega. E não só Balneário. Lugares incríveis, como Gramado, Campos do Jordão e Jurerê Internacional também são considerados bregas e cafonas no critério de um povo aí que deve ser super distinto e chique.
Basta um lugar dar certo pra ganhar o rótulo de brega e cafona no critério desse povo fino e elegante. Quem pode com tanta sofisticação?
Tom Jobim também concluiu:
“Sucesso no Brasil é ofensa pessoal”
O que exatamente é brega nessas cidades?
O que me deixa desconfortável com esse juízo é que ele é confuso.
Por brega e cafona entendemos gostos duvidosos, simplórios, popularescos.
Mas nada do que se vê nesses lugares é popularesco, pra falar a verdade é até bem inacessível ao povo simples, o qual nem por isso deixa de admirar e sonhar com essas realidades a princípio inacessíveis. Alguns atrativos podem ser sim lúdicos, como casas em determinados estilos, uma roda gigante, um bondinho semelhante aos do início do século passado.
Então gostar de brincar, viajar na imaginação é brega?
Talvez o gosto pela exclusividade seja cafona. A classe média sonha por exclusividade e distinção. Então o juízo de cafonice destes lugares seria resultado de certo ressentimento, porque as pessoas que julgam estas cidades, que são incríveis, de bregas, são justamente as que se presumem distintas, cultas, finas e estão vendo seus postos serem ameaçados.
Ou seria uma reação ao que na verdade é uma impostura, porque a classe média não é culta, ela quer parecer culta e sofisticada, e o sujeito autenticamente fino e sofisticado se ressente por estar perdendo seu espaço. ELE queria estar tendo a visibilidade, mas, ignorado, anônimo, tal qual a criança que não quer mais brincar, pega sua bola e vai pra casa, chamando todos de bobos… ou bregas.
Não sei, divago aqui.
Balneário Camboriú tem sim seus problemas, dentre os piores, destaco o trânsito, que colapsa em dias de chuva, mesmo na baixa temporada. A praia alargada amenizou o problema das sombras nas areias da praia, que na verdade nunca foi exatamente um problema, dado que o Sol incide nas areias das 6 até as 16hs da tarde. Dá tempo, não dá? E durante esse período as pessoas se rebocam de protetor solar, óculos de sol, boné, guarda-sol e tanto melhor se encontrar uma sombrinha debaixo das árvores remanescentes. Ah, mas deixa eu aqui me sentindo super cu… digo, super cool reclamando das sombras desses prédios bregas e altos demais.
Embora a fama ainda seja negativa, fato é que Balneário Camboriú ruma para ser uma das primeiras cidades 100 por cento saneadas * de Santa Catarina. Cafona demais, assim não dá!
Não é só em relação às cidades. Há tempos sinto desconforto quando alguém chama algo de brega/cafona, até para coisas as quais não me identifico. Porque alguém julgar algo como brega/cafona numa época em que tudo é permitido, está claramente fazendo um auto-elogio de superioridade, de fineza, de cultura, autenticidade.
Quando Pedro fala de Paulo, ficamos sabendo mais sobre Pedro do que sobre Paulo.
Num país em que até a “classe intelectual” é inculta, é um atrevimento julgar algo de brega.
Tenho curiosidade de saber como são essas pessoas, que se escondem atrás de avatares esquisitos no twitter.
“Eu odeio a classe média”
A “classe intelectual” brasileira (muitas aspas nessa hora), que se presume fina, distinta, culta, sofisticada, não esconde seu desprezo pelo povo médio. Quer muito tirar o miserável da miséria, para ele se tornar um integrante da classe média, que a classe intelectual odeia.
Depois não entendem porque o povo cerca Bolsonaro onde ele vai. Bolsonaro, mesmo com seu jeitão bruto, acolhe o povo médio. Bolsonaro reverencia o povo como ele é, vai lá, come pastel com caldo de cana junto. Enquanto seus opositores ficam murmurando a cafonice alheia do alto de seus camarotes exclusivos.
Live and let live
Fino, sofisticado e autêntico, para mim, é deixar as pessoas livres para serem o que quiserem. Brega mesmo, é ficar julgando as escolhas alheias.
O fato é que as quatro regiões aqui citadas seguem prosperando e atraindo mais e mais pessoas para morarem nelas, especialmente Balneário Camboriú. Eu tenho um predinho antigo com cinco kitnets em Itajaí, cidade vizinha a Balneário. Todas estão ocupadas e todo santo dia recebo 2 ou 3 pedidos por kitnets de pessoas desesperadas por um lugar, porque estão vindo morar na região.
Brega demais esse negócio de querer morar num lugar que tem emprego e qualidade de vida.
Já que o assunto é breguice, me dou o direito de concluir com um clichê, que se adequa bem à situação destas cidades incríveis:
Enquanto os cães ladram, a caravana passa.
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* O fato de ainda haver alguma poluição no mar da Praia Central de Balneário Camboriú se deve ao fato da cidade vizinha, Camboriú ainda estar iniciando o trabalho de tratamento dos esgotos, de forma que os dejetos ainda migrem pelo Rio Camboriú até a praia.
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