Tenho comentado recentemente (aqui e aqui) sobre o estado geral da Educação brasileira, a qual vem alcançando péssimos resultados em avaliações internacionais, e a amiga Bianca, professora, deixou um comentário em um dos textos, que republico aqui em forma de post, para fins de registro e destaque.
São palavras de alguém que está dentro do sistema, diariamente, como professora e gestora, portanto, são palavras de quem sabe do que está dizendo (os grifos são meus):
Olá, amigo!
Olha, o que dizer de toda a palhaçada que tem se tornado a educação brasileira, em especial na rede pública de ensino?
O que percebo, enquanto professora e também cidadã, é que a educação está cada dia pior. Vive-se um faz de conta: o professor faz de conta que ensina e o aluno faz de conta que aprende. O fato é que os governantes querem apenas bons resultados, não se preocupam com o processo, as secretarias de educação, por exemplo, só querem saber de altos índices de aprovação, porque, caso contrário, o professor é tido como incompetente.
É óbvio que muitos professores fecham os olhos e passam os alunos de ano por medo de serem punidos em suas avaliações docentes, e aí os alunos continuam sendo passados sem saber os conhecimentos mínimos de cada série/ano. As políticas públicas existentes visam apenas o assistencialismo, não há uma relação entre muitas dessas políticas com o aprendizado dos alunos, então é lógico que quando chegam as provas externas (que cá entre nós são facílimas) eles se dão muito mal, pois não adquiriram nenhum conhecimento e também as próprias crianças não dão a mínima para o resultado dessas provas.
No entanto, a escola que vai mal nos resultados é punida por suas secretarias como se a culpa fosse exclusivamente da unidade escolar. Sem contar o baixo salário dos professores e a ausência da família na vida escolar de seus filhos.
Infelizmente, vivemos nesse dilema… e que, acredito, não se resolverá facilmente, pois é cômodo para os governantes não formar um povo inteligente. É isso: país sem pobreza, mas com muita falta de conhecimento!!!!
Bom, desculpe o desabafo…
Bianca Leilane
Pois então, o que dizer?
Também acho que este é um problemão, de nível nacional, que não se resolverá facilmente, entretanto, nem por isso devemos desistir. Não faço parte da Educação formal, mas vários e vários professores já me escreveram dizendo que usam meus textos para discussão em sala, portanto, tenho um pezinho lá, e me interesso muito pelo assunto.
Por isso volta e meia comento algo a respeito, e, apesar do nível mediano de acessos a este site, ajudo a divulgar material de quem já está na arena brigando por uma educação melhor, como as professoras Amanda Gurgel e Ana Campagnolo. Se eu conseguir conscientizar UMA pessoa sobre a importância do assunto, já está valendo.
Quanto aos pais, que sabem espernear por uma educação melhor, mas não tiram um tempo para acompanhar o estudo dos filhos, cabe um puxão de orelha, chamando a atenção deles para algo importantíssimo, que é estarem presentes na educação de seus filhos, sob o risco de estarem colocando no mundo pessoas alienadas, que acabarão se tornando outros escravinhos do sistema.
Quanto a nós, como cidadãos, cabe levar a política mais a sério, se interessar, e dar a devida atenção às propostas dos candidatos que levem a Educação a sério. Sei que é uma fala utópica, mas por exemplo, ontem mesmo me deparei com esta notícia, cujo projeto do deputado Peninha parece muito interessante e necessário para dar aquele passinho à frente na educação. Talvez o projeto não seja aprovado na câmara, quem sabe justamente por faltar no congresso mais deputados com esta visão.
E somos nós que os colocamos lá, para o bem e para o mal.
Assistencialismo
De modo geral, sou a favor do programa Bolsa-família, tanto como forma de distribuição de renda, como na forma de impulso à economia doméstica. Mas isso não me impede de reconhecer que o programa ainda possui suas falhas. E a professora aqui aponta uma muito grave: O principal quesito para receber o benefício está apenas na frequência dos filhos na escola, e não também no desempenho deles nos estudos. Dessa forma, o benefício do governo adota apenas a infrequência como critério de exclusão do programa, e não também, o mal desempenho no estudo. Isso, claro, ajuda a reduzir a evasão escolar. Mas gera, ou revela, um problema: O despreparo da infra-estrutura educacional pública para receber esse contingente de alunos.
Então, este é o cenário que temos: Escolas de modo geral já mal estruturadas, e inchadas de alunos, que funcionam mais como depósito de filhos, do que como ambiente de ensino e preparo para a vida. Crianças estas que não sofrem qualquer pressão ou cobrança dos pais por esforço e bons resultados.
