Um ditado popular que costumo levar a sério é aquele que diz que a língua é o chicote da alma. Por isso confesso sem qualquer constrangimento que tenho um certo receio de publicar textos assim tão questionadores e também por isso nunca é demais dizer que não estou afirmando nada, e que não sei de nada. Apenas brinco com palavras e idéias pra confundir um pouco vossas cabeças 😉 Ok? Sendo assim…

Uma felicidade por alguns sofrimentos

O cliente:

– Quanto custa essa felicidade?

O lojista:

– Dois sofrimentos e mais uma topada no dedinho do pé.

Ainda a respeito da minha última leitura: Embora Chico Xavier tenha se tornado um mito ainda em vida por ter levado o cristianismo ao pé da letra, fica difícil aceitar que alguém possa ter vivido a vida relatada em sua biografia. Entregou sua existência a uma causa. A uma causa que consistia na divulgação dum espiritismo profundamente banhado pela moralidade cristã, na qual o sofrimento é a moeda de troca por uma existência futura (no paraíso, numa vida futura) mais tranquila e feliz. Seus guias espirituais e espíritos que lhe ditavam os livros traziam em suas mensagens um profundo viés cristão da existência.

Durante toda a leitura de sua biografia, me via perguntando se os espíritos também não podem estar equivocados acerca de seus valores morais (sem perder de vista que tal pensamento poderia não passar de uma IMENSA petulância de minha parte). Será que Chico Xavier não viveu uma pontinha de frustração ao morrer? Será que do lado de lá não lhe foi possível visualizar que talvez tivesse falhado consigo mesmo ao renunciar tanto de sua própria vida em favor de uma causa que também pode ter suas falhas? Já não renunciara o bastante? Os valores cristãos são perfeitos em sua plenitude?

Pois por outro lado, certamente é melhor fazer qualquer coisa possível, do que não fazer nada.

***

As mensagens espíritas afirmam que a vida espiritual do indivíduo, após a morte, continua a mesmíssima realidade que ele presenciava na Terra. Um idiota vivo, depois de morto, continua um espírito idiota. E é lamentável saber que a estupidez ultrapassa as fronteiras da morte. A respeito do suicídio, dizem que é um ato infrutífero, afinal, ninguém morre, a vida continua. Se você está atormentado aqui na terra, após se matar, continuará como um morto atormentado. Terá que resolver seus problemas de um jeito ou de outro, pois no fim das contas, não há como fugir deles.

Pelo pouco que entendi a respeito da tal cidade espiritual Nosso Lar, de onde viriam seus guias espirituais – ela foi fundada no séc. XV ou XIV por… portugueses! À época profundamente católicos. Bem ao estilo filosofia de boteco eu questionaria: Será que o sistema moral adotado pela tal cidade não pode estar ultrapassado, a despeito de toda aquela realidade espiritual sob a qual ela se situa? Ora, se tudo continua na morte como era em terra, mudando apenas a constituição elementar das coisas, nada garante que as cidades espirituais não tenham tantos problemas quanto as nossas, incluindo aí problemas de ordem ética e moral.

Quanta bobagem, né? Vai ver estou aqui implorando pra ir pro “inferno” e não sei 😉

Por quê esse questionamento bobo? Porque mesmo aqui na Terra, especificamente no Brasil, o próprio espiritismo, tão sagrado para Chico Xavier, criou seus dissidentes, sendo seu grande parceiro, Waldo Vieira, o primeiro. Que o diga a família Gasparetto. Lembro de um comentário de Luiz Gasparetto, ainda em seu antigo programa Encontro Marcado, a respeito de seu afastamento da comunidade espírita brasileira devido à sua discordância em relação ao valores judaico-cristãos sobre os quais o espiritismo brasileiro se embasava na divulgação de sua doutrina. Pecado, culpa, castigo, dívidas, renúncia, coitadismo, caridade assistencialista, enfim, eram modos de ver a vida com as quais Gasparetto não concordava.

Nem eu!

Ainda aposto na vida, na alegria e na compreensão de que somos seres humanos originados em alguma fonte divina, para os quais não tem cabimento conviver com valores equivocados e antiquados como pecado, culpa, castigo e a crença numa felicidade SEMPRE futura, seja no paraíso, seja numa próxima vida.

Aposto mais na noção de que erramos sim, e erraremos muito. E mais: de que é absolutamente normal e necessário errar para aprendermos de fato o que precisamos para progredir, sem qualquer culpa. A cada erro recomeçaremos nossa tarefa, indefinidamente, até chegarmos à excelência. E o principal e mais difícil de enxergar: Que a felicidade está no caminho no qual vamos errando, refazendo, corrigindo, aprendendo, e crescendo. E não num paraíso entediante e cheio de gente com cara de paisagem 😉