Expressar nossas aflições resulta num grande efeito terapêutico.

Muito se fala em pensar e afirmar coisas positivas, mas a grande verdade é que falar sobre nossas dificuldades e sentimentos ruins pode resultar em um alívio mais imediato e efetivo.

Até porque muitas vezes, para conseguirmos pensar positivamente, e elevarmos nosso padrão de vibração espiritual, o melhor começo é expressar de alguma forma, seja falando ou escrevendo, o que nos atormenta por dentro. Porque realmente nos livramos de boa parte desses tormentos ao falarmos sobre eles, ainda que momentaneamente.

Segurar algo na mente é como segurar a respiração. Se você persistir, vai sufocar. Deepak Chopra

Há duas formas efetivas de expressar (e pôr, literalmente pra fora) o que se está sentindo:

Chora!

Chora!

Escrita

No texto “A escrita como catarse” já comentei sobre este hábito que mantenho por muitos anos.

A escrita tem função fortemente terapêutica para quem resolve expressar suas emoções, fraquezas e e dificuldades nas páginas de um caderno ou na tela em branco do computador. A ancestralidade do ato de se escrever diários demonstra a efetividade da escrita como forma de libertação emocional.

Escrever nos ajuda a ordenar a teia confusa dos nossos pensamentos e dessa forma nos permite refletir com mais isenção sobre nossas sensações ruins, trazendo grande alívio. O próprio ato de parar, encontrar um lugar, papel, caneta e tempo para se concentrar em si mesmo já é por si mesmo um ato terapêutico profundamente eficaz contra o estresse diário.

Mas para além desta “pausa” que nos concedemos em meio à correria diária, o ato nos ajuda a catalisarmos nossos sentimentos ruins, na medida em que pensamos no que nos incomoda e articulamos uma forma de expressar aquilo, conscientizando-nos das nossas sensações.

Durante esse processo, ocorre uma verdadeira limpeza interna, e ao longo dos dias, tudo vai se amenizando dentro de nós.

Vale lembrar que o ato de escrever não precisa se restringir a relatos e descrições do que se vivenciou ultimamente, mas pode também se expandir para o registro criativo de histórias, em especial, para a reinvenção do que se vivenciou, através do registro da versão positiva das cenas vividas.

Fala

Escrever é um bom começo, e um hábito saudável para a alma no longo prazo, mas não substitui o ato de falar.

Verbalizar os próprios sofrimentos e aflições traz um enorme alívio para as pessoas.

A ligação entre nossa fala e nossas emoções é meio que indistinguível, já que, sob forte pressão emocional, basta discorrermos sobre o que estamos sentindo e logo caímos no choro.

Eu não sei de que maneira esse mecanismo funciona, mas expressar o que sentimos possui um poder de transformação interior inacreditável.

É como se devolvêssemos para o mundo aquilo que ele nos deu. É uma vingança.

Coitado de mim que sofro TANTO

Por orgulho, seja na forma de brio ou de vergonha, muitas pessoas não conseguem admitir suas fraquezas, não conseguem compartilhar o que sentem, e vão guardando até que isso extravase por conta própria, quase sempre através de doenças ou acidentes.

E essas pessoas não conseguem fazer isso porque falar sobre nossas aflições INEVITAVELMENTE nos colocará numa posição de vítima; e parecer um coitado diante dos outros é desconfortável. Mas a necessidade delas de manter a pose é maior.

Eu não tenho esse problema 🙂 Dependendo da pessoa, falo tudo que se passa comigo, até o que não devia. Quem acompanha este blog sabe bem disso. Acho que omitir nossas falhas, fraquezas ou imperfeições como se não as tivéssemos é meio que alimentar a hipocrisia.

Vale comentar que não é porque se está desabafando que é necessário acreditar-se vítima do mundo. Sei perfeitamente que todos somos totalmente responsáveis pelo que nos acontece. É importante compreender que desabafar é apenas um ato temporário para se livrar de um sentimento involuntário, que pode – e deve – ser extravasado.

Fala que eu te escuto

A questão que pode dificultar um pouco este hábito é “com quem” falar o que sentimos?

Precisa ser alguém de confiança e pouco reativo, ou seja, que aceite o que estamos sentindo sem ficar dizendo ah mas eu no seu lugar faria isso e aquilo; Alguém que já tenha maturidade suficiente para entender que no lugar do amigo teria as mesmas dificuldades; porque sabe que tem suas próprias dificuldades, que aos olhos dos outros também podem soar exageradas ou ridículas; porque já entendeu que somente cada um sabe a delícia e a dor de ser o que é.

