Dias atrás, fiquei bem surpreso com este vídeo. Ele mostra a chegada do deputado Bolsonaro em Recife:

Digna de um pop star, não é? Como ESPANTA ver isto num país que odeia políticos…

Mas como pode um sujeito que já disse as seguintes palavras ser tão popular?

1. “O erro da ditadura foi torturar e não matar.” (Jair Bolsonaro, em discussão com manifestantes)

2. “Pinochet devia ter matado mais gente.” (Bolsonaro sobre a ditadura chilena de Augusto Pinochet. Disponível na revista Veja, edição 1575, de 2 de Dezembro de 1998 – Página 39)

3. “Seria incapaz de amar um filho homossexual. Prefiro que um filho meu morra num acidente do que apareça com um bigodudo por aí.” (Jair Bolsonaro em entrevista sobre homossexualidade na revista Playboy)

4. “Não te estupro porque você não merece.” (Jair Messias Bolsonaro, para a deputada federal Maria do Rosário)

5. “Eu não corro esse risco, meus filhos foram muito bem educados” (Bolsonaro para Preta Gil, sobre o que faria se seus filhos se relacionassem com uma mulher negra)

6. “A PM devia ter matado 1.000 e não 111 presos.” (Bolsonaro, sobre o Massacre do Carandiru)

7. “Não vou combater nem discriminar, mas, se eu vir dois homens se beijando na rua, vou bater.” (Afirmação de Jair Bolsonaro após caçoar de FHC sobre este segurar uma bandeira com as cores do arco-íris)

8. “Você é uma idiota. Você é uma analfabeta. Está censurada!”. (Declaração irritada de Jair Bolsonaro ao ser entrevistado pela repórter Manuela Borges, da Rede TV. A jornalista decidiu processar o deputado após os ataques)

9. “Parlamentar não deve andar de ônibus”. (Declaração publicada pelo jornal O Dia em 2013)

10. “Mulher deve ganhar salário menor porque engravida” (Bolsonaro justificou a frase: “quando ela voltar [da licença-maternidade], vai ter mais um mês de férias, ou seja, trabalhou cinco meses em um ano”)”

Seleção de citações de Manoela Neves

Resposta difícil, não? Mas tenho uma hipótese:

Como você leitor(a) já percebeu, sempre fui de observar as manifestações ideológicas de ambos os lados. E do lado da Esquerda, sempre encontro algo estranho e difícil de se explicar. É essa postura deles do tipo “oh, que absurdo, como pode gente assim existir / se eleger” ou “Poxa, que gente imbecil, ah se todos fossem inteligentes como nós”.

Eles não percebem, mas uma postura “intelectual” assim infantil não vai mais levar a Esquerda a lugar algum.

Por que textos autocríticos como este nunca são compartilhados por eles? Porque só compartilham acusações contra o Cunha (com razão), mas se calam quanto as denúncias da Petrobras?

Esse pessoal da Esquerda não percebe que é justamente essa postura desonesta que enfraquece a luta dos progressos sociais pelos quais tanto lutam e, reconheçamos, são muito necessários nessa sociedade profundamente desigual que é a sociedade brasileira.

É essa postura vergonhosa que dá força para um Bolsonaro se popularizar!

Ora, esquerdistas defendem suas lutas sociais, mas se elas se realizam por um governo que se sustentou no poder com dinheiro de (muita) corrupção, ok, tudo bem!

Não! Para os fãs de Bolsonaro, não está tudo bem.

E preciso dizer: Eles têm toda razão.

Esquerdistas não percebem que o Bolsonaro é fruto e cria das ações da própria Esquerda que falharam nesses 13 anos de poder. Não conseguem olhar para os próprios erros. A população está insegura, e está sofrendo as consequências de uma economia mal conduzida e fracassada.

A popularidade do Bolsonaro é resultado do quão a vida do brasileiro comum se tornou mais difícil do ano passado pra cá, mas é resultado também, sobretudo, da imensa corrupção que assolou a Petrobrás.

Nessas situações o povo tende a se agarrar a alguém de “pulso firme sem medo de falar” – ainda que fale muitas barbaridades – que demonstre ter a força para restabelecer as coisas.

