Desde dia 8 de setembro, me tornei um parceiro Uber.

Nesses três meses, como qualquer outro motorista – ou, como diz a Uber: parceiro uber – já amei e já odiei o aplicativo.

Me vi obrigado a apelar para esta atividade, porque venho vivendo uma crise profissional – situação popularmente conhecida como “não saber o que fazer da vida” – que já se arrasta por vários anos.

Ora, tendo um carro médio confortável e já tendo sido taxista por seis meses aos 19 anos, achei que poderia aliviar minhas finanças por alguns meses com o Uber até me posicionar em alguma atividade mais a ver comigo.

Agora, vem aquela questão que eu sei que você quer saber. Vale a pena trabalhar para o Uber?

E vem também aquela resposta que não queremos ouvir: Depende de muitos fatores.

De modo geral, para mim, só vale a pena temporariamente. Realmente dá para tirar um dinheirinho, e desafogar as finanças.

Mas não dá para ganhar horrores de dinheiro, como dizem por aí… a não ser que:

Você tenha um carro 1.0, a gás GNV, seja jovem, não seja casado, e esteja disposto a virar todas as noites das 17 até as 9 horas da manhã do dia seguinte, como sei que uns doidos fazem.

Porque EU, não tenho mais esta disposição. Trabalho das 13hs à meia noite e já é demais pra mim, já não tenho tempo pra fazer outras coisas, e o dinheiro que tenho conseguido apenas complementa minha renda.

Uma das maiores vantagens do UBER para os passageiros, o preço bem barato e acessível, acaba se tornando um estorvo para os motoristas. Aqui na minha região, a menor corrida que o Uber aceita é de 6,75 reais, sobrando para o motorista míseros 4,50 reais. Tirando o meio litro de gasolina que normalmente se gasta nessas corridas, sobra 2,50 para nós destas corridas.

DOIS REAIS E CINQUENTA CENTAVOS. <— Marque bem este valor.

É claro que a maioria das corridas dá um pouco mais que isso, mas não muito mais. Algumas poucas corridas intermunicipais são nossa alegria, porque engordam a renda do dia, mas são uns 20% de todas as corridas.

As malditas estrelinhas

A esta altura dos meus 37 anos de idade, me tornei um sujeito birrento com algumas coisas e impaciente com outras. No Uber, o que mais me pega com minha impaciência é este sistema de avaliação dos motoristas, promovido pelo aplicativo, realizada pelos passageiros.

A cada corrida concluída, o aplicativo convida o passageiro a avaliar a corrida com uma nota que vai de uma a cinco estrelinhas. A maioria das avaliações que recebo são cinco estrelas, cerca de 89%. Tá bom, é verdade. Se somar minhas avaliações entre cinco e quatro estrelas, vai a 95%. Nada mal.

Se eu fosse um sujeito desprendido e irreverente, focaria nesses 95% e tocaria a vida despreocupado.

Mas não sou. Porque tem todo um contexto por trás que os passageiros não veem. Tem uns fulanos na verdade, que tem a desfaçatez de avaliar com 2 ou 3 estrelinhas em corridas absolutamente normais. Isso me deixa puto da vida, porque:

Eles têm à disposição um carro de porte médio, bonito, confortável e limpo e que é PARTICULAR, é MEU. Têm à disposição balinhas, carregadores para celular e um motorista particular, no caso EU, fazendo o possível para ser educado e gentil, sendo atencioso quando o passageiro quer conversar, e discreto quando o passageiro quer ficar quieto. Este motorista, no caso, EU, pega o sujeito onde quer, e leva para onde quer, com o máximo de segurança e prudência no trânsito, muitas vezes para não ganhar nem 10 reais, vulgo dérreau, por corrida na qual, muitas vezes, vão até 4 pessoas.

Mas por causa de um deslize qualquer, irrelevante no contexto geral das coisas, o fulano decide dar UMA estrela para nós (esse problema é generalizado entre os motoristas), o que abaixa nossa nota e pode até impedir-nos de continuar trabalhando.

Vamos falar a verdade: só para entrar no MEU carro, disponibilizado para levar o fulano de onde quer, para onde quer, eu merecia no mínimo DEZ estrelinhas, se possível fosse.

Essa gente é muito sem noção, se acham reizinhos (ou rainhazinhas) e nós, seus serviçais…

…às vezes por 2,50 reais.

Passageiros sem noção

Acredito que a maioria das minhas avaliações de uma ou duas estrelinhas, se deve à demora que levo para encontrar o passageiro, dando às vezes 2 ou 3 voltas no quarteirão, porque os folgados nos chamam, mas só resolvem descer de seus apartamentos quando chegamos. Entretanto, boa parte dos lugares nos centros das cidades não permitem estacionamento fácil, sendo proibido estacionar em qualquer lugar, obrigando-nos a ficar dando volta no quarteirão ou a estacionar num lugar onde é proibido, arriscando levar multa…

…às vezes por 2,50 reais.

Seja um passageiro 5 estrelas, você também

Algumas dicas que eu dou para quem é passageiro:

1 – Solicite um carro e acompanhe seu trajeto no aplicativo. Assim que ele estiver se aproximando, já espere na calçada, em lugar visível e, mais importante, num lugar onde seja possível estacionar com certa tranquilidade e segurança. Ganha nossa consideração quem já se posiciona no lado da via para onde a corrida seguirá rumo ao seu destino.

2 – Há passageiros tímidos e quietos, eu sei, para quem iniciar e manter uma conversa é um verdadeiro desafio pessoal. Já fui assim. Mas se lhe for possível, manter uma conversa amena durante o trajeto torna o clima mais leve. Andar uma viagem INTEIRA olhando no celular ou quieto como uma múmia, como se fossem dois estranhos no carro (por mais que, de fato, sejam dois estranhos), não é a melhor das opções.

3 – Uber é serviço para passageiros, também conhecido como gente, ou pessoas. Fazer frete com Uber não é legal. Já me aconteceu duas vezes e foram péssimas experiências. Para transportar suas tranqueiras, contrate o serviço e o veículo correto.

Conclusão

Só por pegar o passageiro onde quer, levar onde quer, em carro particular, às vezes com balinha, aguinha, ar-condicionado, gasolina o olho da cara, às vezes a corrida por menos de dérreau, e ainda ter de ficar quieto porque o passageiro Reizinho quer silêncio, todo motorista merece não 5, mas 5 milhões de estrelinhas mentais enviadas pelo passageiro com toda a força de seu coração, cintilando e caindo em seus caminhos espirituais…

Tem que ironizar pra não chorar.