Três palavras que estão tendo seu significado alterado pelo povo do auto-desenvolvimento:

Latente – Usam o termo como se significasse algo latejante ou pulsante, quando na verdade algo latente significa algo oculto, escondido, não usado.

Luxúria – Usam como se significasse gosto pelo luxo, quando na verdade significa apetite sexual incontrolável, lascívia, beirando a deprevação. É o nome de um dos 7 pecados capitais.

Assertivo – Usam como se significasse alguém que acerta muito, quando significa na verdade auto-afirmação.

São três palavras de sonoridade fluente e agradável, que o povo começa a usar pra valorizar as próprias falas, para parecerem mais cultos e inteligentes, desconhecendo o significado delas.

Essa evolução (ou involução) semântica das palavras é algo perfeitamente normal, mas ler mais literatura e menos auto-ajuda, além de usar o dicionário de vez em quando, não custa nada.

Outras palavras

Tenho feito alguns cursos de marketing recentemente e nesses cursos o que não faltam são usos indevidos de certas palavras. Mais duas que ouvi, usadas de forma inadequada:

Contingência – O rapaz a utilizava no sentido de estar precavido contra imprevistos, quando na verdade a palavra contingência significa justamente o próprio imprevisto. A reação prévia a eles – que era o que ele realmente queria passar – bem poderia ser algo como estar estruturado, precaver-se, utilizar recursos redundantes, etc. A propósito, redundância técnica é algo muito utilizado em aviação, onde as coisas realmente não podem falhar e, se falham, tem que ser prontamente resolvidas.

Consistência – Pessoal do marketing digital utiliza muito esta palavra no sentido de manter “a consistência” nas vendas, ou de se manter “a consistência” nas publicações de conteúdo. Mas me soa estranho este uso. Talvez a palavra constância nas vendas seria mais adequada, uma vez que o ritmo de vendas para iniciantes seja mesmo… ora… inconstante. Previsibilidade também seria uma boa opção, uma vez que para iniciantes o ritmo de vendas é absolutamente imprevisível. No caso do conteúdo, talvez a palavra regularidade fizesse mais sentido. Consistência me soa uma palavra voltada mais para questões materiais e químicas. Por exemplo, podemos dizer sem medo que a margarina é mais consistente que o óleo, que é mais consistente que a água, e que a massa do pão é bem mais consistente que a margarina, enfim, divago…

Figurinha Carimbada ou Figurinha Tarimbada? – Vejo muita gente usando o termo “figura carimbada“. Só que não faz sentido algum. Por que uma figura ser carimbada tem tanta importância? Isso acontece porque o uso do termo está errado. O correto é “figura tarimbada“, ou seja, uma figura experiente no assunto em questão. Tarimba quer dizer experiência, prática e este termo tem origem no fato de que tarimba é o nome de um estrado de madeira onde dormem os soldados nos quartéis. Um sujeito tarimbado é um sujeito já acostumado a dormir nesses estrados desconfortáveis.

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O povo do auto-desenvolvimento também tem essa:

Co-criação – co-criação praticamente já se tornou um novo verbete da língua portuguesa. Ao menos para o pessoal do auto-desenvolvimento cosmo-eletro-quântico. Com o sentido baseado na lei da atração universal em que uma pessoa consegue criar sua própria realidade em COnjunto com o universo, já nem utilizam mais o termo no sentido de que você é o criador da sua realidade, o que é bem verdade a propósito, e sim que você é o cocriador da sua realidade, assim mesmo, junto e sem hífen. Fazer o quê, né?

Pré-ignorante

Já faz muitos anos que uma palavrinha básica e simples se viu violada para nunca mais ser utilizada na sua forma correta:

Preconceito – a palavrinha é simples e auto-explicativa. Mas aqui um povo mais intelectual e militante faz questão de dividi-la para tornar seu significado óbvio ainda mais explícito para as suas ovelh… digo, seguidores. Explicam calmamente, e já o escrevem normalmente, na forma de pré-conceito, isto é, vejam só, um conceito prévio de algo que não se conhece. Merecia um Oscar, certo? Errado!

…and the Oscar goes to…

Quântico – Já falei disto aqui. Esta palavra é de longe a super campeã de usos indevidos, principalmente pelo povo mais espiritualista, que acredita veementemente em certas realidades espirituais e procura justificar essa crença – que nada mais é do que crença – através de argumentos de cientificidade, isto é, atribuir fundamento científico a afirmações intuitivas. Algo “quântico” nada mais é do que uma realidade ultra-microscópica, conhecida e alcançada mediante complexas equações matemáticas, realidade esta em que a matéria e a energia apresentam certos comportamentos estranhos à nossa realidade cotidiana, e que dariam margem a uma eventual fundamentação a certos conhecimentos espiritualistas. Porém até hoje nada dessa suposta relação foi comprovada. Não quer dizer que esta relação não exista, particularmente acredito que a relação é plena, porém há que se admitir que ainda não foi comprovada e qualquer relação já estabelecida entre certos conhecimentos espirituais e os estranhos comportamentos da energia nos níveis sub-atômicos não passa de especulação filosófica.

Palavra Poderosa que Não quer dizer nada

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Virei acrescentando outras palavras mal utilizadas conforme for encontrando-as.