Enviado em 2010-07-28 00:16:12
Muito se tem falado em física quântica nos últimos anos. E muito se fala em física quântica como base para conceitos místicos e esotéricos. Já vi gente dizendo que "acredita em física quântica", o que deixa qualquer cientista horrorizado.Incerteza
• A mecânica quântica é um cálculo de probabilidades que nos permite analisar a probabilidade de cada possibilidade em dada situação dinâmica. A probabilidade gera a incerteza. Não podemos mais conhecer o paradeiro de um objeto com certeza. O movimento de objetos quânticos está sempre envolvido pela incerteza.
Superposição
• O que significa dizer que a matéria tem natureza de onda e, por isso, pode estar em mais de um lugar ao mesmo tempo? Se isso parece paradoxal, o paradoxo se resolve quando se percebe que as ondas da matéria são ondas de possibilidades (tecnicamente representadas por funções matemáticas chamadas "funções de onda"); elas estão em dois lugares (ou mais) ao mesmo tempo apenas em possibilidade, apenas como a superposição das duas (ou mais) possibilidades.
• Objetos quânticos existem como superposição de possibilidades até que nossa observação cause a realidade da potencialidade, gerando um evento real e localizado dentre os diversos eventos possíveis. Se uma possibilidade em particular tem uma grande chance de se tornar real, graças à observação, então a onda de possibilidade também é forte; quando a onda é fraca, é pequena a probabilidade de que sua possibilidade correspondente se torne real. Um exemplo ajuda a esclarecer a questão. Suponha que liberamos um elétron dentro de um recinto. Em instantes, a onda do elétron se espalha pelo lugar. Agora, suponha que montamos uma rede de detectores de elétrons, chamados contadores Geiger, nesse recinto. Será que todos os contadores acusam alguma coisa? Não. Só um dos contadores detecta o evento. Conclusão? Antes da observação, o elétron efetivamente se espalhou pelo cômodo, mas apenas como uma onda de possibilidade. E a observação fez com que a onda de possibilidade se tornasse um evento real.
Salto quântico
• Objetos quânticos podem dar um salto descontínuo — agora ele está aqui, depois ali; esse salto é chamado de salto quântico. Um átomo emite luz quando um elétron dá esse salto quântico de um estado energético atómico superior para um inferior. É possível observar a natureza radical desse salto quântico se o visualizarmos como o elétron que pula de uma órbita superior, em torno do núcleo atómico, para outra inferior, sem viajar pelo espaço entre as órbitas. De modo análogo, a causação descendente é descontínua sob todos os aspectos possíveis: causalmente (não podemos atribuir a ela uma causa precisa), mecanicamente (não podemos criar um modelo matemático para ela), algoritmicamente (a matemática não se aplica a ela) e logicamente (sua lógica é circular: o observador é essencial para que ocorra o colapso, mas tal observador é apenas possibilidade antes da ocorrência do colapso)
Não-localidade
• Sabe-se, experimentalmente, que objetos quânticos, quando correlacionados de modo adequado, influenciam-se mutuamente de forma não local, ou seja, sem sinais pelo espaço e sem que decorra um tempo finito. Portanto, objetos quânticos correlacionados devem estar interligados em um domínio que transcende o tempo e o espaço. Não-localidade implica transcendência. Decorre disso que todas as ondas quânticas de possibilidade situem-se em um domínio que transcende tempo e espaço, ao qual vamos chamar de domínio da potencialidade transcendente, usando uma expressão de Aristóteles, adaptada por Werner Heisenberg.
Causação ascendente e Descendente
• Antes de a física quântica ser compreendida adequadamente, uma metafísica materialista dominava a ciência — particulas elementares formam átomos, átomos formam moléculas, moléculas formam células, inclusive os neurônios, neurônios formam o cérebro e o cérebro forma a consciência.Essa teoria da causação é chamada de teoria da causação ascendente: a causa vai das partículas elementares, ou micro, até a consciência e o cérebro, macro. Não existe poder causal em qualquer entidade do mundo, exceto nas interações entrepartículas elementares. Mas, se nós mesmos nada somos senão possibilidades materiais, como nossa observação pode reduzir ondas de possibilidade? A interação de possibilidade com possibilidade só gera possibilidades mais complexas, nunca uma realidade. Assim, se só existisse a causação ascendente no mundo, o colapso quântico seria um paradoxo. Na interpretação correta e livre de paradoxos da física quântica, a causação ascendente só é capaz de produzir ondas materiais de possibilidade para a escolha da consciência (não material), e a consciência tem o poder supremo, chamado de causação descendente, de criar a realidade manifestada por meio da livre escolha dentre as possibilidades oferecidas. A consciência não é mais vista como um epifenômeno do cérebro, mas como a base da existência, na qual todas as possibilidades materiais, inclusive o cérebro, estão incrustadas.
Ronaud Pereira
Publicado em www.ronaud.com/ciencia/fisica-quantica-e-seus-principais-conceitos/