Vida bovina – Crônica

O sol descia em ondas dos céus, e deixava a laje tão quente quanto as areias da praia, quando nela queimávamos os pés, descalços, desprevenidos, crianças.

Sobre a laje, um grupo de casais faziam um churrasco regado a MUITA CERVEJA, protegidos por guarda-sóis unidos. Os homens, naturalmente gordos, com suas mulheres devidamente gordinhas, porque suas metas mais ambiciosas não passam de reunirem-se para comer e beber. Quando não comem nada, bebem. Quando não reúnem-se em casa para um churrasco, reúnem-se no bar para beber… e comer uns petiscos. Quando não estão em casa, nem no bar, estão num restaurante comendo… e bebendo. Não fosse a bebida, todos já teriam se jogado de algum penhasco.

Enquanto as mulheres tagarelavam na cozinha (sobre homens), os homens, em frente à churrasqueira, taravam a bela mulher do vizinho ao lado, bela mesmo, magrinha, lindona. E tiravam onda da churrasqueirinha do vizinho (sem trocadilho), daquelas caseiras, onde você tem que quebrar o carvão para ele caber lá dentro e onde você só assa um filé por vez. Via-se que os vizinhos não eram dados à prática do churrasco, e talvez mesmo por isso, quem sabe, eram magrinhos e esbeltos.

Enquanto os vizinhos se atrapalhavam com sua churrasqueirinha, o clube dos gordos observava a cena de longe, exibindo cada qual um semblante que transitava entre a conformação e a aquela invejinha intrigada com um ponto de interrogação no ar, sem conseguir deduzir por que suas mulheres não eram daquele jeito, magrinhas e bonitas – não, eles não olhavam para a própria barriga – ou quem sabe porque não eram eles que estavam ao lado da vizinha lindona, assando uma “carninha” pra ela (para engordá-la como fizeram com suas mulheres).

E assim continuaram a tarde toda, sob o escaldante sol do verão que chegava, cada qual mastigando bovinamente seus suculentos churrascos, com suas latinhas de cerveja na mão.