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Ficção - Mentirinhas bem contadas?

Enviado em 2021-12-09 19:34:05

O texto abaixo é de 22 de fevereiro de 2013, e a seguir, comento minha mudança de opinião em relação ao comentário abaixo:

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A maioria das histórias de ficção poderiam ser resumidas assim:

Começa com tudo bem. Então algo dá errado. O herói se esforça, e consegue fazer tudo voltar a ficar bem. E todos são felizes para sempre.

Me perdoem os afeiçoados por romances e afins, mas a literatura de ficção me parece uma grande perda de tempo e energia. Tudo bem que há histórias interessantes e empolgantes, muitas repletas com passagens perfeitamente possíveis e inspiradoras, outras até com passagens com as quais nos identificamos plenamente.

Mas de modo geral você passa uma vida inteira lendo, assimilando significados e pontos de vista ficcionais dos autores, e no entanto, continua sem saber nada da vida, ou crente de que sabe, no entanto, baseado em filosofias fantasiosas ou totalmente equivocadas em relação à realidade. Quando não, segue patinando e revivendo sempre os mesmos problemas, sem conseguir dar conta da própria vida.
Tentar adquirir experiência apenas com teoria é como tentar matar a fome apenas lendo o cardápio.

Porque a realização de um ser humano jamais significará apenas conhecer tudo em teoria. Ser humano também é manifestar força individual, transformar a sociedade para melhor, construir algo de valor. Isto é, não apenas saber, mas saber fazer. E pode rolar uma frustração muito grande quando o sujeito sabe muito (ou pensa que sabe muito) e não consegue expressar todo esse conhecimento em sua plenitude, na prática.

Livros não são importantes por si. Importante é o que você consegue fazer da sua vida depois de lê-los.

Importante é fazer com que a história de sua vida mereça ser escrita num livro, mesmo que jamais tenha lido algum.

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O tempo é exímio em nos fazer mudar de ideia.

Basicamente porque nossas ideias de juventude são muito idealistas e desprovidas de fundamentação prática. A idade, então, vem paulatinamente nos mostrando a distância astronômica que separa a realidade da teoria, e o possível do ideal, perfeito e inalcançável.

O fato aqui é que hoje entendo a importância da literatura ficcional. Ao contrário do que disse há oito anos, a ficção não é somente teoria, muito menos perda de tempo.

Nossa vida particular é limitada, no espaço e no tempo. Nossas experiências de vida se limitam ao que nos é possível, seja em talentos, em habilidades e em poder financeiro. A literatura de ficção vem aqui complementar nossa existência. Certas histórias, principalmente aquelas com as quais mais nos identificamos, expandem nossa experiência e alargam nossa visão de mundo.

Claro que há ficções e ficções. Umas mais realistas, outras mais fantasiosas. Muitos leitores realmente gostam de "viajar" nas tramas fantasiosas da imaginação fértil e sem freios de muitos escritores. Não é o meu caso. No entanto, tenho feito um esforço por ler algumas ficções clássicas, as quais trazem consigo contextos históricos, e elas têm justamente me ajudado não só a entender melhor nossa formação como sociedade, como também agregado fatos, experiências e visões à minha própria formação, que, por mais que sejam ficcionais, somam à nossa visão de mundo em noção, entendimento e possibilidades.

Como eu disse, há ficções e ficções: romances, drama, aventura, mistérios, ficção científica, fantasia etc. Eu me identifico com os clássicos, quase todos focados em histórias de amor e seus insucessos peculiares. Você não precisa ler tudo, muito menos gostar de tudo. Escolha seu estilo e leia tudo que conseguir.

A verdade é que independente de verídico ou ficção, a pessoa que termina um livro não é a mesma que iniciou sua leitura.

Ronaud Pereira

Publicado em www.ronaud.com/mudancas/ficcao-mentirinhas-bem-contadas/