Como representante mais popular desta conectividade plena, contemporânea, nós que utilizamos o Facebook nos vemos muitas vezes confusos sobre sua real utilidade.

Às vezes nos empolgamos com o avanço que ele representa, na medida em que permite o contato instantâneo com várias pessoas e com o que está no foco das atenções momentâneas, e às vezes, nos vemos loucos para encerrar nossa conta e vivermos uma vida mais off-line.

Um retrato da sua vida

Um retrato da sua vida

Essa alternância ocorre, assim entendo, por vários motivos. Um deles seria porque de tempo em tempo percebemos que esse “contato instantâneo” se dá com pessoas distantes, que você mal conhece ou, se conheceu, mal mantém contato e, se mantém contato, no fundo pode nem gostar muito delas… Não sei se passa de 10 o número de pessoas distantes, que conheci através da internet e que costumo acompanhá-las pelo facebook. Ora, particularmente, as pessoas com as quais gosto de manter contato, não estão no Facebook, ou quase não o utilizam por falta de tempo (ou por terem algo melhor para fazer da vida). Aliás, as pessoas com as quais gosto de manter contato, eu vejo pessoalmente e constantemente, justamente por que gosto de estar com elas.

O nosso desânimo com o Facebook também ocorre porque é frequente percebermos que “o foco das atenções momentâneas” quase sempre se dá sobre besteiras e inutilidades, sem as quais nossa vida costuma seguir pelo mais absoluto e mesmíssimo trajeto. Muitas dessas inutilidades são compartilhadas por portais de notícias, como notícias, mas mesmo que fossem notícias, vale aquele questionamento de Caetano Veloso, presente na música Alegria, Alegria:

Quem lê TANTA notícia?

Veja também: Alienação e Sanidade

E mais: Parte do desgosto que sentimos com a rede social azul se dá porque ela, assim como a internet de modo mais geral, deu amplo poder de manifestação para uma maioria de pessoas que não tem muito de interessante a manifestar:

Fotos de gatos, cachorros, filhos; Imagens com auto-ajuda ou lamúrias; Desabafos bipolares se alternando entre súplicas e gratidão a Deus (que, diga-se de passagem, não usa o face); Análises e críticas políticas ou fanáticas, ou amarguradas;

Agora repita isso algumas vezes por dia, todos os dias.

Enjoa, vai ficando chato.

Como estou lidando com o Facebook atualmente

Nesses últimos meses, reduzi bastante minhas publicações por lá. Me dei conta que um perfil no Facebook permite uma manifestação ilusória e sem substância. Você publica opiniões considerando-se alguém muito digno de emiti-las, mas não passa de alguém simples com vivência limitada, a qual não abarca todas as possibilidades do que está falando, reduzindo-se tudo ao nível de achismos. Sem falar que algumas opiniões nossas mais contundentes podem atingir (e atingem) pessoas queridas, de modo desnecessário, afinal, com exceção de empresas que têm algo a vender, não se ganha NADA publicando conteúdo lá, a não ser alguns curtir’s que afagam o nosso ego.

Muito ego pra pouco atrativo

Muito ego pra pouco atrativo

Neste sentido, o Facebook é uma grande “queimação de filme”, onde nos expomos demais, e não obtemos nada de substancial em retorno. Comigo tem acontecido até de publicar alguns comentários e excluí-los mais adiante. Não porque tenha me arrependido de publicar ou tenha mudado de opinião, mas simplesmente porque não há porquê deixar uma opinião específica (que pode atingir alguém) permanentemente publicada no meu perfil. Era uma opinião séria, provavelmente relacionada a algum daqueles assuntos que recebem muita atenção momentaneamente, e que por isso mesmo foi pertinente apenas durante aquele momento no qual ficou publicada. Quem viu, viu, quem não viu, não perdeu nada.

Também, nesses meses, fiz uma limpa nos meus contatos, excluindo gente que nunca se manifestou, e que nem sei como foram parar ali, e deixei de seguir uma pá de gente que não conheço e que costuma publicar aquelas inutilidades citadas acima.

Hoje minha timeline mostra basicamente as publicações de algumas pessoas próximas e de raras pessoas distantes que costumam publicar algo interessante, e de páginas de jornais, revistas e conteúdos mais elaborados.

Quando fiz aquela limpeza nos meus contatos, me surpreendi muito ao ver que cerca de 40 contatos (de um total de 750 à época) haviam desativado seus perfis. Hoje, a cada vez que faço uma revisão dos meus contatos, cerca de uma vez por mês, percebo que 2 ou 3 pessoas desativaram suas contas. Gente que realmente e definitivamente, desistiu do perfil online, contrariando a mensagem geral de alguns textos do Youpix que chegam a aludir que a vida social de boa parte das pessoas depende do facebook. Menos, né. MUITA vida além do Facebook. Ou sou só eu que conheço várias pessoas que não têm perfil na rede? E que, não por acaso, são as que tem a vida mais interessante?

Também tenho percebido que muitas pessoas próximas que viviam publicando fotos de seu cotidiano, deixaram de publicar, muito provavelmente pelos mesmos motivos que eu aleguei aqui e que eu resumiria da seguinte forma: Algum tempo de uso da rede social nos leva a perceber que o Facebook não é sério; que é um chiclete mental; meio que uma coisa de adolescentes, gente que tem tempo sobrando e quer se entreter; que é um recurso através do qual pessoas solitárias preenchem sua carência; que é, enfim, uma grande perda de tempo e energia nos levando a procrastinar tarefas relevantes. Porque gente grande, essas pessoas que conheço que não têm perfil no Facebook (e nem tiveram no orkut) e que têm uma vida muito interessante, parecem não ter tempo, muito menos disponibilidade para ficarem uma hora por dia ou mais visualizando fotos de gatos, besteiras e detalhes da vida alheia, ou ainda, se empenhando em compartilhar a própria vida online.

