Proclamação da Independência – Pedro Américo

Segue abaixo, carta publicada em 1826 pelo Maçom Padre Belchior Pinheiro de Oliveira, da Loja Comércio e Artes, amigo e confidente do Príncipe Dom Pedro e que o acompanhava em sua viagem de retorno ao Rio de Janeiro, vindo de Santos:

“O Príncipe mandou-me ler alto as cartas trazidas por Paulo Bregaro (Correio) e Antonio Cordeiro (Major). Eram ellas: uma instrução das Côrtes, uma carta de D. João, outra da Princesa, outra de José Bonifácio e ainda outra de Chamberlain, agente secreto do Príncipe. As Côrtes exigiam o regresso immediato do Príncipe, a prisão e processo de José Bonifácio; a Princesa recomendava prudência e pedia que o Príncipe ouvisse os conselhos de seu Ministro (José Bonifácio); José Bonifácio dizia ao Príncipe que só havia dous caminhos a seguir: partir para Portugal immediatamente e entregar-se prisioneiro das Côrtes, como estava D. João VI, ou ficar e proclamar a independência do Brasil, ficando seu Imperador ou Rei; Chamberlain informava que o partido de D. Miguel, em Portugal, estava vitorioso e que se fallava abertamente na desherdação de D. Pedro em favor de D. Miguel; D. João aconselhava ao filho obediência à lei portuguesa. D. Pedro, tremendo de raiva, arrancou de minhas mãos os papéis e, amarrotando-os, pisou-os, deixou-os sobre a relva. Eu os apanhei e guardei. Depois, abotoando-se e compondo a fardeta, pois vinha de quebrar o corpo à margem do riacho Ipiranga, agoniado por uma dysenteria com dores, que apanhara em Santos, (…) caminhou alguns passos, silenciosamente, acompanhado por mim, Cordeiro, Bregaro, Carlota e outros em direção aos nossos animaes que se achavam à beira da estrada. De repente, estacou-se, já no meio da estrada, dizendo-me: Padre Belchior, elles o querem, terão a sua conta. As Côrtes me perseguem, chamam-me com desprezo de Rapazinho e de Brasileiro. Pois verão agora quanto vale o Rapazinho. De hoje em diante estão quebradas as nossas relações; nada mais quero do Governo portuguez e proclamo o Brasil para sempre separado de Portugal!” 

Nada do grito “Independência ou Morte” ou dos belos cavalos brancos pintados no quadro de Pedro Américo, pois as viagens eram feitas em mulas.

Esta carta é costumeiramente utilizada para desqualificar a monarquia brasileira de modo geral e a figura de Dom Pedro, especificamente.

Se refletirmos, chegaremos a conclusão que, se pudéssemos voltar no tempo para diante de todos os “atos heróicos” da história, eles nos pareceriam bem menos majestosos do que a glória que a história lhes concedeu.

Será que Carlos Magno, Napoleão ou Abraham Lincoln nunca tiveram “dysenteria” pouco antes de seus momentos importantes? Ora…

Em qualquer época, a realidade dos fatos sempre foi bem menos gloriosa do que a história que nos contam deles tenta nos convencer.