Abaixo, trecho de Mari Rivas (a página original foi removida).

Se eu pudesse voltar no tempo hoje, jamais teria feito faculdade. Sim, economizaria tempo, estresse e dinheiro. Sou publicitária e trabalho com comunicação online. A faculdade não me ensinou a escrever bem. Não me ensinou a ser eloquente com os clientes. Não aprendi a usar o Photoshop e nem a desenhar bem na faculdade. Não aprendi sobre Google AdWords e sobre as redes sociais na sala de aula tão pouco. Na faculdade, não obtive nenhum tipo de inspiração criativa e não aprendi a falar outras línguas. Mas aprendi um bocado nos cursos livres que já fiz. Nas aulas de teatro perdi a vergonha de falar em público e a me expressar. Nas palestras sobre tecnologia eu me vi curiosa para pesquisar mais sobre o assunto por conta própria. Viajar me ensinou mais duas línguas. Assistir um filme, ver uma exposição, uma peça e passar o fim de semana num festival me deram um montão de ideias. Se eu pudesse voltar no tempo hoje faria muitos cursos livres sobre tudo o que realmente gosto, desde história e filosofia, até programação de sistemas e por que não, culinária? Poderia até parecer uma bagunça aos olhos de uma empresa pouco visionária, mas com certeza hoje eu seria muito mais completa e realizada.

Para o caso dela, está certíssima. Mas a visão dela não se aplica a todos os casos.

O assunto é complexo e já comentei sobre ele quando ainda estava aprendendo a escrever, aqui 🙂

Primeiramente, vale comentar que a pessoa só entende por completo o que a Mari Rivas quis dizer, DEPOIS que ela faz uma faculdade. Porque tem muita gente que não faz faculdade, mas também não faz esses cursos livres, porque muitas vezes é a faculdade que nos mostra que esses cursos existem, e principalmente, as possibilidades que eles nos abrem.

Sobre este assunto, atualmente, penso assim:

Se o seu objetivo é ganhar muito dinheiro

Embora a crítica seja dura nesse mundo de esquerda, ter como objetivo de vida ganhar dinheiro NÃO é pecado, nem errado.

Mas talvez não será com uma faculdade que você ganhará muito dinheiro. Aliás, elas podem até atrapalhar. Por exemplo, você passa 10 anos estudando medicina porque é uma área rentável, para, dependendo da área escolhida, ganhar seus 15000 reais por mês, enquanto o dono daquele bar badalado da esquina, que só estudou até o ensino médio, ganha 15000 na semana.

Há dois segmentos que podem dar MUITO DINHEIRO, desde sempre: indústria e comércio. Sobretudo o comércio. Então se o que você quer é ganhar dinheiro, e possui as qualidades necessárias para adentrar aos ramos aqui citados, como disposição, ambição, esperteza, criatividade e visão de negócios, então não perca tempo estudando faculdade, vá logo aprender a produzir ou vender (ou os dois), que você vai sair BEM na frente.

A verdade é que você pode escolher a área que for, para sua escolha profissional – industrial, comercial, financeira, artística ou o que for – e ainda assim, ganhar muito dinheiro com isso, DESDE QUE você vá para o lado do empreendedorismo. É como um(a) empresário(a) que você vai faturar alto e ainda assim, estar próximo à atividade que lhe preenche o coração. Por exemplo, você pode amar medicina, mas em vez de praticá-la em consultório, você pode fabricar ou vender aparelhos médicos, que são por natureza, caríssimos e assim, faturar horrores. Não é necessariamente simples, mas é a realidade possível.

Se o seu objetivo é crescer intelectual e culturalmente

Aqui há duas situações bem distintas:

Se a sua vocação lhe exige atuar numa profissão regulamentada, cujo exercício exige formação acadêmica

Aqui entram os cursos tradicionais de direito, engenharia, medicina e outros já regulamentados, cujo exercício só pode realizado sob formação acadêmica. Se você quer ser advogado, promotor, juiz, engenheiro das mais variadas vertentes ou médico também das mais variadas vertentes, então não tem jeito, vai ter que fazer faculdade.

Mas aqui é onde as pessoas costumam se equivocar. Porque essas atuações tradicionais, de modo geral, também rendem um bom salário (mas não MUITO dinheiro, o que é diferente) e as pessoas pensam que para ganhar muito dinheiro, melhor é estudar alguma dessas áreas. Só que a realidade não é assim. Qualquer comerciante da esquina, ou dono de fabriqueta de badulaques quaisquer ganham o mesmo – mas provavelmente bem mais – do que advogados e médicos. Só que se dizer empresário ou comerciante tem menos glamour do que se dizer advogado ou médico.

Há também o segmento acadêmico. Se você tem talento para o ensino e quer lecionar para cursos superiores, se dedicando à vida e à produção acadêmica, também não tem jeito, vai ter que encarar não só uma faculdade, mas também mestrados e doutorados, cada vez mais exigidos no meio universitário.

Se a sua vocação lhe exige atuar em profissões não regulamentadas, sob as quais qualquer mané pode trabalhar

Aqui cabe perfeitamente o comentário da Mari Rivas que iniciou este texto. Se você pode exercer uma profissão sem a obrigação de ter uma faculdade pra isso, então bem no fim, você não precisa dessa faculdade, embora precisará evidentemente formar a si mesmo(a) através de cursos e muita prática.

É claro que uma faculdade dá aquela complementada legal no currículo e agrega uma visão mais global das coisas. Se houver disposição, não será demais. Mas não é imprescindível e, se você já estiver bem posicionado(a) profissionalmente, uma faculdade é, na verdade, bem prescindível.

E aqui vale um último comentário. Esta área das profissões não regulamentadas não é para qualquer um, especialmente no Brasil. A competição é enorme – pela facilidade de adentrar no ramo – e o mercado quase sempre prostituído. É para pessoas que querem sim, crescer culturalmente, mas também para pessoas guerreiras e dispostas a assumir riscos. Dá pra ganhar algum dinheiro? Dá! Mas tem que ser BOM. Se você possui uma tendência mais acomodada e precisa de segurança, então nem tente.

E aí? O que você quer da vida?

Eu queria ter essa visão quando estava para escolher a faculdade que faria, lá pelos idos de 1997.

Teria certamente escolhido melhor.

Acho que qualquer jovem que ler isso aqui terá uma visão bem mais pragmática do que escolher. E até pais e adultos, que também se equivocam em alguns aspectos. Querem que o filho seja doutor, e que ganhe muito dinheiro, quando esses dois fins em alguns casos são até excludentes, e quando a vocação do moleque nem está bem definida ainda.