Acho que todos nós, que assumimos algumas responsabilidades ao longo da vida, acabamos cedo ou tarde sentindo vontade de “sumir”, de fugir para uma ilha deserta ou, como costumo brincar, comprar uma cabaninha isolada no alto da montanha.

O peso da responsabilidade torna a ideia da fuga algo convidativa, por mais que nunca passe de uma ideia. Lembrando que essa montoeira de distrações que a sociedade nos oferece tem muito de fuga: fumo, bebidas, comidas, TV, facebook, esportes, etc. Já fui muito crítico a tudo isso, hoje, vejo que feliz da humanidade que tem essas coisas pra dar aquela “fugidinha” do peso da existência.

Pois bem.

No âmbito espiritualista, há uma distinção, que me parece equivocada, que distingui e exclui o sagrado do profano. Como se todo progresso moral e espiritual só se pudesse fazer em contato com o sagrado, e como se o profano fosse “lixo”, algo dispensável que deve ser evitado o tanto quanto possível.

Mas não é assim que a vida funciona. O contato com o profano, isto é, a assunção da responsabilidade, o enfrentamento do dia-a-dia entediante e enclausurante, são a ARENA do sagrado. O mundo profano, dia após dia, constitui o palco onde demonstramos se estamos conseguindo nos sacralizar, se estamos aprendendo as lições sagradas, e se estamos conseguindo coloca-las em prática.

No silêncio forma-se o talento. Mas o caráter, no turbilhão do mundo. Goethe

Estudantes não fazem testes e provas para que o professor possa saber se estão progredindo na obtenção do conhecimento? Pois bem, a vida se constitui de uma sucessão de testes e provas, através da convivência com os outros, para Deus saber se estamos progredindo na direção da evolução moral e espiritual.

Fugir é a pior decisão que podemos tomar na vida. Ela é, literalmente, um atraso de vida. É no enfrentamento, na persistência, e na dedicação à superação que mostramos o nosso valor, e galgamos os degraus mais altos da existência.