Publiquei o comentário abaixo no Facebook, no fim da manhã de domingo, a respeito da tragédia de Santa Maria:

Espero pelo dia em que, diante de tragédias estarrecedoras como esta, as pessoas prefiram ficar em silêncio e se abster de despejar no universo, físico e virtual, suas insanidades interiores, maquiadas de verdades superiores.

De um lado vejo tragédia, e do outro, o ridículo.

De um lado, jovens mortos estupidamente, e do outro, mais estupidez em forma de discussões, julgamentos e filosofias rasas.

Numa hora dessas, ninguém tem razão.

E o mais razoável, é silenciar.

No fim do dia, percorrendo a timeline do twitter, vi que não estava sozinho com esse pensamento:

Formular sua opinião, mas não publicá-la, vale o dobro de pontos neste domingo.
Ana Carolina Moreno (‏@anarina)

Impressionante a quantidade de besteira já pipocando na internet sobre a tragédia. as pessoas não conseguem só ler e ouvir, e se manter em um silêncio chocado e consternado?
Alex Castro (@alexcastrolll – perfil removido)

Os camponeses da aldeia digital erguem sempre suas tochas e foices antes de qualquer julgamento final.
Fabio Rex (@FabioRex)

Em respeito ao sentimento dos familiares, seria prudente evitar tuítes com tantos detalhes e palpites furados.. Vejo coisas. Desnecessário.
Monique Prada (@MoniquePrada)

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Apenas esclarecendo que não se está criticando quem manifestou seu pesar, pois também o senti, e, sem palavras, o máximo que consegui foi compartilhar a mensagem do Carpinejar. Me incomoda sim, essa compulsão que muitos têm de falar em horas impróprias, quando o mais sensato, me parece, é calar.

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A internet abriu espaço para todos falarem o que quiserem.

Aqui a liberdade de expressão atingiu seu auge.

Pena que junto a esta liberdade, não tenha sido dado também, às pessoas, ter o que dizer, ou noção do que está dizendo, ou do momento certo para falar.

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Se me foi possível aprender algo desta tragédia de ontem, foi que uma parte considerável da população, da mídia e da internet desconhece completamente os significados das palavras respeito e empatia.

Ao mesmo tempo que me serviu de indicador sobre quem levar a sério daqui pra frente.

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Um ponto de vista sensato sobre tudo isso:

A TRAGÉDIA EM SANTA MARIA (RS) E A FALÊNCIA MORAL DE TODOS OS DIAS

Mais de 230 mortos numa tragédia que poderia ter ocorrido em qualquer lugar deste país e vitimado pessoas que quaisquer um de nós conhecemos, talvez nós mesmos, e ainda temos de testemunhar a disseminada incapacidade — quiçá patológica — de se colocar no lugar do outro, de partilhar da dor do outro; a empatia prejudicada pelo fanatismo religioso, de um lado, ou, do outro, pela imbecilidade enviesada de alguns que se acham o suprassumo da subversão, da mentalidade contestatória do “status quo”.

Enquanto corpos são contados e parentes e amigos perdem o chão, sem futuro certo, diante de jovens sem presente algum, vários crentes de todo o país celebram nas redes sociais, do alto de sua ignorância e intolerância, o suposto castigo de Deus àqueles jovens metidos no que consideravam um “antro de pecado e devassidão”.

Enquanto corpos são contados e choram os que restam vivos, idiotas que se julgam transgressores e politicamente incorretos — justamente porque nunca entenderam o que sempre quis dizer ser uma coisa e outra, histórica e filosoficamente falando — disseminam também pelas redes sociais suas piadinhas de “humor negro” nada originais, totalmente descabidas, insensíveis, insensatas… mas que encontram eco, anuência e cumplicidade em tantos outros internautas que acham o máximo compartilhar a prova de sua boçalidade.

A cada dia que passa, meu pessimismo aumenta. Minha descrença nas pessoas. Sobretudo, em certos indivíduos desta nação de imbecis tomados de uma analgesia moral congênita ou cultural.

Camilo Gomes Jr.