Veja também: Eu imploro, me ouça

Há algumas soluções bem fáceis para isso caso não se tenha aquele amigo confidente: A primeira é contratar um psicólogo, o que é o ideal já que são pessoas preparadas para direcionar suas conclusões para uma postura mais aberta e construtiva. Mas caso isso seja difícil, há uma solução incrivelmente simples:

Falar sozinho.

Para isso é necessário apenas estar sozinho, num lugar em que ninguém nos ouça.

Hoje em dia há aplicativos para celulares que gravam sua voz. Então você pode até gravar o que está sentindo e ouvir depois. Mas isso é só uma opção não tão necessária.

Este hábito só possui vantagens: Você pode falar até o que não diria para um psicólogo, você pode falar até o que não diria nem sob a ameaça de uma faca no pescoço. Porque a garantia de não haver julgamento é absoluta.

Falar sozinho, para quem tem uma certa sobriedade intelectual soará bem ridículo. Mas isso só demonstra uma das prováveis muitas barreiras emocionais que o indivíduo traz consigo. Afinal, se ninguém estará ouvindo, o sentir-se ridículo é julgamento dele próprio. O primeiro passo é permitir-se ser ridículo. Ao menos sozinho…

Uma dica para quem quer tentar e não sabe como começar. Feche os olhos, preste atenção no que está sentindo e tente dizer mais ou menos assim:

Eu me sinto __________ porque ___________. 

Tipo:

Eu me sinto triste, porque o joãozinho roubou minhas balas.

Todas as nossas falas girarão em torno de algo semelhante à frase anterior 🙂

Será um sentimento negativo motivado por alguém, algum fato ou coisa que não se comportou / aconteceu como queríamos.

Tudo sempre será resultado de um ego muito orgulhoso ferido por fatos que ele não esperava ou queria.

O fundamento da Oração

Fala que eu te escuto, filho

Fala que eu te escuto, filho

Há orações para agradecer, há orações para pedir, há orações para mentalizar um desejo, e há orações que são verdadeiras súplicas por misericórdia. Estas últimas especialmente possuem um forte traço de desabafo. E sob este ponto de vista, entendemos melhor porque os ateus costumam se referir a Deus como o amigo imaginário dos religiosos.

Bem no fim, Ele é isso mesmo 😉

Porque o que importa já não é se Ele existe ou não existe, e sim que as pessoas acreditem que estão falando com alguém, e com isso, desabafando suas angústias.

Deus é o amigo imaginário que nos ouve quando não temos ninguém para nos ouvir.

É a confissão, e não o padre que nos absolve. Oscar Wilde

As palavras orar e oral têm a mesma origem latina e se referem à boca. Desta forma Oração significa o mesmo que Verbalização, ou seja, expressar o que se sente através da boca.

E a antiguidade do ato de orar demonstra que desde há milênios os antigos já perceberam a importância de se oralizar o que sentimos para escaparmos das nossas prisões emocionais.

E o alívio que as orações nos proporcionam confirmam a efetividade do ato.

Por que funciona?

Não saberia explicar por que o ato de falar ou escrever funciona tão bem para aliviar nossas dores. Mas arriscaria uma hipótese:

Tudo gira em torno do nosso orgulho.

Seja nas suas várias formas, o orgulho  forma um bloqueio emocional e espiritual que impede a recepção da Luz.

Porque o orgulhoso sempre tem medo de perder o posto alcançado. Ele criou uma imagem de si mesmo, com a qual se sente confortável e aceito, e luta com unhas e dentes para manter essa imagem. E essa luta esgota emocionalmente, porque os medos de que ela seja perdida destroem a pessoa por dentro ao longo do tempo.

A derrota dessa luta para se manter uma imagem ideal aos olhos dos outros chama-se vergonha. Sempre que sentimos vergonha, é porque estamos sendo vistos do jeito que somos realmente, o que não gostamos de admitir.

É preciso descer do palco. E deixar lá em cima a necessidade de aparentar ser o que não é; a necessidade de ser forte aos olhos dos outros. Porque se essa descida não for voluntária, acontecerá de formas mais drásticas: doenças, acidentes e grandes perdas.

Essa descida voluntária se faz admitindo, verbalmente, todas as nossas limitações, fraquezas e fracassos, por mais ridículas que possam parecer (e sempre parecem).

Isso acontece ao assumirmos, verbalmente, tudo que somos, e o que não somos, que quase sempre não é muita coisa; que quase sempre não é o que gostaríamos. Porque é duro perceber que não estamos à altura de nossos sonhos e ideais.

Ao admitirmos nossas imperfeições e nossas fraquezas, nos humilhamos, no sentido de humildar-nos, e na humildade absoluta, encontramos a nós mesmos, o que somos realmente. E assim, nos despimos da casca de orgulho que impede que recebamos a luz, e que com ela enxerguemos novos caminhos e possamos atrair coisas boas.

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