Como se vê, a coisa está precária mesmo. Aqui neste país, talvez mais do que em outros, para o sujeito se dar bem, tem que ser esforçado, se interessar e puxar pela cabeça.
Do contrário, vai ser alguém que estudou, mas não aprendeu nada.
Maristela
03 de abril de 2014 as 15:15
O que dizer? Posso falar? Essa realidade não é só da escola pública!
A negligência e preguiça dos pais está colaborando para essa realidade terrível.
Antigamente uma das pragas do apocalipse eram os gafanhotos… hoje em dia é a Pedagogia.
Veja bem, não disse os pedagogos, mas a Pedagogia ideológica que está sendo “vendida” nas universidades! Tudo hoje em dia pode traumatizar os alunos: ditado, tabuada, conjugação verbal enfim, o que antes valia hoje não vale mais. Mas o que colocaram no lugar? Aparentemente nada. A não ser, é claro, mais ideologia.
Uma amiga, cuja filha tem 9 anos e estuda numa escola considerada top, viu que a filha errava muito as palavras e resolver fazer ditado por conta própria toda noite com a filha. Um dia ela ouve essa máxima: “mãe, você sabia que eu posso te denunciar no conselho da infância pelo que você está fazendo? Isso é exploração”
Que tal?
Não somos vítimas dessa situação somos cúmplices!
Ótimo tema! Abs
Ronaud Pereira
03 de abril de 2014 as 16:17
Pois então, Maristela! Não bastasse toda ordem de problemas estruturais, temos ainda a “pedagogia progressista que visava a libertação das classes oprimidas”, a qual tem conseguido exatamente o inverso de seu propósito, num fracasso claro e inegável. Resta saber se essa gente que acredita tanto nessa pedagogia era ingênua, ou má intencionada, mesmo.
Obrigado pelo comentário 😉
Bianca Leilane
07 de abril de 2014 as 20:44
Olá, Maristela!
Concordo com você, essa realidade não é exclusiva da rede pública, na rede privada também temos pais que não colaboram, mas é em menor quantidade. Bem ou mal, o pai que tem um filho na rede privada quer um ensino melhor para os eu filho, pois, afinal, ele está pagando por isso, é essa a visão que se têm. mal sabem os pais de alunos de escola pública que pagam muito mais com os seus impostos, que deveriam, também, exigir melhor qualidade de ensino.
Mas, como disse nosso amigo Ronaud, não podemos desistir. A educação AINDA tem o poder de transformar, e isso dependerá de todos os envolvidos: educadores, alunos, pais…e governantes!!! Porém, arrisco a dizer que quem ainda tem o maior poder somos nós professores. Se cada professor soubesse a autonomia e poder transformador que tem em suas aulas….muita mudança ocorreria.
Vamos em frente, não percamos a esperança. Nossas crianças precisam de alguém que lhes mostre caminhos…e não podemos ficar de braços cruzados esperando que isso venha da família ou da “política”.
Um abraço!
EDNARDO
19 de abril de 2014 as 8:44
Muito válido os comentários acima, mas acredito que o problema é muito mais profundo. Sou aluno de Direito de uma faculdade privada e trabalho como vigilante em uma escola de idiomas que pertence ao Governo do E/S.
Vivi em vários países como Bélgica, Irã e Cingapura e atualmente vivo no Brasil. É perceptível que Cingapura e Bélgica são lugares em que a educação é vista de forma séria e os resultados são facilmente notados nos exames internacionais. Mas em se tratando de Brasil e Irã, principalmente o primeiro, que é onde vivo, existe a falta de uma atmosfera educacional, ou seja, carecem às pessoas perceberem que a educação é importante, falta às pessoas perceberem que o trabalho é importante, e isso não ocorre – há exceções.
A um, os professores reclamam do salário baixo, porém, quando observamos vários deles, vemos que grande parte não poderia nem estar em uma sala de aula, dada a precária formação acadêmica e humanística. A dois, os pais dos alunos, independente de classe social, não tem a menor noção sobre o que é educar uma criança, as enchendo de brinquedos e incapazes de dizer ‘Não’ com medo de traumatizar os filhos – há exceções -, quando não, acreditam que bater resolve. A três, os alunos não entendem o porquê de se educar, o porquê da leitura, o porquê de gostar de política etc. Não entendem, porque aqui no Brasil não há uma atmosfera educacional, valoriza-se o não saber mais do que o saber, os valores se inverteram, aliás, os valores sempre foram invertidos.
Acredito que estamos em um lento processo, essa “mentalidade educacional” requer tempo para se solidificar, e , este tipo de debate, serve para que possamos evoluir nessa questão.
Ronaud Pereira
20 de abril de 2014 as 20:17
Seu comentário completa bem o artigo, Ednardo. Obrigado!