Recentemente li um texto, aqui, em que o autor afirma que o gênio é aquele que se dedica integralmente ao assunto de seu interesse, e daí vem naturalmente seu grande êxito na área de estudo. Êxito devido ao profundo estudo, à profunda dedicação, ao pensar ininterruptamente nas questões sem solução até a ela, à solução, chegar! E conclui o autor que toda essa dedicação tem um efeito colateral – na qual eu vejo pouco problema – que é o efeito alienante. Pois bem, nada mais verdadeiro. Porém mais adiante no texto o autor afirmou:

Desnecessário falar da importância de encontrar (que é diferente de buscar) prazer naquilo que se decidiu fazer a vida toda. A partir daí entraríamos numa longa (mas interessante) discussão sobre vocação e sobre a tristeza que é notar massas ignaras vivendo sob a ilusão de que “ganhar dinheiro” é uma vocação a ser cumprida, quando se trata — óbvio, óbvio — de uma conseqüência, como o prazer, a satisfação e o sono tranqüilo. A verdadeira genialidade é sempre introspectiva.

Aí o autor acertou ao citar: “longa (mas interessante) discussão”. Pois é aí que gostaria de expor meu ponto de vista.

Pois notei uma certa conotação negativa em se buscar o dinheiro primariamente. No entanto vejo que “lidar com dinheiro” é para alguns tão forte talento como é para outros cozinhar magistralmente. É natural para eles, é vocação. É o talento da negociação, que tão bem fazem e tão longe os levam. Não se esforçam para ter que pensar no “modo” dinheiro. Tudo para eles é lucro, juros, ganhos, vantagens. Mas de forma alguma de modo pejorativo. É assim e pronto. Nesta categoria encontram-se certamente toda ordem de investidores, banqueiros e até o dono daquela lotérica da esquina. Os que longe chegam nessa atividade, podem ser (e são) muito justamente denominados como “gênios financeiros”.

O erro certamente está nos indivíduos que querem viver determinado padrão de vida, notadamente imposto por uma mídia muitas vezes desumana, que prioriza o ter ao invés do ser, e que conduz as pessoas a concluírem que quanto mais tiverem, melhores serão.

A despeito da ingenuidade própria de quem não vê o mundo de forma crítica, e vão cegamente atrás do que lhes é dito, esses indivíduos alimentam em si um certo traço prepotente, em que reforçam algo de nossa própria natureza que é a característica competitiva em que uns devem ser melhores que os outros. E que eles podem chegar a tanto se trabalharem 12 horas por dia numa atividade sobre a qual nunca pararam para pensar e observar que no fundo, dispensam, ou mesmo, odeiam.

Há um detalhe, essas pessoas não se perguntam, internamente, se tem condições ou recursos emocionais suficientes para “encarar” o desafio de manter um padrão de vida que pode não ser o melhor para elas. Viveriam melhor de forma mais simples, como sugere o texto do autor aqui citado, se dedicando a áreas em que sentissem um prazer natural em estudar e praticar. Mas não, renegam sua própria natureza em prol da obtenção de dinheiro, e isso sim, não me parece nada óbvio.

Repito aqui uma frase encontrada ao acaso por mim no emaranhado de frases constantes neste site, que é a seguinte:

Só há um sucesso: Viver à própria maneira.

E essa frase resume muito de meu ponto de vista. Levando em conta o tão relativo “não prejudicar os outros”, eu diria que, se há alguma regra para a vida, certamente é aquela regra criada por nós mesmos. E ainda com outra ressalva: Que seja esta “regra” criada com base no que sentimos, e não com base no que nos é dito. Enfim, esta “longa (mas interessante) discussão” ainda iria longe.