Enviado em 2015-07-26 18:47:19
Encontrei dois textos bastante críticos em relação as músicas populares atuais.[...] Dr. Luke, como produtor, tem 16 músicas que lideraram as paradas da “Billboard”, o que o torna o segundo nome de maior sucesso da história, atrás apenas de George Martin, produtor dos Beatles, com 23.
O sucesso de Dr. Luke pode ser explicado de uma maneira muito simples: ele faz exatamente o que seu público-alvo quer.
Esse público-alvo é o jovem de 14 a 22 anos, que começou a consumir música numa era em que CDs já eram obsoletos, só ouve “singles” e nunca discos inteiros, ouve música em fones de ouvido e tem uma capacidade de atenção menor que a de um peixe de aquário (segundo estudos recentes publicados pelo Centro Nacional de Biotecnologia dos EUA, a capacidade de atenção – o tempo em que a pessoa consegue se concentrar em algo até ter a atenção desviada para outra coisa – caiu de 12 segundos em 2003 para oito segundos em 2013, um segundo a menos que o "attention span" de um peixe).
Ou seja: a música de Dr. Luke precisa ter um “hook” (gancho) a cada sete ou oito segundos, uma qualidade sonora ribombante, para soar grandiosa em fones de ouvido (daí o uso excessivo de compressão), e não pode perder tempo até chegar ao refrão. Dr. Luke diz ser fã do tecnopop dos anos 80 de Duran Duran e Tears for Fears, mas acha que essas bandas tinham um defeito grave: “Elas demoravam muito a chegar ao refrão”.
A revista “The New Yorker” fez um perfil interessante de Dr. Luke. Ele foi um adolescente problemático e chegou a vender drogas. Começou a tocar guitarra em conservatórios e foi guitarrista da banda do programa de TV “Saturday Night Live”.
Mas sua vida mudou depois de conhecer o sueco Max Martin, que lhe ensinou os segredos para produzir uma canção de sucesso. Luke aprimorou uma técnica quase matemática de composição e produção, que inclui tabelas com os intervalos entre versos e refrões e uma maneira peculiar de escrever letras, em que essas não precisam, necessariamente, fazer sentido, contanto que todos os versos tenham não só o mesmo número de sílabas, mas uma cadência idêntica em todas as frases.
A técnica é extremamente eficaz, especialmente numa época em que o analfabetismo funcional do público chegou a níveis alarmantes. Basicamente, as pessoas leem e ouvem frases e podem decorá-las e reproduzi-las, mesmo que não façam sentido algum. Aliás, é até melhor que não façam sentido. Dá menos trabalho.
As músicas tampouco devem ter introduções longas, ou até abrir mão de introduções e já começar com um vocal.
Antigamente, as músicas pop tinham introduções mais longas, para que os DJs de rádio pudessem falar por cima delas e anunciar as canções. Hoje isso acabou. Uma recente matéria do jornal “The Wall Street Journal” mostra que, de 25 canções do topo da parada pop, apenas quatro tinham uma introdução maior que dez segundos, e oito nem introdução tinham. Já começavam com o vocal.
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Infelizmente, a constatação é óbvia: nunca vivemos em uma época em que a música popular brasileira realmente popular apresentasse um grau de burrice tão grande como nos dias atuais. A impressão generalizada é que há algum tipo de pacto de estupidez entre gente que se diz “artista” e uma imensa manada de pessoas que transformaram a palavra “plateia” em sinônimo de agrupamento de retardados.
A falta de capacidade cognitiva da grande maioria de brasileiros que consome música no Brasil gera uma total incompreensão sobre o significado poético de canções que ainda insistem em trazer letras que necessitem de uma capacidade cerebral superior a de um peixe para que possam ser apreciadas. Para esta geração, as canções de caras como Lenine, Ney Matogrosso e Gilberto Gil soam como tratados de Física Quântica musicados.
Hoje, é cada vez maior a dificuldade de prender a atenção destes milhões de verdadeiros “bagres”. Isso explica porque o sertanejo chamado de “universitário” e o funk imbecilizante se tornaram as novas coqueluches dentro do mercado nacional. [...] Estes dois estilos musicais encontraram um público perfeito, desprovido de qualquer sinal de sensibilidade poética, para quem o importante é “beijar muito na balada”. Para quem achava que a “axé music” era o fundo do poço, trataram de cavar mais um pouco para checar a uma camada de “pré-sal da estupidez”. Hoje somos o país do “tche tche rerê tetê barabará bereberê”, do “vem novinha sentar no meu colo” e de outras merdas do gênero.
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Ronaud Pereira
Publicado em www.ronaud.com/sociedade/gostos-musicais-e-nivel-intelectual/