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Você acredita no que lê, ou ouve?

Enviado em 2010-07-22 16:10:03

Experiência própria. Minha adolescência foi atordoada. Como alguém pouco prático e com uma timidez excessiva, passava meus dias mais em casa do que na rua. Meus companheiros eram revistas e livros que vez ou outra apareciam em casa. Alguns eu mesmo comprava, escassamente, já que à época eram ainda a única fonte de informação concreta. Nem se cogitava algo como a internet.

Também passava muito em casa por desinteresse em relação ao que os outros faziam. Os rapazes da minha idade gostavam de futebol e gostavam de mancomunar coisas idiotas tais como ir em lojas, escolher, escolher e não levar nada só pra sacanear a vendedora. Eram atividades nas quais eu não via muita vantagem. Portanto, era mesmo em casa que ficava.

Era bom, quem tem uma vida interior rica se dá bem sozinho em muitos aspectos. Percebe coisas que os outros não percebem. Aprende a deduzir as coisas por si próprio sem depender do aval ou companhia dos outros. Mas há o lado ruim. É assim, como a única fonte de informação, genericamente, vem dos livros e da televisão, você passa a ver o mundo através de um ponto de vista alheio, quase sempre artificial, produzido sob pressão, e de modo muito pessoal por parte de quem escreve. E você começa a acreditar não só no ponto de vista dos outros, mas no que os outros "aumentam" para dar mais ênfase ao que estão dizendo, já que conteúdo de qualidade, no mundo, vide internet, continua escasso.

E então você passa a viver sob a ameaça do que dizem: O mundo está cada vez pior, a inflação cada vez maior, o desemprego subiu, os jovens não tem chance no mercado de trabalho cada vez mais competitivo. Os mais velhos não tem chance num mercado de trabalho cada vez mais competitivo (os argumentos são os mesmos), num momento você ouve que "o tomate colabora no combate aos radicais livres e ajuda a retardar o envelhecimento", daqui a pouco você lê dizerem que "o tomate pode causar câncer", enfim... Outra coisa: Você já percebeu que os palestrantes, jornalistas, anunciantes, enfim, costumam usar o clichê "cada vez mais"??? É para dar mais ênfase ao que estão dizendo. Eu já ouvi tanto a constatação "o mercado está ficando cada vez mais competitivo" que se fosse verdade, a "competição" já teria se tornado uma guerra.

Bobagem!

A falta de assunto concreto, na sociedade de forma geral e principalmente na imprensa, faz com que fiquem "inventando moda", ou repetindo-se, ou dissecando minúcias irrelevantes ou particularidades de temas abrangentes e consensuais. Tudo por fama, ou para vender mais, ou para estar certo... E eu que não sou religioso mas acho a Bíblia um p*ta compêndio espiritual, lembro de Eclesiastes 1: 14
Atentei para todas as obras que se fazem debaixo do sol, e eis que tudo era vaidade e aflição de espírito.

Boa parte da população vive assim, ao mesmo tempo em que procura se manter "bem informada", acaba incorporando na sua mente informações que além de artificiais, ou inúteis, ou parciais e tendenciosas, podem ser destrutivas. Você passa a acreditar que o mundo é um lugar ruim. Maravilhoso não é, mas também não é o mundo cheio de perigos súbitos que você vê nos jornais, revistas e agora, em doses cavalares, na internet. Tem muita coisa boa acontecendo por aí! Já ouviu falar em classe média midiática? É o que somos... um amplo grupo de pessoas de renda "maisomeno" cujo maior "alimento intelectual" advém de revistas, programas televisivos e do Jornal Nacional. O sujeito assiste ao JN e ao Jornal da Globo e se acha bem informado :(

Posso dizer que somente hoje, me sinto superando esse comportamento. Tenho passado quase que por uma "reestruturação cognitiva" (isso foi dito em 07/2008 e permanece). Vi que muito do que entendia da vida na adolescência, estava errado. Ou pior, eu achava que o modo alheio de entender a vida era o certo. Como se alguém soubesse algo concreto da vida... O que há de mais democrático nessa vida é a nossa ignorância a respeito da mesma. E como é difícil se pôr acima da opinião alheia! Nos preocupamos demais com o que os outros pensam ou acham que é melhor para nós, mas afirmo, não há outro caminho: Ovelhas negras assim são chamadas porque ignoram o que os outros acham melhor. Trilham o próprio caminho e normalmente se dão bem, apesar dos muitos tropeços.

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Ronaud Pereira

Publicado em www.ronaud.com/bom-senso/voce-acredita-no-que-voce-le-ou-ouve/