E escolheram o Bolsonaro justamente porque… acreditem… eu sei, é difícil, mas ele é visto como um cara honesto.

Enquanto a honestidade não for também uma bandeira da Esquerda, como são os progressos sociais; enquanto eles justificarem a corrupção petista por causa dos progressos sociais; enquanto priorizarem as minorias com um sentimento do tipo “dane-se maioria”; enquanto darem pouca importância a uma economia bem sucedida, por causa desse rancor estúpido contra o capitalismo (e essa tendência doentia de confundir capitalismo com consumismo), enquanto não entenderem que não existem direitos grátis, que todo direito é financiado pelo dinheiro dos impostos, e que somente a iniciativa privada é capaz de gerar a renda que em parte se converterá em impostos, enfim, enquanto insistirem em se identificar através da cor vermelha, a direita vai continuar se fortalecendo.

E se isso significar o retorno de uma economia estável e liberal, com estímulo ao empreendedorismo e ao investimento, acho bom que se fortaleça.

Que droga vocês tão usando?

Se quiser compreender o que é a cegueira dessa ultra-esquerda alucinada, em completo desalinho com a realidade do país no qual vive e pelo qual DIZ que luta, é só comparar o vídeo acima, da chegada do Bolsonaro em Recife nos quais ele é saudado e ovacionado como um pop star, e o devaneio que essa imagem abaixo reproduz, publicada na página do PSOL um pouco antes da chegada do deputado por lá.

Não vem que não tem. Ou tem?

Não vem que não tem. Ou tem?

Olha como a Esquerda entende dazcoisa.

Na verdade é triste que um país veja num Bolsonaro a salvação, mas com essa Esquerda alucinada, completamente descolada da realidade… é o que temos pra hoje.

Comentado originalmente aqui

***

Ps.: Se quiser ver como o cara tá popular, observe os comentários das pessoas ao relato da página da revista Época sobre a recepção dele em Recife. E compare com os comentários das pessoas totalmente contra a uma pauta tipicamente esquerdista.

***

Abaixo, segue texto preciso sobre a origem da popularidade de Bolsonaro.

Atribuído a Gustavo Bertoche (doutor em filosofia), mostra lucidez, inteligência e coerência, raros em um militante de esquerda.

Bertoche destaca como a ganância, a soberba e a falta de autocrítica tomaram conta do Partido dos Trabalhadores, criando uma onda nacional anti-petista.

Vale a pena a leitura.

De onde surgiu o Bolsonaro?

Desculpem os amigos, mas não é de um “machismo”, de uma “homofobia” ou de um “racismo” do brasileiro.

A imensa maioria dos eleitores do candidato do PSL não é machista, racista, homofóbica nem defende a tortura.

A maioria deles nem mesmo é bolsonarista.

O Bolsonaro surgiu daqui mesmo, do campo das esquerdas.

Surgiu da nossa incapacidade de fazer a necessária autocrítica.

Surgiu da recusa em conversar com o outro lado.

Surgiu da insistência na ação estratégica em detrimento da ação comunicativa, o que nos levou a demonizar, sem tentar compreender, os que pensam e sentem de modo diferente.

É, inclusive, o que estamos fazendo agora.

O meu Facebook e o meu WhatsApp estão cheios de ataques aos “fascistas”, àqueles que têm “mãos cheias de sangue”, que são “machistas”, “homofóbicos”, “racistas”.

Só que o eleitor médio do Bolsonaro não é nada disso nem se identifica com essas pechas.

As mulheres votaram mais no Bolsonaro do que no Haddad.

Os negros votaram mais no Bolsonaro do que no Haddad.

Uma quantidade enorme de gays votou no Bolsonaro.

Amigos, estamos errando o alvo.

O problema não é o eleitor do Bolsonaro. Somos nós, do grande campo das esquerdas.

O eleitor não votou no Bolsonaro PORQUE ele disse coisas detestáveis. Ele votou no Bolsonaro APESAR disso.

O voto no Bolsonaro, não nos iludamos, não foi o voto na direita: foi o voto anti-esquerda, foi o voto anti-sistema, foi o voto anti-corrupção.

Na cabeça de muita gente (aqui e nos EUA, nas últimas eleições), o sistema, a corrupção e a esquerda estão ligados.

O voto deles aqui foi o mesmo voto que elegeu o Trump lá. E os pecados da esquerda de lá são os pecados da esquerda daqui.

O Bolsonaro teve os votos que teve porque nós evitamos, a todo custo, olhar para os nossos erros e mudar a forma de fazer política.

Ficamos presos a nomes intocáveis, mesmo quando demonstraram sua falibilidade.

Adotamos o método mais podre de conquistar maioria no congresso e nas assembleias legislativas, por termos preferido o poder à virtude.

Corrompemos a mídia com anúncios de empresas estatais até o ponto em que elas passaram a depender do Estado.

E expulsamos, ou levamos ao ostracismo, todas as vozes críticas dentro da esquerda.

O que fizemos com o Cristóvão Buarque?
O que fizemos com o Gabeira?
O que fizemos com a Marina?
O que fizemos com o Hélio Bicudo?
O que fizemos com tantos outros menores do que eles?

Os que não concordavam com a nossa vaca sagrada, os que criticavam os métodos das cúpulas partidárias, foram calados ou tiveram que abandonar a esquerda para continuar tendo voz.

Enquanto isso, enganávamo-nos com os sucessos eleitorais, e nos tornamos um movimento da elite política.

Perdemos a capacidade de nos comunicar com o povo, com as classes médias, com o cidadão que trabalha 10h por dia, e passamos a nos iludir com a crença na ideia de que toda mobilização popular deve ser estruturada de cima para baixo.

A própria decisão de lançar o Lula e o Haddad como candidatos mostra que não aprendemos nada com nossos erros – ou, o que é pior, que nem percebemos que estamos errando, e colocamos a culpa nos outros.

Onde estão as convenções partidárias lindas dos anos 80? Onde estão as correntes e tendências lançando contra-pré-candidatos? Onde estão os debates internos? Quando foi que o partido passou a ter um dono?

Em suma: as esquerdas envelheceram, enriqueceram e se esqueceram de suas origens.

O que nos restou foi a criação de slogans que repetimos e repetimos até que passamos a acreditar neles.

Só que esses slogans não pegam no povo, porque não correspondem ao que o povo vivencia.

Não adianta chamar o eleitor do Bolsonaro de racista, quando esse eleitor é negro e decidiu que não vota nunca mais no PT.

Não adianta falar que mulher não vota no Bolsonaro para a mulher que decidiu não votar no PT de jeito nenhum.

Não, amigos, o Brasil não tem 47% de machistas, homofóbicos e racistas.

Nós chamarmos os eleitores do Bolsonaro disso tudo não vai resolver nada, porque o xingamento não vai pegar.

O eleitor médio do cara não é nada disso. Ele só não quer mais que o país seja governado por um partido que tem um dono.

E não, não está havendo uma disputa entre barbárie e civilização. O bárbaro não disputa eleições. (Ah, o Hitler disputou etc. Você já leu o Mein Kampf?

Eu já. Está tudo lá, já em 1925. Desculpe, amigo, mas piadas e frases imbecis NÃO SÃO o Mein Kampf. Onde está a sua capacidade hermenêutica?).

Está havendo uma onda Bolsonaro, mas poderia ser uma onda de qualquer outro candidato anti-PT.

Eu suspeito que o Bolsonaro só surfa nessa onda sozinho porque é o mais antipetista de todos.

E a culpa dessa onda ter surgido é nossa, exclusivamente nossa.

Não somente é nossa, como continuará sendo até que consigamos fazer uma verdadeira autocrítica e trazer de volta para nosso campo (e para os nossos partidos) uma prática verdadeiramente democrática, que é algo que perdemos há mais de vinte anos.

Falamos tanto na defesa da democracia, mas não praticamos a democracia em nossa própria casa.

Será que nós esquecemos o seu significado e transformamos também a democracia em um mero slogan político, em que o que é nosso é automaticamente democrático e o que é do outro é automaticamente fascista?

É hora de utilizar menos as vísceras e mais o cérebro, amigos.