Quero que todos os dias do ano
todos os dias da vida
de meia em meia hora
de 5 em 5 minutos
me digas: Eu te amo.
Ouvindo-te dizer: Eu te amo,
creio, no momento, que sou amado.
No momento anterior
e no seguinte,
como sabê-lo?
Quero que me repitas até a exaustão
que me amas que me amas que me amas.
Do contrário evapora-se a amação
pois ao não dizer: Eu te amo,
desmentes
apagas
teu amor por mim.
Exijo de ti o perene comunicado.
Não exijo senão isto,
isto sempre, isto cada vez mais.
Quero ser amado por e em tua palavra
nem sei de outra maneira a não ser esta
de reconhecer o dom amoroso,
a perfeita maneira de saber-se amado:
amor na raiz da palavra
e na sua emissão,
amor
saltando da língua nacional,
amor
feito som
vibração espacial.
No momento em que não me dizes:
Eu te amo,
inexoravelmente sei
que deixaste de amar-me,
que nunca me amastes antes.
Se não me disseres urgente repetido
Eu te amoamoamoamoamo,
verdade fulminante que acabas de desentranhar,
eu me precipito no caos,
essa coleção de objetos de não-amor.
Carlos Drummond de Andrade
***
Bianca Leilane
26 de julho de 2013 as 19:13
Olá!
Lindo texto! Drummond nunca deixa a desejar….rs
Acredito MESMO que quando amamos muito alguém, desejamos intensamente e insistentemente que ela retribua, e esse retribuir (que as vezes soa até egoísta) precisa ser externado. Parece que se naõ o for, não vale….rs….
Enfim, o texto pra muitos pode soar em partes exagerado, mas é preciso pensar na importânica do que é dito.
Bjs!
Ronaud Pereira
26 de julho de 2013 as 20:36
Olá! De fato, creio que sentimentos guardados são sentimentos inexistentes. Para existirem, precisam ser exteriorizados, ditos e ouvidos, e repetidos indefinidamente. Quem se cansa de ouvi-los, talvez nem os mereça. Fala-se muito hoje em “clichês”. Vejo autores desculpando-se por usarem clichês, como se fosse um pecado para a literatura. Acho bobagem. Existir é repetir-se. O ser humano se repete o tempo todo. Respira sem parar, come todos os dias, fala sempre dos mesmos assuntos que mais o interessam, enfim, por que então deveríamos poupar-nos de repetições? Quanto mais em relação ao amor, tão escasso para vidas tão curtas… Acho sim que devemos expressá-lo tanto quanto possível, por isso achei muito digno de Drummond comunicar algo assim, algo até inesperado dado o padrão de poemas que criou 😉 Enfim… Um abraço!
ivone coelho
11 de dezembro de 2013 as 14:15
Gostei imenso do poema, das palavras de Bianca Leilane e das de Ronaud Pereira: “Quanto mais em relação ao amor, tão escasso para vidas tão curtas…”
Drummond… Fantástico!
Ronaud Pereira
11 de dezembro de 2013 as 15:45
Que bom Ivone!!! Seja sempre bem-vinda 😉