Dom Casmurro

(Aviso: O texto a seguir contém algum spoiler da história, portanto se você ainda pretende ler o livro…)

Com certo atraso na vida, conclui a leitura do clássico de Machado de Assis, Dom Casmurro.

Eu havia assistido algumas partes da minissérie global Capitu, à época, e iniciei algumas vezes a leitura do livro, sem terminá-lo, não por tédio e sim por perceber já nos primeiros capítulos que tal leitura exige um espírito presente e cuidadoso. Portanto nunca tive uma resposta clara sobre a mais icônica questão da literatura brasileira:

Afinal, Capitu traiu Bentinho?

Concluída a leitura, e re-assistida (2) a minissérie, a conclusão pende para a resposta positiva.

Vemos nos comentários dos vídeos da minisséries no Youtube, um esforço por inocentar Capitu.

Curiosamente, as mulheres tendem a sair em defesa de Capitu, enquanto os homens tendem a crer na consumação da traição. Há um certo corporativismo feminino neste assunto.

Bom, eu terminei a leitura do livro ontem, e entrando dentro do mundo ficcional do livro, tenho as seguintes observações:

Vê-se que Bentinho descreve convictamente as muitas semelhanças físicas, jeito inquieto, o jeito de comer, de falar e o sorriso do menino, que, para além de lembrar-lhe muito o amigo Escobar, davam-lhe a impressão de estar mesmo diante do próprio amigo, que já havia falecido anos antes.

E outro detalhe, na época não havia anticoncepcional, o primeiro filho demorou a vir e depois não veio mais nenhum, havia certa probabilidade dele ser estéril e de Capitu realmente tê-lo traído.

Machado de Assis

Ela o amava e sempre o amou, mas isso não impediu de ter cedido à tentações, coisa que acontece desde a origem dos tempos. Há uma estatística da Inglaterra (que é um país conservador) que cerca de 15% das crianças registradas não são dos pais que registram. Ora, nem homens nem mulheres são 100% castos.

Bento realmente manifestou desprezo e abjeção por Ela e pelo menino, o que me incomodou muito e me despertou muita dó dos dois. Ele aparentava ser uma personalidade mimada, narcisista, obsessiva e vingativa, incapaz de perdoar. A vida quase nunca vai por onde gostaríamos que fosse, shit happens.

E sobre isso há uma cena no primeiro capítulo em que aparece ele velho e ela menina, se encontrando e dançando, ao modo teatral da série, que parece até uma reconciliação entre os dois.

Se ela errou, e acredito que errou, merecia perdão, embora tenha sido a própria intransigência dele que tenha tornado a história tão impactante a ponto de permanecer comentada já um século e tanto depois de publicada.

Enfim, uma história magnífica que não por acaso se tornou um clássico, não somente do autor, como da literatura brasileira, e também, por que não comentar em relação a minissérie Capitu, uma produção incrível, demonstrando a maestria da Globo na teledramaturgia.