Existe um assunto muito complicado para mim, o qual tenho imensa dificuldade de “resolver” e formar opinião. Diz respeito ao eterno conflito ECONOMIA x ECOLOGIA. Embora esse conflito ocorra em níveis globais e também a sociedade de uma forma geral tenha dificuldade em encontrar soluções realmente efetivas para conciliar esses valores, sinto isso até mesmo no meu dia a dia.

Eu moro num lugar, já descrito aqui, em que o meio ambiente desde sempre serviu de pauta para discussões entre progresso x preservação. É a Praia Brava Itajaí, uma praia ladeada por montanhas que fica entre dois importantes pólos catarinenses. Balneário Camboriú como pólo turístico, e Itajaí como pólo portuário, se assim se pode classificar. A população dessas cidades, de forma geral, sempre tiveram a Praia Brava como lugar a ser preservado. As lindas paisagens agrestes daqui de fato enchem os olhos de quem a visita(va), e a paz que o isolamento geográfico proporcionava seduzia qualquer um que queria “fugir” um pouco das obrigações.

Mas isso está mudando. E a grande questão aqui é: Mudando para pior, ou para melhor?

O fato é que esse “paraíso”, como todo paraíso, se tornou visado, alvo de forte especulação imobiliária. E de uns meses pra cá, TODAS as maiores áreas verdes foram cercadas e em breve abrigarão ricaços em seus finos apartamentos de luxo. E toda aquela vegetação de restinga, nativa, tranquila, em breve, sumirá do mapa. Uma das coisas mais gostosas que havia aqui era caminhar na praia pela manhã e sentir o perfume INDESCRITÍVEL dessa vegetação, que vinha para a praia com os ventos matutinos que sopravam do continente. Logo logo, esse perfume só poderá ser sentido porquem adentra as matas dos costões, se é que logo, os ricaços não os vão invadir também.

Às vezes me pego pensando naquele raciocínio que diz que o ser humano é, neste planeta, como um câncer. E então em momentos como esse, percebo que os “ricos” são a pior forma de câncer, porque querem estar sempre lá, fincando sua cerca nos lugares mais belos. E eu pergunto: Com que direito? O ser humano quer tudo para si. O que sinto e percebo é algo a ver com INVASÃO, APROPRIAÇÃO, DESTRUIÇÃO. Tenho a maior dificuldade de ver empreendimentos como esses de forma otimista.

Por outro lado…

E aqui começa a confusão. E se eu fosse um daqueles ricaços? Não gostaria também eu de poder usufruir das vantagens conferidas por minha fortuna e morar no melhor dos lugares? Embora os empreendimentos em questão aqui sejam de alto padrão, no fundo todos querem o seu cantinho (ou apartamento de luxo) pra morar, não é? Enquanto aquela vegetação, que vive hoje seus últimos dias, é inútil do ponto de vista econômico. Tanto que o que os ecologistas denominam de “vegetação de restinga”, os ricos denominam “mato”.

Outra coisa: Quem conhece Balneário Camboriú sabe como é agradável passear na Av. Brasil, ou mesmo passear lentamente com o carro pela Avenida Atlântica. Aquilo ali tem um ar de sofisticação e organização que seduz qualquer um. Mas décadas atrás, tudo aquilo também era um mar de vegetação de restinga, pura e intocada. Que teve de ser destruída para hoje existir um lugar maravilhoso, com gente bonita e de alto astral. Pois é…

Que coisa hein?

Particularmente, tenho uma relação forte com a natureza. Quando adolescente, percorria toda essa praia escalando morros (baixinhos), entrando mata adentro, fazendo cabanas (que nunca ficavam de pé), percorrendo os costões daqui, enfim, coisa de moleque. Sei lá, penso que essa vivência tenha me mostrado que a natureza não precisa de nós. Ela está lá, ainda seguindo seu equilíbrio natural, e a impressão que tenho, de que nós chegamos perturbando um equilíbrio milenar, é o que tanto me incomoda. O planeta viveria muito bem sem nós. Mas nós chegamos nos achando donos de tudo. E precisa ser assim? Certamente não…

Outro dia, percorrendo uma trilha com amigos, quase BERREI com uma pessoa que arrancou uma flor no meio do caminho. Para quê arrancar? Deixa lá, ela estava bem, enfeitando o caminho de quem passava. Mas a ignorância e o sentimento de posse falou mais alto. Sabe onde a flor foi parar? No chão, logo mais adiante… Atitudes tão simples e tão toscas.

