(…) Sentia um acréscimo de estima por si mesma, e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante, onde cada hora tinha o seu encanto diferente, cada passo conduzia a um êxtase, e a alma se cobria de um luxo radioso de sensações!

Eça de Queiroz

Eu conhecia esta passagem acima da música Amor I Love You, da Marisa Monte e Arnaldo Antunes. E por nunca ter me aprofundado sobre as origens da música, pensava naturalmente que era um trecho escrito pelo próprio Arnaldo.

Quando publicaram esse trecho na minha timeline assinada por Eça de Queiroz, me vi mais uma vez lamentando por nunca ter dado atenção à belíssima literatura portuguesa e por não estar num momento muito propício à leitura para que pudesse me aventurar nesse mundo bonito de palavras ricas, significados profundos e descrições vívidas, escritas só por quem cava a própria alma em busca dessas matizes de si mesmo e da realidade que o cerca.

Abaixo, o trecho completo, recitado em meio à música:

Tinha suspirado

Tinha beijado o papel devotamente

Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades

E o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saía delas

Como um corpo ressequido que se estira num banho tépido

Sentia um acréscimo de estima por si mesma

E parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante

Onde cada hora tinha o seu encanto diferente

Cada passo conduzia a um êxtase

E a alma se cobria de um luxo radioso de sensações.

Eça de Queiroz