Não é novidade para Você que possa estar acompanhando um ou outro texto meu, uma certa surpresa de minha parte ao constatar, pela internet afora, muita gente que se diz descrente, ateu, etc.

Uma coisa é certa e indubitável: Quanto mais a gente lê, e se informa, melhor vai ficando nosso discernimento a respeito do que é válido e do que não é válido na vida. Bom, alguns pobres coitados que se deixam inebriar pelo orgulho intelectual, nem o discernimento realmente conseguem 😉 Afinal não entendem a diferença fundamental entre CONHECIMENTO e SABEDORIA.

Portanto vejo que o verdadeiro discernimento não é estritamente afirmativo, nem estritamente dubitativo. O verdadeiro discernimento é aquele que nos permite enxergar-nos e por consequência, é aquele que nos leva à constatação da limitação de nossa compreensão.

Um exemplo? Veja esta citação retirada do livro O Ser Quântico:

A mente talvez seja simplesmente pequena demais para compreender a mente. Colin McGinn, de Oxford

É ou não é uma constatação sábia e sensata? Nesse sentido, é sempre bom relembrar Sócrates, que só sabia que nada sabia. Se Sócrates em sua sabedoria já aludia que não valia a pena nos colocarmos na posição de sabedores, porque é que alguns infelizes afirmam certas coisas categoricamente, como por exemplo, que “Deus não existe?”

Como eu disse, o conhecimento nos esclarece e nos permite discernir o que vale a pena assumir e o que não vale. Dessa forma, é evidente que todo conteúdo religioso em si, para a real elevação de nosso espírito, deve ser “peneirado” e dele retirado tão somente a essência, as grandes verdades universais, etc. A essa altura do campeonato, afirmar que não existe um senhor de barbas brancas sentado em seu trono sobre as nuvens (ou qualquer outra idéia de uma divindade antropomórfica) beira a “ingenuidade ululante”. Qualquer existência “divina”, tenha certeza, foge distante das mais complexas idéias que possamos fazer delas.

Contudo, a afirmação simplista “Deus existe” é bem passível de ser questionada. Alguém envaidecido e desprevenido pode revidar: “Você já o viu?”. O sujeito mais espirituoso poderia responder: Bem, você está diante dele!!!

Brincadeiras à parte, entretanto, o que “me força” a continuar “preferindo” acreditar na existência de algo além do que nos é sondável, são situações sutis percebidas, por exemplo, no diálogo interno de um “grande” espírito de nosso tempo:

Para que tudo isso ?

José Saramago, nesta entrevista, se diz comunista e “ateu” entre outras assunções idealistas. E finaliza sua entrevista assim, após questionado sobre qual pergunta não conseguiu responder até hoje:

Saramago : “A pergunta que não consigo responder é muito simples : Para quê ? Para que tudo isso ? Vou morrer sem encontrar a resposta. Creio que ninguém nunca encontrou”.

É exatamente essa a constatação mor que me força a manter a crença num plano maior para isso tudo que nos rodeia. Mesmo sendo o ateísmo a decisão mais razoável dada a impossibilidade de a ciência constatar esse “algo a mais” além dessa nossa realidade física. Essa mesma realidade que quando observada sob um viés descontaminado do senso de normalidade, em que nos vemos imersos em uma imensa sociedade de seres auto-organizados, inteligentes e conscientes de si, relacionando-se economicamente, politicamente, culturalmente, vivendo ao redor de um globo que corre suspenso no universo, enfim, essa irrefutável realidade só me faz convencer que tudo segue uma linha de acontecimentos sucessivos inteligentemente ordenados.

Para quê tudo isso? Além da idéia da evolução pessoal e espiritual que pode ser constatada por qualquer um que já passou por grandes dificuldades e viu-se fortalecido após superá-las, eu não saberia encontrar outra resposta, entretanto, não posso crer que TUDO ISSO seja resultado de acidentes ao longo da história universal.