Para fins da ilustração que faço aqui, deve-se levar em conta que estamos falando de dinheiro puro, ou seja, consórcio para cartas de crédito. Um consórcio é vantajoso sim, na prática, quando você começa a pagar e logo em seguida já é sorteado e contemplado com o bem consorciado.

Mas nem todos tem essa sorte. Também sei que há investidores que lidam preponderantemente com consórcios e ganham dinheiro com isso. Neste caso, são pessoas que lidam com consórcios de maneira diferente. E também há muitos vendedores de consórcios que vivem disso. Não quero desqualificar o produto dessa gente, quero apenas demonstrar alguns cálculos simples, dirigindo-me mais aos consumidores de consórcios.

O consórcio é um bom negócio?

Vejamos! Esses dias atrás veio parar em minhas mãos um folheto divulgando algumas formas de consórcio, para imóveis, carros, motos e até para cirurgias e viagens. Pois bem…

Me pus a comparar duas formas distintas de se acumular um certo capital: Um consórcio de R$ 19.547,00 que estava sendo oferecido dentre várias outras opções no folheto, e a poupança comum, rentabilizada mensalmente em cerca de 0,6%. E as diferenças são sensíveis:

Consórcio

Num consórcio, você pode pagar, vamos lá, por exemplo, uma carta de crédito no valor de R$ 19.547,00 em 60 vezes de 397 reais. Dessa forma, visualizamos a seguinte tabela:

Prestações 397,00
Número de prestações 60
Total pago 23.820,00 (397,00 x 60)
Taxa de Manutenção 4.273,00
Capital final obtido 19.547,00 (23.820,004.273,00)

Ou seja, você espera 5 anos para perder R$ 4.273,00. Ok, ok, você não está perdendo. Essa é a taxa cobrada pelo consórcio para a sua manutenção. De qualquer forma, é um dinheiro que não é mais seu. Sem contar, no cálculo acima, as perdas proporcionadas por uma inflação anual, brasileira, de cerca de 5%.

Inflação, você deve saber, é o poder de compra do seu dinheiro. Lembre-se que no início do Plano Real, o litro da gasolina custava R$ 0,47. Ou seja, em cálculos rasos, hoje você precisa de 10 reais para conseguir comprar o que cerca de 2,50 reais compravam em 1994. E pior, se você está contente por ganhar 1000 reais hoje, esteja ciente que é como se você ganhasse 250 reais em 1994.

É a inflação iludindo o povo…

Poupança

Vamos trabalhar com os mesmos valores. Se pudéssemos  idealmente, depositar mês a mês a mesma quantia de 397 reais, durante 60 meses, teríamos pago a quantia de 23.820,00. Só aí já estamos “ganhando” 4.273 reais em relação ao consórcio. Mas há uma vantagem adicional, os juros pagos pela poupança. Há muitos educadores financeiros que afirmam que os juros pagos pela poupança são miseráveis, e é verdade, afinal com o dinheiro que deixamos guardado no banco, o próprio banco empresta pra frente e ganha 8% ao mês. De qualquer forma, a simples comparação dos juros da poupança com um consórcio já faz com que os juros miseráveis nos rendam uma quantia considerável e generosa. Vamos a tabela:

Depósitos (equivalentes às prestações) 397,00
Número de depósitos mensais 60
Total pago 23.820,00 (397,00 x 60)
Juro médio da poupança, mês a mês 0,6% (397,00 + 0,6% + 397,00 + 0,6% +397,00 + 0,6%……….. x60)
Capital final obtido 28.741,42

DINHEIRO FINAL QUE VAI FICAR COM VOCÊ, comparando o valor final do consórcio de carta de crédito e o valor final da poupança, resulta: 28.741,4219.547,00 = R$ 9.194,42.

Incrível, não? É porque os juros da poupança são miseráveis, imagina se fossem generosos!

Evidentemente o consórcio tem uma grande vantagem, que é a disciplina que ele nos impõe. Contudo é uma disciplina muito cara. Isso mesmo, com base no exemplo aqui demonstrado, você paga R$ 9.194,42 pela disciplina de se pagar a mesma quantia todo mês. E ainda há o fato que para você finalmente receber o valor consorciado, tem sempre uma certa burocracia, já o dinheiro da poupança é seu. Quando achar que deve utilizar para comprar algum bem, é só usar.

Esse texto tem apenas uma intenção. Mostrar a você o poder dos cálculos simples e dos juros, quando utilizados a nosso favor. Também serve para mostrar que quando somos negligentes com certos aspectos da vida, pagamos o preço, quase sempre muito caro. Pagamos por nossa preguiça de pensar, por nossa preguiça de aprender, por nossa indisciplina, por acreditar no que nos dizem sem averiguar a veracidade das informações, enfim, quando deixamos de utilizar nossas capacidades para nos favorecer.

Lembre-se que o conhecimento ainda paga os melhores juros 🙂