A visão renascentista de Deus

A visão renascentista de Deus

Conversando com uma amiga sobre seus problemas de autoestima, me ocorreu que não gosto muito da palavra misericórdia. Por que? Porque esta palavra, normalmente invocada no âmbito religioso, pressupõe que há algo de errado conosco em relação a Deus. Acredito que o sentido da palavra misericórdia vem daquela visão renascentista de Deus, um senhor irritadiço e imprevisível, que vez e outra tem o coração amornado e nos concede alguma graça há muito tempo almejada.

Mas não é bem assim, não é? Não faz mais sentido vermos Deus como a figura de um pai zeloso que nos aceita como somos? Vejo que somos para Deus como aquele filho que ainda é uma criança, e está aprendendo a lidar com o mundo, aos poucos, e vez e outra se dá mal. Quebra um objeto aqui, se machuca ali, mancha aquela parede, se suja todo quando brinca. Um pai humano talvez se irritasse com sua criança, mas nosso pai divino certamente nos compreende, e nos aceita do modo como ele próprio nos criou. Tem paciência conosco, até que cresçamos e saibamos nos virar sozinhos e por conta. Acima de tudo, é um pai que nos ama e quer o melhor para nós. Muitas vezes os pais não se veem obrigados a deixar seu filho se dar mal para aprender uma importante lição? “Filho, não mexe nessa faca!” Então vai a criança e mexe na faca, e se corta. Certamente da próxima vez ouvirá os conselhos do pai, ou manejará a faca com mais cuidado.

É assim que se aprende, é assim que se vive.

Não acredito em pecado x castigo; acho o conceito de crime e punição infrutífero. Me parece mais edificante ver-nos como seres que ERRAM e APRENDEM, ou seja, como seres em constante aprendizado. Não é assim que a vida é? Não vivemos num eterno aprendizado? Então por que precisamos da misericórdia de Deus, se ele próprio nos criou assim, ao mesmo tempo humanamente limitados, mas com uma capacidade infinita para o aprendizado e o crescimento? Não sei o seu, mas o meu Deus não é irracional. Ao contrário, sabe o que faz e não se contradiz, rejeitando sua própria criação.

Acredite: Você é uma criação divina e só por isso merece tudo de bom que possa existir nesse mundo. Não há porque não ter autoestima. Basta você se conceder o melhor. Você é um(a) filho(a) de Deus, igualmente abençoado(a) e livre para ser e ter tudo que precisar. Basta CRER e TRABALHAR.

Então porque se martirizar, se culpar, se diminuir? Jesus disse que devemos amar ao próximo como a nós mesmos. O inverso não seria também verdade? Que tal amarmos a nós mesmos como amamos os outros? Seria errado assumir uma atitude como essa? Acho que não, porque a sentença de Jesus se equilibra nos dois sentidos. Para amarmos o próximo, DEVEMOS ANTES amarmos a nós mesmos!

Estou falando bobagens? Pense por você e veja o que tem feito de sua vida. Mas não esqueça: Você veio de um ser divino e portanto tem sua porção divina. Isso não só bastaria para sentir no coração GRANDE ALEGRIA pela benção de estar vivo e de ter todo um caminho diante de si, como lhe dá também, como filho de Deus que é, total direito à felicidade.

Ou você acredita que Deus quer lhe ver sofrer?

Se acredita, então saiba que Deus pode estar decepcionado com os caminhos que você tem escolhido para a sua vida.