Acho lindo a atitude de ter filhos. Admiro a coragem, a dedicação e a renúncia de quem se compromete a cuidar de outros seres. E pelas crianças sinto o mesmo que Pasteur: Ternura pelo que são e respeito pelo que poderão vir a ser.

Mas eu e a esposa fazemos parte daquele grupo de casais, cada vez mais numeroso, que terão filhos tardiamente. Tardiamente se comparado há cinco décadas atrás. Porque em relação ao tempo em que vivemos, não há nada de tardio nisso. Talvez ainda seja, até mesmo, cedo.

Somos o tipo de casal que terá filhos mais tarde na vida. Que talvez nem venha a ter filhos.

Tenho certeza que muitos pensam que, ou eu ou ela, não podemos ter filhos. A verdade é que nem sabemos se podemos ou não, porque nunca desejamos isso verdadeiramente, ainda, e portanto, nunca tentamos.

De fato, embora quem já tenha filhos discorde, ter um filho não é algo que eu considere importante. Nem é algo em que eu pense diariamente. Nem semanalmente. Nem mensalmente.  Talvez eu pense sobre filhos uma vez a cada dois meses 🙂 Normalmente quando alguém nos pergunta a fatídica questão: “E aí, quando é que vem o baby?”

Devem imaginar que eu fico o tempo todo pensando: “Nossa, eu preciso urgente de um filho para preencher a minha vida”.

Não mesmo.

Trabalho em casa e um filho por aqui alteraria completamente minha rotina embora acredite mais que um filho DESINTEGRARIA minha rotina. E a verdade é que tenho o que fazer com o meu tempo. Aliás, não tenho tempo, e muito menos energia, pra fazer tudo que eu preciso fazer.

Tenho uns 30 livros aqui em casa iniciados cuja leitura gostaria de concluir e não concluo porque:

Tenho uns 40 domínios de internet registrados aguardando para terem seus sites publicados e não consigo publicar porque:

Tenho uns 80 sites já publicados aguardando manutenção e não dou conta de cuidar de tudo porque:

Tenho uma vida esquisita, com pessoas próximas que precisam muito mais de mim do que eu imaginaria que precisariam um dia.

Ainda tenho clientes / amigos que volta e meia me pedem um serviço ou outro e mal tenho energia para fazer.

Então não, não penso em ter filhos. Não agora, embora também já tenha cogitado seriamente em não tê-los.

E sei que alguns casais próximos pensam de forma semelhante, muito embora não admitam com facilidade.

Sei que, como nós aqui em casa, eles também passam pela situação de serem questionados em festas de família ou amigos sobre quando é que terão filhos. É constrangedor porque quem questiona não percebe que os nossos critérios não são os mesmos dele e que filhos não têm a mesma importância para nós do que tem para eles.

Hoje já estou considerando falta de educação quem pergunta a um casal sem filhos quando é que vão enfim, procriar. Porque a pergunta vem carregada de pressão e cobrança, uma cobrança com a qual não concordo.

Eu não tenho A MENOR OBRIGAÇÃO de pôr mais gente no mundo.

Dizem que quem não quer ter filhos é egoísta. Pois acertam em cheio. Sou sim egoísta e me reservo o direito de, nesta fase da minha vida, dar atenção às muitas coisas que preciso resolver.

Porém também entendo que um filho é alguém que vem para tirar de nós o foco sobre nós mesmos. Algo muito útil quando entendemos que pensar demais em si mesmo é um beco sem saída de angústia e solidão. Talvez um dia, essa necessidade surja em mim, de parar de pensar em mim e pensar em outra pessoa. Talvez uma pessoazinha indefesa que precise de mim mais do que tudo na vida. Mas esse dia não chegou ainda, então não, não me pergunte quando é que vamos ter filhos.

Porque não sabemos a resposta.