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Meritocracia - Quando é feio ser bom

Enviado em 2014-06-25 23:14:51

É politicamente correto ser contra a meritocracia, citando exemplos de como ela não funciona. O que não se faz é perceber como só através da valorização do mérito individual, prestigiando quem tem inteligência e atitude é que a sociedade chegou ao seu atual nível de desenvolvimento.

Abaixo, um texto que analisa como se tornou feio ser bom, no Brasil.
Nossa cultura abomina a competitividade, desconfia dos vitoriosos e simpatiza com os fracassados. Quando o nadador César Cielo declarou que iria em busca do ouro em Pequim, o desconforto dos comentaristas foi audível: muita saliva gasta para deixar bem claro que se tratava de "autoconfiança" e não "arrogância". Porque melhor um bronze humilde do que um ouro arrogante! Só num país de perdedores uma classificação para final olímpica é vista como "garantia de prata", e não uma chance de 50% de ouro. Nós nos preocupamos mais em ser campeões morais do que campeões de fato. Valorizamos o esforço mais do que o resultado. Acreditamos que o sofrimento do percurso redime o fracasso da chegada, ao contrário dos países que dão certo, em que o sucesso do resultado é que redime o sofrimento do percurso. As desigualdades que se acentuaram ao longo de governos autoritários parecem ter originado a idéia estapafúrdia de que, em uma democracia, os cidadãos devem ser iguais. Não tratados da mesma maneira: pelo contrário, tratados de maneira desigual, para que no resultado final se estabeleça a igualdade. Como é impossível elevar todos aos píncaros da glória, já que as aptidões individuais são diferentes, o objetivo passa a ser a mediocrização total. Por isso a palavra-chave dos tempos que correm é a 'inclusão', e não o'mérito': para trazer todos à média, é preciso focar a atenção nos deficientes e ignorar – quando não reprimir – os talentosos.

Gustavo Ioshpe, 2008.

Ronaud Pereira

Publicado em www.ronaud.com/sociedade/meritocracia-quando-e-feio-ser-bom/