Hoje, motivado por um desacordo que exigiria muita energia para pouco resultado, publiquei uma brincadeira besta no Facebook:

Discutir ou não discutir? Assinale a alternativa correta:

( ) não
( ) nunca
( ) jamais
( ) nem pensar
( ) não mexe com isso
(x) Todas as alternativas anteriores

E uma amiga lá comentou:

Depende do assunto e da pessoa em questão. Se for uma pessoa informada, e tiver bom senso e civilidade vale a pena discutir. Caso contrário, nunca, o que para mim, é = jamais.

Sim, é o ponto de vista mais razoável sobre o assunto.

Alguém está errado na internet

Alguém está errado na internet

Mas tenho pensado ultimamente que nem assim vale a pena discutir. A gente discute, discute, e pouco ou nada muda. A discussão é um chiclete mental.

Ideias e palavras só tem valor quando postas em prática.

Só a ação, a atitude, a iniciativa mudam alguma coisa.

Por isso na sociedade, para as coisas práticas e úteis, existe o que chamamos de autoridade. Se um sujeito paga o meu salário, por exemplo, de modo geral é a opinião dele que vai prevalecer. Ele só vai ouvir a minha opinião caso ela eventualmente o ajude a manter seu poder e sua autoridade, isto é, continuar ganhando dinheiro pra pagar o meu salário 🙂

Se as pessoas compartilhassem do mesmo poder em todas as relações, o mundo viveria numa guerra permanente e acredito que ainda viveríamos em tribos.

E as pessoas também não estão muito a fim de mudar de opinião, grupo no qual me incluo. Todos já têm suas crenças pré-concebidas e só mudam de opinião na base do choque, quando perdem algo, quando se desiludem, etc. E observe que na maioria das vezes, NEM QUANDO A PESSOA ESTÁ ABERTA a um novo conhecimento, e o encontra num livro ou numa palestra, consegue colocá-lo em prática. Porque no cérebro tudo entra fácil, fácil, mas para sair dele em forma de atitude e novas posturas é preciso atenção, coragem, certeza, determinação, enfim, qualidades que demoram a surgir em nós, quando surgem…

Mas o que vive dentro de nós, na imaginação e nos sentimentos, tem o valor de devaneios. As coisas só passam a existir de fato quando saem de nós e se transformam em algo visível e palpável, passível de reconhecimento pelas pessoas que nos rodeiam.

Pugilato de idéias

A respeito desse assunto sempre lembro de uma citação de Machado de Assis escrita em 15 de setembro de 1862 na qual o autor se dirige à sua “pena de cronista” na qual ele sugeria que nos mantivéssemos afastados do “pugilato das idéias”.

Antes de começarmos o nosso trabalho, ouve, amiga minha, alguns conselhos de quem te preza e não te quer ver enxovalhada. Não te envolvas em polêmicas de nenhum gênero, nem políticas, nem literárias, nem quaisquer outras ; de outro modo verás que passas de honrada a desonesta, de modesta a pretensiosa, e em um abrir e fechar de olhos perdes o que tinhas e o que eu te fiz ganhar. O pugilato de idéias é muito pior que o das ruas ; tu és franzina, retraite na luta e fecha-te no círculo dos teus deveres, quando couber a tua vez de escrever crônicas. Sê entusiasta para o gênio, cordial para o talento, desdenhosa para a nulidade, justiceira sempre, tudo isso com aquelas meias-tintas tão necessárias aos melhores efeitos da pintura. Comenta os fatos com reserva, louva ou censura, como te ditar a consciência, sem cair na exageração dos extremos. E assim viverás honrada e feliz. (ASSIS, 1938, p. 313)

No começo você sente que o anonimato incomoda. Ficar quieto não é a mais fácil das tarefas. Mas depois você se acostuma e percebe que sua vida segue exatamente como seguiria – e acredito que até melhor, mais leve e sossegada – caso você entrasse e toda e qualquer discussão, só para demonstrar vaidosamente que está… certo.

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Respeitar quem pensa diferente