O amor é apreciar uma flor. O apego é cortar essa flor e colocá-la num vaso.

Auto-sabotagem ecológica

Racionalmente, entendo que o planeta tem muito a oferecer. E se for explorado racionalmente, como a biosfera que é, em que tudo se renova, a exploração pode ocorrer infinitamente. E é aí que está o problema. Essa exploração racional – sob o termo SUSTENTABILIDADE – somente nesta década se afirmou como palavra de ordem. Mas a dificuldade de se implantar essa racionalização na exploração dos recursos naturais é tanta que certamente ainda vai uma(s) outra(s) década(s) para as empresas e governos se adaptarem com esse novo paradigma, economicamente ainda indesejado.

E voltando agora para o plano pessoal, esta forte identificação que sinto com o que é da natureza, mesmo que seja uma plantinha sozinha que nasce entre as frestas do concreto, faz com que eu sinta muitas vezes que, embora eu aqui neste site fale muito sobre dinheiro e formas otimistas de encará-lo do ponto de vista pessoal e espiritual, ainda assim, em muitos aspectos, seu significado não me é muito positivo. Porque para se ter dinheiro é preciso vender, ou produzir, ou construir algo. E esse meu ponto de vista de que o mundo já tem bugigangas demais e consciência de menos, me desmotiva de certo modo a ver o dinheiro de forma SEMPRE positiva. Particularmente, vejo isso como uma autossabotagem. Sempre que vejo um terreno sendo “limpo” para se construir, sinto algo muito ruim. Agora me diga, como um cara desses (oi?) vai crescer na vida se vê os imóveis como intrusos de um sistema pré-existente, o natural, sendo que os imóveis são, de fato, ótimas formas de se investir, crescer na vida, enriquecer e etc?

Acho que praticamente todas as ações de ordem econômicas modificam a natureza em algum nível. E os donos do dinheiro ainda não tem plena consciência do quanto as ações que ele promove na sociedade agridem um equilíbrio natural milenar. Ainda pensam que a natureza deve ser subserviente ao homem, quando na verdade, o inverso, ou seja, o homem – não subserviente – mas parte da natureza, me parece uma visão muito mais equilibrada e sensata.

Enfim, o sentimento ecológico é o sentimento pessimista da escassez apocalíptica. Vamos preservar porque tem pouca água, pouco alimento, pouco oxigênio, muito calor, muita desordem ambiental etc. O discurso ecológico é preponderantemente um discurso sobre escassez e limitações. Já o discurso da economia é o discurso da abundância paradisíaca. Precisamos vender mais, comprar mais, ter um também, acumular inutilidades objetos na sua casa, acumule informações (inúteis) na sua mente, e a mensagem básica é a de que sua vida melhora enquanto consome essas coisas etc. Sob este ponto de vista pode-se notar facilmente que dificilmente um ecologista inveterado se tornará um milionário. Porque um milionário tem “excedentes demais”, já um ecologista incorpora a ideia do consumo frugal e consciente, só o necessário; abundância para ele significa excesso. E excesso, do ponto de vista ecológico é pecado mortal. Estou generalizando, mas as coisas não são mais ou menos assim?

Equilíbrio sim, mas não agora…

Enfim, o que tenho visto é que esses valores tão importantes para nós – sim, é preciso preservar e SIM, temos direito a melhorar nosso padrão de vida – estão longe de andarem juntos rumo a um futuro equilibrado para a civilização. Embora muita coisa tenha melhorado, há muito ainda por fazer. Muito mesmo, principalmente quando vemos isso: