Você já deve estar por dentro do escândalo da vida privada da semana, claro:

– O ridículo (em muitos níveis) vídeo de um marido pegando a mulher num motel com outro, no flagrante.

Me recuso a linkar o vídeo aqui para não dar mais força pra algo que já é deplorável.

Mas um caso desse me gera tantas reflexões, que resolvi vir aqui e expô-las.

1 – Casos assim se resolve com discrição. Roupa suja se lava em casa, certo? Há familiares e filhos envolvidos. Se ela não pensou neles quando traiu, o marido também não pensou ao pedir para um amigo filmar tudo e jogar na internet. Esse marido traído agiu da pior forma possível e a reação muito emocional e violenta dele mostra exatamente porque foi traído. Mulheres gostam de homens fortes e centrados, não de crianções instáveis.

2 – Aliás, já devo dizer que o “amigo” que filmou tudo e jogou na internet é um canalha, desgraçado e moralista e que sinto repugnância por tudo que ele fez, disse e representa, e sinto desgosto por um ser assim existir.

Seguimos…

3 – Um tal de Ribs fez uma tirinha perfeita para o momento, representando visualmente uma passagem do Evangelho sobre a mesmíssima situação, a qual muita gente lembrou diante do caso, e que eu, lembrei muito especialmente. É esta:

Dias muito loucos os nossos

Dias muito loucos os nossos

Fonte

A ilustração se refere a esta conhecida passagem bíblica:

3 – Os mestres da lei e os fariseus trouxeram-lhe uma mulher surpreendida em adultério. Fizeram-na ficar em pé diante de todos
4 – e disseram a Jesus: “Mestre, esta mulher foi surpreendida em ato de adultério.
5 – Na Lei, Moisés nos ordena apedrejar tais mulheres. E o senhor, que diz? ”
6 – Eles estavam usando essa pergunta como armadilha, a fim de terem uma base para acusá-lo. Mas Jesus inclinou-se e começou a escrever no chão com o dedo.
7 – Visto que continuavam a interrogá-lo, ele se levantou e lhes disse: “Se algum de vocês estiver sem pecado, seja o primeiro a atirar pedra nela”.
8 – Inclinou-se novamente e continuou escrevendo no chão.

4 – As pessoas estão tão dispostas a atirar pedras nos outros, condenando os erros alheios, que não refletem sobre a situação. Observe o comentário de uma tal Gabriela que deve aparecer para você em destaque neste post da página Quebrando o Tabu (Atualização: Ela excluiu o próprio comentário). Na visão (curta) dela, quem fica condoído pela Fabíola, estaria defendendo o ato dela. Ali mesmo eu respondi:

Defender? Quem é que está defendendo? A fala de Jesus é sobre não julgar, não condenar, olhar para os próprios erros. Ele não defendeu os atos dela. Se me lembro bem ele até disse: Vá e não peque mais.

5 – A traição é um ato reprovável, eu sei. Mas assim como o aborto ou o uso de drogas, é reprovável mas acontece aos montes, por gente que a gente nem sonha. Então, né, que sejamos um pouquinho menos provincianos, menos escandalizados e mais pragmáticos.

6 – Eu devo ter sido queimado vivo ou condenado à morte numa vida passada por questões de moral, porque se é algo que me deixa furioso nessa vida é esse tal de moralismo. O ser moralista é um ser desprezível, que mal dá conta da própria vida, mas sabe exatamente como a vida alheia deveria ser; que condena veementemente aquilo que ele mesmo faz escondido, o hipócrita; ou que condena aquilo que gostaria de fazer e não tem coragem, o recalcado.

EU. ODEIO. MORALISMO.

7 – Como se vê – e já se sabia – as mulheres são as que mais sofrem com o julgamento moral. Aqui entramos para a questão do machismo. Eu tenho muita reserva em relação ao movimento feminista, mas nessas horas nós vemos o quanto ele é necessário.

As mulheres não são respeitadas devidamente, na sociedade. Vou compartilhar minha postura em relação a isso, que me é natural desde sempre, e que ilustra bem os primeiros passos para nos postarmos diante de uma mulher considerando sua dignidade, ainda que tenha cometido erros bastante condenáveis:

Como qualquer um, já tive minhas muitas indisposições com mulheres na vida, inclusive com mulheres que trabalham na noite (devido ao aluguel de uma sala comercial de minha propriedade), e indisposições bem sérias. Mesmo assim, eu NUNCA me referi, e sequer pensei nelas usando algum adjetivo o qual eu não pudesse usar caso fossem homens, no caso: puta, vagabunda, vadia. Eu simplesmente não consigo pensar em qualquer mulher nesses termos.

No caso da Fabíola, voltando à metáfora de Jesus, toda vez que você a chama de puta, vagabunda ou vadia, está atirando uma pedra nela.

8 – Ainda sobre o item 7, vale relembrar.

Hugh Hefner, um dos homens que mais entende de mulher nesse mundo, ensina como lidar com mulheres:

O idiota pergunta ao fundador da Playboy: "Como você tem tantas vadias?". E Hugh responde: "Tenho muitas namoradas porque não as chamo de vadias. Um pouco de respeito pode te levar longe".

Aprendam

O idiota pergunta a ninguém menos que o fundador da Playboy:

“Como você consegue tantas vadias, Hugh?”

E Hugh responde:

“Tenho muitas namoradas porque não as chamo de vadias, Jroe. Um pouco de respeito pode te levar longe”.

***

Certo?

Certo.

Então certo!

Culpado, culpado, culpado

Culpado, culpado, culpado

9 – Hoje as pedradas moralistas são digitais, e promovem um linchamento moral da mulher. É como uma meia morte. Eu não sei o que será da vida dela daqui pra frente, nem as das muitas mulheres cujos vídeos íntimos foram parar na rede, mas sei que há 100 anos, elas seriam expulsas de casa ou assassinadas. Há 600 anos, elas seriam queimadas vidas ou decapitadas (Ana Bolena manda lembranças). E há 2000 anos, as mulheres eram de fato linchadas sob apedrejamento.

Moral sim, moralismo não

O moralismo é um assassino virtual, ele não existe, mas age através do comportamento de manada que domina as multidões. Já matou muito, hoje assassina a dignidade das pessoas que já estão caídas no chão, tropeçadas em suas próprias fraquezas. Não sejamos nós os acusadores de quem já terá a vergonha de ter errado como companheira pelo resto da vida.

Devido a esse ódio que sinto do moralismo social com o qual convivemos diariamente, já fui muito contra a própria moral, em si. Hoje compreendo diferente. A moral é necessária num mundo onde a depravação e a bizarrice pode facilmente tomar conta do comportamento das massas. Mas é necessária como balizadora, não como uma condenadora.

Quanto mais moral o sujeito, mais ele vai compreender, tolerar, acolher, orientar e reconduzir o individuo imoral à convivência social. Quanto menos moral, mais ele vai apontar o dedo, acusar e condenar. E contra isso, mesmo sendo alguém de pouco poder, e de pouca oratória, eu jamais deixarei de me opor.

Que possamos viver, e deixar viver.

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Carta à Fabíola – Revista Forum