Quando se discute gostos, no fim sempre aparece aquele sujeito com qualidades conciliadoras lembrando aquelas máximas populares como “gosto não se discute” ou “gosto é igual __, cada um tem o seu” 😉

Sim, gosto não se discute e cada um tem o seu. Porém você deve saber que quanto mais refinado for o seu gosto, mais você sofrerá nesse mundo muitas vezes intransigente. Quanto mais refinada uma pessoa, mais difícil será para ela se agradar num mundo onde o mau gosto predomina.

Quanto mais refinado é alguém, mais infeliz ele é.
Anton Pavlovitch Tchékhov

Pior do que ter um gosto restrito, é se orgulhar disso. Aliás, se orgulhar de qualquer coisa lhe imprime um  inevitável tom meio besta. Se orgulhar é sempre desnecessário. Se for de seus gostos pessoais então…

Onde quero chegar? Numa observação que me é recorrente. Normalmente as pessoas mais bem sucedidas são aquelas que tem um amplo gosto sobre as coisas e vêem tudo como aceitável. São muito tolerantes à diversidade e às diferenças. Imagine se o Jô Soares não gostasse de pagode – e talvez não goste mesmo – e batesse o pé não querendo entrevistar nenhuma banda de pagode. Imagine se o Zeca Camargo não gostasse de rock de jeito nenhum e tivesse que entrevistar – como teve – o Dinho Ouro Preto do Capital Inicial? E citando um exemplo mais específico. Se o Interney – o Edney Silva – um dos blogueiros mais antigos e conhecidos da blogosfera brasileira batesse o pé e não quisesse saber de jeito nenhum do twitter? “Twitter? Que por*a é essa? Não quero saber disso não, meu negócio é BLOG”. Seria ridículo mesmo, porque se ele não adotasse um ponto de vista curioso e tolerante a respeito das coisas e novidades – e já vi suas opiniões sobre muitas outras coisas, todas muito ABERTAS – não teria escrito um ótimo texto como este (a página foi removida) sobre o twitter,  ainda no início de 2008, quando muitos twiteiros de hoje nem sonhavam com algo parecido com o twitter.

Entendo que o preconceito diante do que é diferente e diante de novidades é quase um recurso de sobrevivência e auto-preservação. Porém quando seus gostos são muito restritos e você rejeita tudo sem conhecer minimamente o que rejeita, com base no preconceito, só tem a perder. Perde em conhecimento, em experiência e o pior, perde chances de encontrar muitas coisas realmente boas, desde que vistas com tolerância e abertura.

Muitas vezes descobre-se que aquilo que se despreza vale mais do que aquilo que se exalta.
Fedro

Música

A música é um tema sob o qual o preconceito aflora. No Brasil especificamente, vejo uma divisão nítida: O público cool, supostamente sofisticado, manifestando preferência por músicas internacionais e por estilos próximos ao rock, pop, rhythm and blues, dance, lounge, etc. E o público mais popular, maioria, manifestando preferência por temais mais regionais, como samba e sertanejo.

Creio que a maioria não está nem aí para estilos diferentes. Entretanto há uma minoria cool que não só não gosta dos estilos populares, como estranha o fato de uma maioria gostar, e ainda fazem questão de alardar seus próprios gostos como superiores. Mas tanta inteligência não os ajuda a perceber o essencial. Há músicas para se apreciar e há músicas com as quais se divertir. O que o povo procura nos seus estilos cada vez mais animados não é apreciação culta, e sim diversão.

Estilos populares de forma geral são para diversão. Para se jogar na gandaia e esquecer da vida. Por outro lado, até meus 19,20 anos, só gostava de rock, de forma bem restrita. Minha banda preferida era o Guns N’ Roses, cujo som extraordinário expressava agressividade, revolta, displicência, atrevimento… o que não tem nada a ver com o que você sente com um copo de caipirinha na mão, seu amor do lado, amigos ou família animados em volta, todos ao som de E daí? de Guilherme e Santiago 🙂

Particularmente tenho a opinião de que o estilo que eu mais gosto é o que melhor se harmoniza com a ocasião. De modo que gosto de tudo. Não vejo problema de ouvir sertanejo nas reuniões de família, de ouvir samba (de verdade) num show, de ouvir pop e rock sozinho, ou ainda, de ouvir música clássica em momentos de maior enlevo.

Repito que acho que sentir orgulho é idiota em qualquer grau. O destino de qualquer orgulho é se ver despedaçado no chão. Contudo, se sinto orgulho de algo, é de conseguir manter uma postura aberta assim com as coisas da vida e saber me adaptar em qualquer lugar, sob qualquer ocasião, compreendendo que tudo é – de alguma forma – válido.