Eu estou lendo o livro Auto-engano, do economista-filósofo Eduardo Giannetti. Giannetti é aquele que conduziu e apresentou a série O Valor do Amanhã, no fantástico. Não posso deixar de comentar a extrema fineza e minúcia com a qual Giannetti expressa, no papel, seus mais sutis traços de pensamento. O diversificado vocabulário e a riqueza de referências presentes neste livro demonstram sua invejável capacidade. E eu aqui, às vezes perdendo minutos a descobrir qualquer palavra para expressar os pensamentos mais corriqueiros 😉 Enfim…

A meia altura da agradável leitura, encontrei um trecho em que o autor comenta seu ponto de vista em relação à máxima cristã: “Ame ao próximo como a si mesmo”. E achei válido comentar certos aspectos da interpretação do autor em relação à máxima citada. Eis o trecho que me chamou a atenção:

O homem que odeia a si mesmo é incapaz de amar alguém. O imperativo cristão de “amar ao próximo como a si mesmo” parte da premissa do amor-próprio, o que é realista, e propõe que estendamos aos outros, e, no limite, a todos, o amor que sentimos por nós mesmos. O problema é que amar igualmente a todos equivale a não amar ninguém. Distribuir o amor de forma rigorosamente igualitária significaria destruí-lo. Quem diz que ama o próximo como a si mesmo não pensa no que diz ou está mentindo – alimenta-se e dorme regularmente enquanto tem gente passando fome na esquina. pag. 109.

A princípio é isso mesmo. Entretanto me coloquei a analisar (em suma, viajei sobre…) as palavras exatas utilizadas por Jesus em seu mandamento maior, e me ocorreu uma conclusão diferente:

Tivesse Jesus dito: “Ame A TODOS como a si mesmo”, então sim, o parágrafo de Giannetti aqui citado faria todo o sentido, e as palavras de Jesus bem poderiam ser tidas como impossíveis de serem praticadas.

ENTRETANTO…

"Amar ao próximo", na prática

“Amar ao próximo”, na prática

Jesus disse “Ame AO PRÓXIMO como a si mesmo”. E vejo nesta diferença sutil e aparentemente sem importância um mundo inteiro de significado. “Próximo” não diria respeito àqueles que se encontram DENTRO de nosso círculo de contato? Neste sentido, a tarefa não só nos é mais acessível, como faz imenso sentido. Seria tão mais fácil Jesus proferir a palavra TODOS em vez da circunstancial palavra PRÓXIMO!

É lógico que toda essa interpretação é por demais superficial e não há palavra melhor para definir o que eu to fazendo aqui do que “viajando”, já que o termo e o sentido exato utilizado por Jesus, em seu idioma próprio, o aramaico, na verdade, ficaram perdidos na longínqua distância daquele tempo.

Contudo, partindo do pressuposto de que nos amamos minimamente, nada será mais lógico que sejamos capazes de compreender e amar também aos pais, irmãos, amigos pessoais e profissionais, entre outros relacionamentos constantes e PRÓXIMOS que venhamos vivenciar.

Arrisco a afirmar ainda que o sentido de “próximo” não diria respeito sequer aqueles com quem nos deparamos nas ruas diariamente. Mesmo que estivesse ao nosso alcance ajudá-los de alguma forma diante da constatação de sua necessidade de ajuda, ainda assim, não fazem parte de nossa vida. É uma ótima maneira e até mesmo uma ótima oportunidade para expressar nossos sentimentos humanos e manifestar nossa generosidade inata. Mas obrigação moral, não é! Que ética enviesada, esta, vista desta forma, não acha? Entretanto não conseguiria a enxergar de outra forma, afinal, não é assim mesmo que vivemos?