Eu definitivamente jamais vou me tornar um intelectual. Não que o queira, mesmo porque, como dito, não conseguiria. Por dois motivos principais e outros menores:

Primeiro: Percebo um certo despropósito nessa conversarada intelectual toda. Meras conversas de boteco sobre sociologia, humanismo, política, miséria, capital, esquerda, direita não resolvem NADA. Tanto se discute e alguém aí me diz: O que é que mudou assim de relevante nos últimos tempos? O capital segue sempre mais poderoso, o proletariado continua sendo… proletariado. Pra sair da miséria, por mais que governos ajudem, o sujeito vai ter que se mexer, estudar, trabalhar, afinal, convenhamos, ninguém vive dignamente só com uma bolsa esmola qualquer. E sociólogos tentam entender as relações humanas e mal conseguem entender a si mesmos. A única discussão válida é aquela que resulta diretamente em uma ação prática de melhoria na vida.

Segundo: A literatura erudita e mesmo a contemporânea me despertam pouquíssimo interesse, com as clássicas excessões, como Oscar Wilde, por exemplo. Por mais romântico que seja um livro, sinto que ele deve me ensinar algo de verdadeiro e real. Se isso não ocorrer, se o livro for uma sequência de fatos medíocres (como uma novela do Manoel Carlos) do tipo que todos nós vivenciamos, incluindo aí eu e minha vida pra lá de medíocre, então simplesmente perdi tempo com aquela leitura. E mesmo alguns livros mais elaborados, como os dos grandes pensadores, do tipo que ficam remoendo peculiaridades de aspectos parciais do foco do livro. O nosso gosto depende diretamente do que nos inspira. O que me inspira é entender – e não complicar, ou fantasiar, sem que haja um senso prático.

Mas eu cansei de ler… mesmo!

E certos assuntos definitivamente se esgotam. Mercado financeiro, por exemplo: Comprei o livro Investidor Inteligente, do Benjamin Graham e não passei do quarto capítulo. Além do livro ser em si exteeeeeeeenso, detalhista, minuncioso, e escrito em meados do século passado, toda a sua essência eu já encontrei em dois ou três livros lidos anteriormente sobre análise fundamentalista. Descobri que o mercado financeiro é meio como o comércio. Sua essência é muito simples.

Outro assunto que pra mim está esgotado é essa conversa toda de pensamento positivo, lei da atração, etc. Já li tudo que poderia, já aprendi tudo que precisava, absorvi o que consegui absorver, agora que se pratique! Estou lendo um livro de Norman Vincent Peale, chamado O Poder do Pensamento Positivo e vou te dizer: O livro em si é ótimo. Contudo, apesar do livro ser muito bom, estou lendo arrastado.

Também tenho na cabeceira dois livros de filosofia que também não me descem. Quando você nunca se importou em utilizar somente a razão como balizamento de suas crenças, assimilando sistemas imaginários espirituais 🙂 para compreender o mundo, você não consegue mais “acompanhar” sistemas filosóficos que se atém tão somente ao que é observável pelos cinco sentidos. Eles acabam lhe parecendo limitados por mais que expressem o ápice do pensamento contemporâneo.

Definitivamente não nasci pra intelectual, literato, filósofo, etc. Gosto de expandir meus horizontes (mesmo que seja com sistemas imaginários 😉 ) contudo, depois de certo ponto, quando você elucida certos pontos críticos na vida, você meio que se satisfaz, apazígua as ânsias, afinal de contas, já reconheceu (parte) do território, e já entende melhor seus “habitantes”, melhor às vezes do que os próprios compreendem a si mesmos.

Isso não é arrogância de quem acha que já sabe tudo. Talvez seja uma pausa, um descanso para a mente. Uma necessidade de se dar tempo ao tempo, mesmo quando não se vive uma crise explícita. Hoje sinto falta mesmo de “construir” algo. De criar, fazer, melhorar, preferencialmente “coisas” materiais. Trabalhar com sites, blogs e escrita é bom, mas é tudo muito virtual, imaterial. Nesse mundo as coisas materiais simbolizam mais valor e, apesar de estarmos numa era digital, é algo do qual tenho sentido certa falta ultimamente. Por isso cansei de ler. Preciso transformar essa leitura toda em algo de valor.