Do pó vieste… e ao pó voltarás? Uma reflexão.

Tão ou mais constrangedor do que um crente nos querendo converter ao seu modelo de mundo, quase sempre limitado por se embasar em mitos, é ler um ateu fazendo questão de dizer que é ateu com seus raciocínios lógicos querendo nos fazer pensar, quando na verdade, a pessoa que prefere crer em algo, assim o prefere porque lhe poupa esforço mental em tentar solucionar questões existenciais sem solução. Não é que aos crentes lhes seja difícil pensar, como gostam de aludir. É que a questão simplesmente não lhes importa e preferem crer em alguma idéia pré-concebida. Nem todos nascem para a filosofia. Ninguém tem obrigação de conhecer o darwinismo, por mais esclarecedora que seja esta teoria. Sabe, não tem importância prática para a MAIORIA das pessoas. Então não adianta muito se orgulhar por tal conhecimento. Aliás se orgulhar por conhecimento prova que o conhecimento adquirido pouco efeito promoveu.

As pessoas preferem acreditar naquilo que elas preferem que se seja verdade.
Francis Bacon

Um crente sem noção até vai. É da própria natureza das religiões divulgar sua mensagem e “atrair mais fiéis”. Estão sujeitos a se equivocarem querendo nos convencer de algo, mais por motivação alheia do que por motivação própria. Agora um ateu sem noção, me poupe. O ateu sem noção não percebe que sofre do mesmo mal de seu companheiro religioso, e não percebe justamente porque desenvolveu demais o intelecto, mas não desenvolveu o tato para entender como as pessoas funcionam (ou preferem funcionar).

Aonde levará a crítica às religiões como se fossem um mal ao mundo, ou dispensáveis? Eu não sei viu, mas acho ainda, que sem as religiões para oferecerem ao povo certos princípios e comportamentos, a sociedade seria “imprópria para o convívio”. Não vamos confundir e ver alguns grupos exaltados como grupos religiosos, porque nesse caso, extrapolam. Assumo aqui religião como um grupo de idéias que promovam a boa convivência entre as pessoas e uma explicação consoladora para as agruras da existência, mesmo que imaginárias.

Minha filosofia de vida me levou a perceber que tudo está certo do jeito que está. Não mexe que vai feder. Por mais que a moral e a religião sejam raízes da hipocrisia social sob a qual vivemos, acredite, é melhor assim. O mecanismo de fingir que certas coisas não existem (e que outras existem) aliviam nossa carga existencial. Então porque criticar ferrenhamente. Há alguma solução melhor?

Muita gente não consegue viver bem sob certos conceitos de vida. Eu sou uma delas. Viver como se o ser humano (ou a primeira ameba a habitar este planeta) tenha surgido espontaneamente do nada, de arranjos moleculares súbitos dos tais aminoácidos imersos sob a sopa primordial, e que ao nada voltaremos um dia, me causa um sentimento de despropósito, niilista. Sem contar todos os sofrimentos e as injustiças do mundo. É preciso ser muito isento e frio para admití-los como parte da natureza, enfim. (E pra falar bem a verdade, não estamos nem aí para as injustiças do mundo, conquanto que não nos atinjam. Você sabe, pimenta no … dos outros é refresco)

Meu modelo de mundo, bastante compartilhado aqui neste site com quem o visita, se deve muito por observação. Como muitos, passei por momentos de sofrimento insuportável durante a adolescência, e esse fato desencadeou em mim uma curiosidade muito grande por entender a vida (não poderia ser de outra forma). Dessa forma, observo forte propósito para a vida humana quando vista sob o viés da evolução, do progresso, do aprendizado constante e infindo, tendo no sofrimento o alicerce para se alcançar estágios pessoais de maior desenvolvimento. Atire a primeira pedra quem nunca saiu fortalecido de uma dificuldade. Como se saem melhor as pessoas que assumem os obstáculos da vida como exercícios para o auto-desenvolvimento!

Sempre digo que uma das provas mais interessantes de algo (o que chamam de Deus) além do que podemos enxergar é a própria matemática. É a verdadeira linguagem universal, a linguagem da natureza, e não foi o homem que a criou. As relações matemáticas sempre existiram na natureza muito antes de o homem habitar este planeta. Ele apenas a descobriu com esforço e estudo, ao longo dos séculos. E me diga, não é sensacional encontrar valores e poder modificar a natureza com certas regrinhas de raciocínio?

Para mim, Deus não é aquele deus originado das crenças monoteístas. A própria onisciência, onipresença e onipotência de Deus, proposta por algumas teologias, sugere que Deus não seja um ser único e delimitado, mas sim, que ele seja TUDO o que nos envolve. Deus é a VIDA que anima todas as células vivas deste mundo. Ou será que se algum cientista pudesse, teoricamente, “montar” uma célula, átomo por átomo, ao final do posicionamento da última partícula, ela, a célula artificial, sairia trocando fluidos com o ambiente e se reproduzindo a torto e a direito? Não né!!!