De Setembro de 1999.

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Talvez um dia…
Eu sinta intensa sua atração; Tipo o gosto das uvas,
no outono, com champagne, folhas secas e dúvidas
Pelos papéis envelhecidos nas estantes escuras,
sabe a minha tristeza, a essência que procuras…
Sob cinza tempestade, da cor de seus olhos perdidos
Frio aconchego; Não é tristeza tua, mas nobreza pura
Estás na essência dos ventos por avenidas e ruas
Pois é maior tua alma nos reflexos de seu olhar,
que o sopro gelado daquelas longínquas chuvas

Talvez um dia…
…No alívio da responsabilidade eu saia correndo
Seria ao longe visão esperançosamente desejada
Toda magia feminina num sorriso estaria vendo
Aparência em chamas impetuosamente prateadas
Seria minha amiga, que deixa esta vida rosada
É a cor dos cabelos ondulados daquela moça
Da castanha, que remonta o receio de se deixar amá-la
Por haver na casca tão misteriosa força,
onde os fracos são impedidos de saboreá-la

Sim, talvez um dia…
…no raiar da alvorada estejam meus sonhos,
desejos e delírios cravados nas paredes de rocha
Reencontraria minha amiga, o mais lindo anjo,
e voltaria ao princípio, como flor que se fecha
Em complexos celestiais, perfeitos pelo luxo,
com varandas e auroras diante da janela
Ou em monumentos góticos, vazios, altos e escuros,
Sabe ainda sob reflexões, sob sensos profundos…
lembrando tempos empoeirados que se atravessa

Talvez um dia…
…eu seja feliz… seja inteligente, muito se diz,
talvez hajam sorrisos, carros, casas e veleiros
Hajam motivos ocultos; Como a lua em eclipse,
e haja o que não há, sentidos, caos, caras e passeios
Talvez naquele dia… houvesse um toque, ou deslize
Reencontro das maiores distâncias por idéias e dinheiro
Nas montanhas, ares frescos, chalés e jardins
Navegando pelo mar, aos silêncios, num cruzeiro
Méritos insondáveis; Não existirão fácil assim…

Talvez um dia…
…minha amiga me perdoe, me desculpe, me entenda,
me compreenda, me veja, me ajude
me cumprimente, me felicite, me agrade
me agradeça, me acompanhe, me procure
me ouça, me fale, me abrace
Talvez naquele dia ela me diga que chora…
Suas lágrimas; seriam claras, como algodão
Com soluços tão dourados quanto um perdão
Magia púrpura, mística das tardes de verão

Talvez um dia…
Abraçarei minha amiga, com amor e delicado aperto
Em volta um campo, ou mar, ou céu de estrelas,
nas mãos lhe darei… à noite, o calor, instante de acerto
…agressivos espinhos, protegendo a rosa vermelha
Assim somos deuses de nossas convicções feridas
Esqueça… viajemos assim como estrelas, soltas e faceiras
e viajam as pessoas, perdidas e decididas
E viajam os ventos desordenando roseiras
E caem as chuvas, destruindo fogueiras

Quem sabe, talvez um dia…
…andarei com minha amiga, a passos lentos,
cortejando-a delicadamente por suas mãos
Por areias morenas, fossem os últimos momentos
Todo o mar naquele olhar, um mar de paixão
Ondas em águas alvas, calmas como o vento…
Beirando mil sorrisos, rasos apreços, profundos desejos
Dedicando-me ao lado; Ao ser de cativante imagem
Causando-me à vida instigante coragem
Em gestos… e no coração por fascinantes passagens

Talvez um dia…
Sim, talvez um dia, reencontre minha doce amiga.
Escorreriam da minha feição sorrisos em vão de alegria
Quero que um dia, ao menos um dia, passeemos juntos na beira do mar, num fim de tarde…
Conversaríamos, apreciaríamos as luzes quentes do horizonte; Tardias…
Então sentaríamos lado a lado nas areias…
Neste momento, com franqueza nos gestos, e sinceridade no semblante,
olharei para minha amiga
e direi que a amo.

/ Ronaud Pereira /

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