O começo do fim?

Com base em todas essas observações particulares, acredito que vem surgindo um desinteresse gradual pela rede, assim como ocorreu com o orkut e twitter… esse desinteresse ocorre, acredito eu, em parte porque viemos desde 1995, quando surgiu a internet, aprendendo a utilizá-la e lidar com ela, e esse período ainda não terminou porque só agora, depois de 20 anos, é que conseguimos criar tudo que a internet possibilitava criar. A internet consistiu até hoje de uma imensa sequência de experimentos. Alguns deram muito certo e vieram pra ficar, outros nem tanto.

Viemos vivendo fases de testes, meio sem saber, e estamos vendo que não precisamos de boa parte dos recursos oferecidos. E é esta também uma outra razão para a debandada de gente do facebook: Elas aprenderam a usar o instagram e o whatsapp e perceberam que estas ferramentas atendem melhor seus interesses.

Criticar o Facebook é criticar o ser humano

O Facebook cansa porque quase sempre, em vez de ser uma rede de pessoas, é uma rede de egos querendo aparecer e mostrar como são lindinhos, engraçadinhos, espertinhos e basicamente, melhor que os outros. 

Alguns detalhes que tenho notado no convívio diário no facebook:

– Às vezes dá vontade de curtir umas publicações de certas pessoas no facebook, mas aí como ela nunca curte p*rra nenhuma minha, eu também não curto as dela. São as mesmas pessoas que do nada, aparecem me convidando para curtir suas páginas recém criadas. Eu não curto. Também na vida digital, é preciso dar, para receber.

– Tem me incomodado muito a noção que quando se publica algo, uma porcentagem pequena do universo dos contatos se manifesta curtindo, comentando ou compartilhando. Por exemplo, de 100 contatos, apenas uns 10 vão se manifestar a uma publicação sua. Os outros 90 muito provavelmente verão sua publicação, mas vão preferir não se manifestar, seja por não gostarem ou serem indiferentes ao tema publicado. O botão curtir nos engana, nos fazendo otimistas. “Olha que legal, 10 pessoas curtiram minha postagem”. Se a pessoa pensasse: “90 pessoas de 100 não se manifestaram sobre minha publicação” ela simplesmente pararia de publicar. É mais ou menos o que tem acontecido comigo.

– E as meninas que vivem de publicar fotos de si mesmas (quase sempre enquadradas para pegarem o rosto e o decote) para angariar as curtidas que vão abastecer suas autoestimas? Às vezes essas fotos vêm com frases como “Então ela sorriu, pq percebeu que sua felicidade depende apenas dela e de mais ninguém”. Claro, dela, de mais ninguém, e das curtida dos rapazi.

– E o sujeito que largou tudo pra se tornar padre e só publica frases de amor (romântico) e saudade? E que vai pra retiros e, em vez de orar pelos outros, pede que orem por ele?

– E as pessoas que de bom só souberam fazer filhos, na vida, e agora publicam tudo que eles fazem, o tempo todo, como se quem não tem filhos já não estivesse adiando justamente porque não tem a menor paciência com crianças? Sem contar o perigo de ficar expondo o próprio filho publicamente como se ele fosse um bibelô e não, um ser humano.

– E o petista sem-noção que vem no seu status “refutar” todas as suas opiniões favoráveis ao capitalismo, como se eu tivesse muito a fim e louco pra tentar convencê-lo das minhas visões? E que não por acaso me vi obrigado a desfazer a amizade para ter um pouco de paz e liberdade no facebook.

– E a pessoa que só publica (porque só pensa nisso e se identifica) coisas sobre tristeza, angústia, recompensa divina e que demonstram o quanto ela é vítima das circunstâncias e, não por acaso, só recebe essas coisas ruins da vida?

– E a aquela que fez curso de fotografia, mas só compartilha fotos de si mesma?

– E aquele casal, ao chegar no destino da viagem, qual a primeira coisa que fazem? Publicar um álbum com todas as fotos possíveis tiradas de si mesmos em todos os pontos possíveis do lugar – ou uma sequência de imagens da viagem no instagram… Queridos, nós realmente gostamos muito de vocês, mas não estamos assim tão interessados na vossa felicidade viagem.

– E essa onda de vídeos que invadiram a timeline do facebook? Até hoje não consegui saber quem é que quer assistir tantos vídeos sobre tantas coisas interessantíssimas que não nos fizeram falta alguma até hoje…

Agora me dá licença que preciso limpar o veneno que tá escorrendo aqui 😉

Instagram vai pelo mesmo caminho

Neste texto, o autor faz uma crítica muito necessária, semelhante a esta minha, sobre o instagram. Se você observar, verá na caixa de comentários que o pessoal aparentemente não gostou muito da crítica. Mas não gostou porque não entendeu que o texto é um CONVITE a auto-crítica de ALGUNS usuários com o perfil descrito no texto, e não uma crítica a todo e qualquer usuário do instagram.

Ou não sabem interpretar textos, ou talvez só tenham lido o título.

Acredito mais nesta segunda hipótese.