Comentário da juíza Cláudia Rodrigues

Um dia, recebi uma ligação do assessor do juiz de uma comarca vizinha perguntando se uma certa pessoa tinha feito estágio comigo.

Eu não lembrava do nome mas antes de dar um categórico não como resposta, busquei nos arquivos e na memória da equipe se aquela pessoa havia trabalhado comigo em algum momento. De fato, nunca tivera qualquer contato com ela.

Então, ligamos de volta e informamos que a informação era falsa.

Daí eu soube que a tal pessoa constara em seu currículo que fora minha estagiária e por isso fora contratada. Passados seis meses de absoluta incompetência para fazer um despacho sequer, o magistrado começou a duvidar da experiência anterior do sujeito e resolveu checar as credenciais, descobrindo que fora enganado desde o início.

Estarrecedor, mas parece que isso virou praxe nacional. De artigos plagiados a diplomas inexistentes, biografias vão desmoronando a olhos vistos, num piscar de olhos.

No país da absoluta idolatria aos títulos, diplomas e currículo Lattes de araque, os “espertos” e os falsários vão se dando bem e ocupando espaços com muita prudência e sofisticação, com muita pompa e circunstância.

Enquanto dermos mais valor à aparência do que ao conteúdo, nunca sairemos do buraco, nunca nos libertaremos da mediocridade.